domingo, 31 de outubro de 2010

Carro eléctrico - a próxima hemorragia

Há tempos reflectia aqui sobre a aldrabice tecnológica fundamentalista de que José Sócrates tem sido um dos maiores promotores. À boleia do politicamente correcto em que se tornou, no mundo ocidental, a luta contra o "poluente" CO2, o governo português embalou na atribuição de toda uma série de subsídios escandalosos às novas energias renováveis sem qualquer critério económico-financeiro e que já estamos a pagar com língua de palmo.

Um dos primeiros carros eléctricos
O carro eléctrico é mais uma demonstração do deslumbramento tecnológico socratino. À custa de subsídios públicos, de que se desconhece o real montante, preparamo-nos para, ainda na fase piloto (a terminar em Julho de 2010), ter uma rede de 1300 pontos de alimentação em 25 cidades! Em cima disto mantém-se, para os primeiros 5000 veículos vendidos, o subsídio unitário de 5000 euros (que pode chegar a 6500€ em caso de troca de um veículo tradicional para abate) a que acresce ainda o benefício de dedução à colecta de 803€, em sede de IRS, pela aquisição de um veículo eléctrico.

Isto é: quando o país está numa situação de pré-catástrofe financeira como não se conhecia há 80 anos e a pedir sacrifícios gigantescos aos portugueses, o governo prepara-se para gastar, para os primeiros 5000 veículos eléctricos a quantia de 36,5 milhões de euros (para além do ISV e do IUC não cobrados caso esses veículos funcionassem a combustível fóssil)! Se a coisa é, já de si, escandalosa o que dizer quando se sabe que um carro como o o Nissan Leaf  (modelo com bateria incluída) custará, após subsídios, não menos de 30 mil euros? Ou seja, que quem poderá virá a usufruir desses subsídios são exactamente aqueles que mais capacidade económica detêm!

E para quê esta fogueira de vaidades quando estudo após estudo (saiu agora o da J.D. Power) se aponta para que, num horizonte de 10 anos, apenas 7% dos veículos vendidos no mundo sejam veículos eléctricos ou hibrídos/eléctricos("plug-in") como o Chevrolet Volt? E a razão dessa baixa estimativa radica na simples razão que, mesmo mantendo os enormes subsídios actuais o custo de aquisição e de operação, não se prevê que neste horizonte eles sejam competitivos com um carro de motor de combustão interna. E isto para não falar já do problema da sua baixa autonomia ligada à actual tecnologia das baterias e daquilo que a religião "verde" ominosamente "esquece" - o que fazer das baterias inutilizadas feitas de materiais altamente poluentes...

Ver artigo, a propósito, no Washington Post.

Declarações para memória futura

A ler, no Corta-fitas.

Elvis Presley - Love Me Tender

Propostas de redução da despesa pública - IV


O Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) é uma monstruosa "plataforma" de distribuição de dinheiros públicos que se estende a todo o país, seja na vertente "emprego" seja na de "formação profissional". No essencial, a primeira valência distribui, através dos "Centros de Emprego" (87), subsídios de desemprego (do orçamento da Segurança Social) enquanto a segunda distribui... "subsídios" à formação profissional (de fundos comunitários e do orçamento de estado) através dos "Centros de Formação Profissional" (32 sob "gestão directa" e 27 sob "gestão participada").

A minha proposta passa pela privatização de toda a rede de centros de formação profissional. Os candidatos naturais, diria, são as Associações Industriais, Comerciais ou de Serviços da respectiva área geográfica, mas não descartaria a forte possibilidade de surgirem candidatos à exploração de cada centro - com fins lucrativos -, até por parte de actuais colaboradores que se queiram aventurar no empreendorismo e/ou na gestão de uma escola sua.

sábado, 30 de outubro de 2010

Reflexões sobre Educação - IV

«Man - every man - is an end in himself, not the means to the ends of others. He must exist for his own sake, neither sacrificing himself to others nor sacrificing others to himself.»
O autor deste blog revê-se, palavra por palavra, na citação em epígrafe da autoria de Ayn Rand, pelo que não pode deixar de ser frontalmente contra o modelo indiferenciador e igualitário e, por isso, promotor da mediocridade, comandado pelo "mamute" da 5 de Outubro com a sempre prestável "assessoria" dos sindicatos de professores já que a força destes últimos depende, em primeira e última instância, do monstro centralizador que é o Ministério da Educação (ME).

Independentemente de uma discussão mais aprofundada sobre o tema, que conto promover em futuros posts, desde já afirmo a minha tese, escorada no plano filosófico e ético, de que o caminho de solução dos problemas da Educação passa pela implosão do ME. Até lá, qualquer iniciativa que vise promover a diversidade e a perda de poder do monstro da 5 de Outubro e correlativos apêndices (sindicatos de professores) é de saudar e estimular.

Nesse sentido, gostava de ajudar a amplificar as palavras de Filinto Lima, director do Agrupamento de Escolas Dr. Costa Matos, Vila Nova de Gaia, hoje no Público, em artigo intitulado Ranking da hipocrisia (realces meus):

«Quando o ME conceder efectiva autonomia às escolas que passe, entre outras necessidades, pela contratação dos seus docentes e pela flexibilização do currículo, quando deixar de  legislar por tudo e por nada (parar de legislar durante quatro anos deveria ser uma meta do ME) e der sinais efectivos de terminar com o imenso trabalho burocrático com que todos os dias os professores se confrontam nas escolas, começarão a ser dados passos firmes para o sucesso escolar, apesar da escola pública não escolher os seus alunos.»

Para depois das emoções

Imagem de Phil Rowe
O folhetim OE 2011 terminou com o fim de resto há muito anunciado. Depois de semanas de pelejo que já estavam a causar-me um enjoo profundo, chega o tempo de fazer um primeiro balanço da performance dos contendores.

Filipe Nunes Vicente, em Temos Líder, resume a coisa da seguinte forma:
«Passos Coelho ganhou a co-autoria do documento ( o povo é grato e não esquecerá), um cabaz alimentar e uma comissão técnica.
O governo só garantiu a subida do IVA e o aperto às empresas ( a taxa social única fica intacta)».
Já Luís Naves, no Albergue Espanhol, em A teoria da farsa ou a farsa da teoria, num post muito longo, termina da seguinte forma:
«Se a opinião pública discute hoje as consequências do orçamento na vida de cada um, isso deve-se à coragem que o PSD demonstrou nesta crise, contra todas as pressões. Isto não foi uma farsa, foi o início de uma mudança. Mas abrimos a televisão, lemos os jornais e os blogues, e esta será uma interpretação muito ausente.»
Prefiro, de longe, a singeleza de Filipe Nunes Vicente. Na forma e no conteúdo.

Adenda: disponível o Protocolo de Entendimento entre o Governo e o PSD.

Carlos Santana - Black Magic Woman

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Défices há muitos

Há dias, no blog Ecotretas, muito apropriadamente sob a epígrafe "O buraco sem fim," sublinhava-se o facto de várias figuras do PSD terem relações profissionais muito estreitas com o ecossistema das novas renováveis para "justificar" que a sugestão do blogger Ecotretas, no âmbito da iniciativa "Cortar despesas" que abordei aqui, no sentido de eliminar as tarifas feed-in, não ter sido contemplada no relatório síntese daquela iniciativa.

Não sei, naturalmente, se a razão aventada é ou não válida (embora suspeite que sim). O que sei é que há quase uma unanimidade na opinião publicada no sentido de aceitar a bondade de carácter das novas renováveis (eólica e solar) e, implicitamente, da justeza dos generosos subsídios concedidos, exactamente através das tarifas feed-in que Ecotretas sugeria, e bem, extinguir. Nomeadamente por parte de economistas, é estranhíssimo que, para além de Mira Amaral, só tenha visto o Prof. Campos e Cunha escrever, incomodado, como faz hoje no Público, que «(...) depois foi a moda, politicamente correcta, das renováveis, com especial destaque para os últimos 5 anos.  A aposta nas energias alternativas - vento e sol - saíu caríssima às famílias e às empresas, que já estão a pagar a factura, com perdas acrescidas de bem-estar e competitividade». Nem mais.

Uff!


Pronto, vá lá. Já podem respirar normalmente.

Reflexões sobre Educação - III

Uma das coisas que sempre achei aberrantes foi a "leva" de novas disciplinas que passaram a fazer parte dos currículos dos ensinos básico e secundário no pós 25 de Abril.

Recordo-me, entre muitas, de "frescuras" como "Relações Públicas" ou "Noções de Administração Pública" que felizmente já foram entretanto extintas. Mas, falando de inutilidades, as disciplinas de "Área Projecto" e "Estudo Acompanhado", levavam a palma. Ora li, já há uns dias, que o mamute que mora lá pela 5 de Outubro se prepara agora para corrigir estes últimos dislates decretando a sua anunciada extinção. A grande reacção dos sindicatos dos professores, compreensível, foi a preocupação com os cerca de 5000 horários tornados dispensáveis. Nada lhes ouvi sobre os benefícios do alívio da carga horária dos miúdos ou, quiçá, da sugestão de reforço da carga lectiva de disciplinas como o Português ou a Matemática.

Enjoo

Coreografias orçamentais: Take 36Take 37

A ler: Alta Política, de Filipe Nunes Vicente

Creedence Clearwater Revival - Have you ever seen the rain?


A sugestão de RioD'oiro.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Sinais?

Uma grande sondagem da Universidade Católica para a RTP coloca o Partido Social Democrata com 40% das intenções de voto. O PS cai para os 26%. Quanto à avaliação do Governo, oito em cada dez inquiridos dão nota negativa.

Será que estava enganado? Quem dera.

"Economia numa única lição" em 12 videos - II


Parte 7 - Mark Thornton

Parte 8 - Peter G. Klein

Parte 9 - Jörg Guido Hülsmann

Parte 10 - George Reisman

Parte 11 - Joseph T. Salerno

Parte 12 - Roger W. Garrison

"Economia numa única lição" em 12 videos - I


Parte 1 - Walter Block

Parte 2 - Thomas J. DiLorenzo

Parte 3 - Jeffrey M. Herbener

Parte 4 - Thomas E. Woods, Jr.

Parte 5 - Robert P. Murphy

Parte 6 - Walter Block

Perceber o que nos afecta

«The art of economics consists of looking not merely at the immediate but at the longer effects of any act or policy; it consists in tracing the consequences of that policy not merely for one group but for all groups- Henry Hazlitt in "Economics in One Lesson"

Henry Hazlitt
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A citação que transcrevo é suficientemente clara para que imediatamente se perceba que a perspectiva da disciplina de Economia por parte de Henry Hazlitt se opõe firmemente à máxima keynesiana de que «no longo prazo estamos todos mortos». Numa altura em que estamos a sentir que o céu nos está a cair em cima, ao fim de décadas de doses sempre crescentes de políticas oportunistas (de "curto prazo") e de favorecimento de grupos em desfavor de toda a comunidade, parece-me muito oportuno conhecer um dos livros mais famosos de sempre sobre Economia.

Num próximo post, disponibilizarei links para videos onde, economistas da chamada "escola austríaca", apresentam, ao vivo, o conteúdo do livro.

Habituem-se




Dieta

Fernando Ulrich, sempre sem papas na língua, recomenda-nos uma dieta de 10 anos sem betão. Aplauso.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Amigos para determinadas ocasiões - II


Depois desteestas.

Uma sondagem anunciada


No Albergue Espanhol são anunciados os resultados de uma sondagem a publicar amanhã pela dupla TSF/DE.

Depois de ter publicado isto e isto, compreenderão que sinta agora alguma perplexidade pois não vejo explicação racional para que algo se tenha alterado na percepção da opinião pública entre o julgamento político do PS e do PSD que explique os sete/oito pontos, a menos para o primeiro, espelhados pelos mesmos sete/oito pontos, a mais para o segundo.

Gostaria imenso de estar enganado.

Ele há coisas


Um bom motivo, por José Manuel Fernandes.

Aldrabice inflexível



Atendendo a que estamos a falar do mesmo senhor que criou, ou deixou que se criasse, a Parque Escolar e as Estradas de Portugal e que se  recorresse na dimensão em que se recorreu às PPP, as credenciais para falar em sub-orçamentação são realmente esmagadoras. Por outro lado, quanto ao rigor "inflexível" nos 4.6%,  também não está nada mal por parte de quem viu a previsão inicial do défice em 2009 ser multiplicada por quatro e que, já em 2010, e depois de dois PEC (o I e o II) ir falhar, sem receitas extraordinárias, o défice em perto de 1/3. E isto, claro está, sem esquecer o facto de as contas públicas em 2008 estarem "perfeitamente controladas".

The Moody Blues - Nights in white satin

Reflexões sobre Educação - II

Finda a escola primária (pública) dos meus filhos, cuja frequência decorreu naturalmente da proximidade da residência, seguiu-se o processo de escolha da escola do 5º e 6º anos para o que houve que recorrer à "habilidade" muito comum que consiste em "fabricar" uma morada de conveniência. Motivação do crime: escolher a melhor escola para os meus filhos, entendo-se por melhor a escola que, segundo informação recolhida, tinha o melhor quadro docente.

Por que razão transforma o Estado os seus cidadãos em promotores de "arranjinhos" e profissionais da "cunha"?

Por que não poderá ser a «finalidade prioritária da política educativa do Estado (...) a garantia, a cada criança e jovem sem excepção, de um ensino de qualidade, feito em cooperação activa com a sua família[?]», ou seja, onde os pais possam escolher a melhor escola possível para os seus filhos e não estejam condenados ao resultado de uma divisão administrativo-burocrática que só serve para proteger as piores escolas que, desse modo, nunca são penalizadas pela natural escassez de procura de que seriam alvo caso fosse possível essa escolha? 

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Coincidências

Ontem e hoje os jornais deram contam da divulgação de rankings em que Portugal  até melhora ligeiramente a sua posição face a edições anteriores (por exemplo, aqui ou aqui) . Curiosamente, não dei conta que os "Abrantes" fizessem o que lhes é normal: combaterem o "bota-abaixismo" enaltecendo as boas notícias que sempre revigoram o optimismo do nosso primeiro-ministro. Tentando investigar o porquê deste surpreendente comportamento, creio ter encontrado uma explicação: ontem foi também o dia em que foi divulgado um outro ranking bem menos luminoso para a ditosa pátria: na última década, o nosso crescimento acumulado, num total de 180 países, colocou-nos na 178ª posição!

E  repare-se só na coincidência temporal entre essa "extraordinária" performance e o crescimento explosivo do peso da dívida pública no PIB recorrendo, uma vez mais, ao indispensável Desmitos:

Jules Breton - La fille du mineur

Procol Harum - A whiter shade of pale

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Pergunta difícil com resposta afinal fácil

Pergunta Pacheco Pereira: Onde estão os "Magalhães"?
Responde Paulo Pinto Mascarenhas: é fácil.

Reflexões sobre Educação - I

Tenho dois filhos com menos de dois de idade de diferença entre si e, embora hoje estejam ambos já na universidade, recordo-me ainda bem como foi o início do seu percurso escolar. Os dois frequentaram os mesmos estabelecimentos escolares desde a pré-primária, onde estiveram três anos, até ao início do Secundário.

Ele, quando chegou a primária, não conhecia um algarismo ou uma letra e, julgo que logo na primeira aula, teve de se defrontar com o desafio de copiar para o caderno uma frase que a professora escreveu no quadro - "O menino leva a sacola". Recordo-me de o ver chegar a casa chorando profusamente porque tinha, de tanto apagar os seus próprios gatafunhos em vãs tentativas de cumprir satisfatoriamente o que lhe tinha sido pedido (segundo o seu próprio critério), rasgado folhas do caderno. Quando acabou a escola primária, ainda cometia um ou outro erro de ortografia, mas isso não o impediu se tornar um bom aluno também em Português.

Ela, por sua vez, quando chegou à escola primária já sabia ler perfeitamente. Esperava-a João de Deus e a sua Cartilha Maternal tal como tinha acontecido com os seus pais e avós. Acabada a primária, nunca mais deu um erro ortográfico ou de sintaxe e, felizmente, também tem sido uma boa aluna

Conclusão: desde que o professor saiba o que está a fazer, o método que utiliza é do menos importante.

Terrível omissão


Estranhando que às milhentas organizações defensores dos camponeses, dos operários, dos pequenos e médios comerciantes, dos anti-imperialistas, da eliminação da pobreza, da promoção da igualdade, do estado social e tudo o mais que seria fastidioso enumerar aqui, não lhes tenha ocorrido assinalar condignamente a presença dessa figura, qual émulo de Simon Bolívar, em Portugal, deixo aqui o meu pequeno contributo para assinalar a perenidade do acontecimento.

Adenda: uma pergunta pertinente por parte de Carlos Fiolhais.

Do declínio (irreversível?) do Ocidente - III


(Via Coordination Problem)

Um sinal de inteligência (e de liberdade) II

De cada vez que ocorre uma apreensão de estupefacientes por parte das entidades policiais já sabemos que tal acontecimento dará direito a uns minutos nas notícias nas televisões e nos jornais no dia seguinte onde a duração das notícias é função da quantidade apreendida. Sabemos também qual é o cenário adoptado: numa mesa ou no chão estarão devidamente ordenadas as embalagens em que a droga estava acondicionada e, bem assim, quaisquer armas, munições ou dinheiro que também tenham sido eventualmente apreendidos.

Subliminarmente tenta-se passar para a opinião pública que as entidades policiais estão a ganhar a luta contra o tráfico de estupefacientes (as apreensões sobem todos os anos). Mas será assim? E é fácil obter uma resposta: hoje, por referência há um ano, cinco ou dez atrás, um grama de cocaína (ou outro qualquer estupefaciente) custa mais ou menos que custava nos becos dos bairros conhecidos? Não vejo que haja um jornalista disposto a fazer um pouquinho de investigação sobre o tema. E a resposta é definitiva sobre quem está a ganhar e quem está a perder. Há quem tenha feito essas contas noutras paragens (ler aqui, por exemplo).

O debate está, felizmente, a crescer e cada vez é maior a coragem em discutir tabus. Não por acaso, é no país que mais sofreu com a "lei seca" que o tom mais sobe como mostra um extracto de um artigo hoje publicado no Económico a propósito do défice orçamental com que a Califórnia se debate:
"Em carta aberta, um grupo de proeminentes professores universitários de Direito, escreve: 
«Durante décadas, o nosso país prosseguiu uma política ineficaz, e de desperdício, de proibição da marijuana. Tal como aconteceu com a proibição do álcool, esta abordagem falhou no controlo da marijuana, deixando o seu comércio nas mãos de um mercado negro violento e desregulado. Ao mesmo tempo, a proibição da marijuana inundou os tribunais da Califórnia com dezenas de milhares de delinquentes não violentos todos os anos. No entanto, a marijuana continua tão disponível como nunca, com adolescentes a reportarem que é mais fácil comprar marijuana do que álcool neste país».

Liderança na irracionalidade

Bjørn Lomborg é um académico dinamarquês e um estudioso da problemática ambiental sendo autor de vários livros dos quais o mais famoso será o "The Skeptical Environmentalist" (disponível em edição brasileira).

O Jornal de Negócios, com regularidade, apresenta a tradução de uma sua coluna regular em  http://www.project-syndicate.org/.  Bjørn Lomborg é alguém que acredita que "global warming is real, it is man-made, and we need to do something about it". Está, portanto, a salvo de ser apodado de negacionista ("denier"). Daí que as suas palavras tenham particular relevância no apelo ao bom senso. Destaco, do artigo hoje publicado no Jornal de Negócios, as seguintes passagens, que os mais atentos reconhecerão como bem actuais em Portugal:

«Ser líder dificilmente é uma garantia de êxito. A Alemanha liderou o mundo na instalação de painéis solares, financiados com 47 mil milhões de euros em subsídios. O resultado deste investimento é uma enorme despesa e muitos telhados com tecnologia solar ineficiente ao longo de um país com muito poucos dias de sol. Esta tecnologia gera apenas 0,1% da oferta energética total do país.

A própria Dinamarca também já tentou ser pioneira em energias verdes - liderou o mundo na área da energia eólica. Mas os resultados são muito pouco inspiradores. A indústria eólica do país depende quase na totalidade dos subsídios dos contribuintes e os dinamarqueses pagam as taxas de electricidade mais elevadas de qualquer nação industrializada. Diversos estudos revelam que os dados que indicam que um quinto da procura de electricidade na Dinamarca é satisfeita por energia eólica são um exagero. Em parte porque muita da energia é produzida quando não existe procura e tem que ser vendida a outros países.
»

Quinteto de Dizzy Gillespie - Tin Tin Deo

domingo, 24 de outubro de 2010

Oportunidades de trapaça



Desde o início que os sinais se acumulam.  Mas hoje, se alguém ainda tivesse dúvidas, elas desfazer-se-iam com a leitura da entrevista ao Público de Luis Capucha, director da Agência Nacional para a Qualificação, responsável, como já adivinharam, pela "Iniciativa Novas Oportunidades" (INO).

Se os caros leitores não são atreitos a regurgitamentos e possuem uma razoável tolerância à desfaçatez, recomendo vivamente a sua leitura. Para aqueles que têm pouco tempo ou estômagos sensíveis, transcrevo apenas um pequeno excerto:

P: Não se qualificam pessoas para ficar bem nas estatísticas, como dizem alguns críticos?
R: Que mal é que existe em o país ter uma boa imagem? Essas pessoas preferiam que apenas 20 por cento dos adultos activos possuíssem o ensino secundário? Essa era a imagem do país.
P: Nessa crítica está implícita a rapidez com que todo este processo é feito
R: O que há a criticar é não ter sido feito antes. Foi feito com rapidez, mas nestas coisas da educação é preciso agir com rapidez. A grande diferença é que as medidas que constam da INO foram tomadas como prioridades pelo Governo e foram associados meios para atingir estes resultados. Os centros RVCC já existiam, assim como o ensino profissional, a formação de adultos... Porque é que não produziam resultados? Porque faltava a prioridade política, os meios e a massa crítica. Com aquele ritmo levaríamos 60 anos, neste momento, são precisos menos de dez anos para convergir com a Europa. Há movimentos que ocorrem numa grande velocidade.
P: Nessa velocidade não se perde qualidade?
R: O primeiro pilar da qualidade é a quantidade. Digo-o com toda a convicção.(...)

sábado, 23 de outubro de 2010

Há muitos que lhe devem um pedido de desculpas

O tempo em que a gente séria era trucidada, no Corta-fitas.

Yves Montand - Les feuilles mortes

Da transparência e da ética

De acordo com o Público online, "[o] deputado do PSD, Agostinho Branquinho, afirmou hoje [ontem] que «não há processo mais claro, mais transparente e ético» do que a sua renúncia ao seu mandato para aceitar um convite na Ongoing Brasil".

Para acomodar uma certa maneira de fazer as coisas, alguém inventou a famigerada "ética republicana". Eu, que já não sou muito novo, ainda me recordo do tempo em que o qualificativo era não só dispensável como incompreensível. "Transparente" e "ético" aplicados a alguém que, ainda há poucos meses, fez parte de uma Comissão de Inquérito que envolvia as actividades da Ongoing e onde perguntou em voz alta "Mas o que é a Ongoing ?", é algo que me incomoda. Muito.

Global Rounding

Assinalando a passagem de Al Gore por Portugal, deixo-vos um video (via WattsUpWithThat) que chama a atenção para o que poderá constituir um sério problema ambiental!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Do investimento público "reprodutivo"

Há pouco, vi no jornal da SIC o estado dos amplos parques de estacionamento de automóveis para os futuros utilizadores/visitantes do novel aeroporto de Beja - «infra-estrutura fundamental para o desenvolvimento do Baixo Alentejo» - que, ainda que pronto, teima em não ter passageiros ou mercadorias ou, sequer, aviões. Nem para estacionamento.

Entretanto alguém me chamou a atenção para isto a propósito da urgência que organismos estatais invocam para "aligeirar" procedimentos "aproveitando" saldos de gerência de organismos que estejam "a jeito".

Aqui estão dois exemplos de excelência da utilização de dinheiros públicos e da reprodutibilidade de investimentos públicos.

Quanto tempo terá de vida?

Esta miúda - tem apenas 20 anos - acaba de ser nomeada chefe da polícia de localidades rurais junto à fronteira com os Estados Unidos, a cerca de 100 quilómetros da cidade de Juárez, um dos centros principais de actuação dos gangs dos narcotraficantes mexicanos.
O seu antecessor foi baleado em Julho de 2009 e foi necessário mais de um ano para o substituir precisamente pela ainda estudante de criminologia Marisol Valles.
Pessoalmente junto-me àqueles que esperam que ela não venha a pagar muito caro pela evidente inexperiência e a muito provável ingenuidade decorrentes da sua juventude tanto mais quando sabemos que, até à data, em consequência da guerra "oficiosa" relacionada com o narcotráfico, já perderam a vida mais de 28000 mexicanos (2000 só este ano na cidade de Juárez).

Já aqui tive a ocasião de saudar a posição lúcida de Felipe González após exactamente de uma visita ao México. Vargas Llosa, o último Nobel da Literatura é outra grande figura que, de há muito, se manifesta contra um proibicionismo cego e surdo a todas as evidências. É certo, todos o sabemos, que o problema é essencialmente político pois ninhuém tem a coragem de avançar com propostas de liberalização das drogas ou, no mínimo, de discriminalização no seu consumo como Portugal decidiu unilateralmente, e muito bem, levar a cabo no início do século XXI e hoje é um caso de referência.

Exercício humorístico


«Recorrer ao fundo de pensões da PT "não é sinal de descontrolo orçamental"» - Teixeira dos Santos, Ministro das Finanças, 21-10-2010.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

What's new? (II)

Especialmente nos tempos que correm, uma visita regular ao blog Desmitos, do Prof. Álvaro Santos Pereira, é absolutamente obrigatória.
No post "A verdade sobre as "extinções" de institutos", o Prof. Álvaro Santos Pereira para além de chamar a atenção para o que ontem apontei aqui, ou seja, a mistificação que representa o anúncio pelo governo da extinção de coisas extintas, vem enumerar, em contrapartida, os novos organismos que a proposta de orçamento para 2011 encerra. E a coisa é de estarrecer:
Novos Fundos:
  • Fundo de Reabilitação e Conservação Patrimonial (17.74 milhões de euros)
  • Fundo de Modernização da Justiça
  • Fundo de Intervenção Ambiental (999 mil euros)
  • Fundo para a Conservação da Natureza e Biodiversidade (28.42 milhões de euros)
  • Fundos de Desenvolvimento Urbano (130 milhões de euros)
  • Fundo de Protecção dos Recursos Hídricos (16.98 milhões de euros)
Novas entidades, organismos, sistemas e programas:
  • Conselho de Coordenação Patrimonial
  • Nova entidade para acompanhamento das parcerias público-privadas (PPPs)
  • consolidação do Observatório de Género [sic?]
  • Gabinete Nacional de Recuperação de Activos
  • Aplicação para a Gestão do Inquérito-Crime
  • Nova estrutura de gestão: Sistema Integrado de Protecção contra as Aleatoriedades Climáticas
  • Sistema Nacional de Indicadores e de Informação de Base de Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano
  • Consolidação do Sistema Nacional de Informação Geográfica
  • Sistema Nacional de Exploração e Gestão de Informação Cadastral
  • Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais (PARES)
  • Programa Operacional do Potencial Humano (POHP, Eixo 6)
  • Sistema de Atribuição de Produtos de Apoio (SAPA)
  • SPMS, EPE, Serviços Partilhados do Ministério da Saúde
  • Grupo de Coordenação Estratégica para os Cuidados de Saúde Hospitalares
  • Programa Ciência Global
  • Programa Dinamizador para as Ciências e Tecnologias do Mar

Tributo a Guillermo Fariñas


Foi atribuído a Guillermo Fariñas pelo Parlamento Europeu o prémio Sakharov. Este homem, de 48 anos de idade, já cumpriu 23 greves de fome em defesa da liberdade política em Cuba, a última das quais durou 135 dias e esteve na origem do anúncio de libertação pelo regime castrista de 52 presos. É bastante interessante a entrevista que concedeu ao El País.

Uma, duas ..., três?!

Ontem, já de madrugada, ouvi uma vice-presidente do PSD dizer (cito de memória) «que não se trata de nenhuma negociação. Ou o governo aceita os nossos pressupostos/condições ou não. A responsabilidade de fazer o orçamento é do governo».

Ontem, depois de mais uma "troca de bolas" entre PS e PSD, percebeu-se que sempre vai haver negociação e hoje, até temos Eduardo Catroga (não Nogueira Leite) a chefiar a equipa por parte do PSD.

Ou muito me engano ou, uma vez mais - e já é a terceira em cinco meses -, o PSD se pôs a jeito para partilhar, directa ou indirectamente, o custo político de tomada de medidas para suster uma situação para a qual não contribuiu. E, de qualquer forma, sem que com isso se evite o PEC IV, e o FMI em 2011.

Se há um "desígnio nacional" a concretizar em 2011 é o de nos conseguirmos (incluindo aqui a gente decente do PS) ver livres de Sócrates. O interesse nacional, hoje, passa por executar uma estratégia que vise o seu afastamento - de vez - e estanque a gangrena que ele nos legou.

(Também publicado, como comentário, no Cachimbo de Magritte)

Parece que acabou

«Desde o 25 de Abril, a despesa pública cresceu ao dobro do ritmo da economia. Hoje, essa despesa, medida em percentagem do PIB, é idêntica à dos países da Europa ocidental e concentra-se, tal como lá acontece, nas despesas sociais, na Saúde e na Educação. O que, incidentalmente, leva a questionar a veracidade de uma certa narrativa sobre o país, que diz que ele se transformou numa vítima do "neoliberalismo". Afinal, aquilo que tem acontecido não é nada disso, mas a tentativa de aquisição dos mesmos padrões sociais existentes nos países com que gostamos de nos comparar.

Este processo teve, contudo, duas consequências importantes. Uma, a crescente dependência da população portuguesa relativamente aos gastos do Estado. Hoje em dia, não haverá português que não deixe de ter uma sensação de pânico ao ouvir falar de cortes na despesa pública. Mas a outra, provavelmente tão importante, foi a também crescente dependência dos políticos portugueses em relação à despesa pública. Fora da despesa pública, quase não há política em Portugal. Enquanto houver maneira de fazer despesa haverá sempre gente disposta a fazer política. O problema é quando não há, como agora.»

(Luciano Amaral, Económico, 21-10-2010)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Tributo a Mariana Rey Monteiro


O país perdeu uma grande Senhora enquanto uns quantos liliputianos mentais se entretêm em encontrar a solução mais rápida para o afundar.

Sem palavras


Sem palavras.

A pandilha

Está disponível a síntese de execução orçamental correspondente ao período de Janeiro a Setembro. A despesa corrente primária (sem juros) cresce 4,6%(!) relativamente ao período homólogo de 2009. E têm a lata de dizer que a despesa evolui "dentro dos padrões de segurança"! Que pandilha.

Sinais

Portugal cai dez lugares no ranking da liberdade de imprensa. Estamos agora em 40º lugar. Há dois anos, estávamos em 16º.

Adenda: e em 2007 estávamos em 8º.

What's new?

Governo anuncia extinção de entidades que não existem.

(Diário de Notícias, 20-10-2010)

Acerca de uma mosca


«It is said [by economist James Buchananthat a fly that grew 9 times its size could no longer fly. What does that imply for the fiscal dimensionality of the state?»

Peter Boettke propõe uma resposta. O autor deste blog tende a concordar com ela.

Bom senso

«A nossa economia não consegue funcionar razoavelmente sem acesso dos bancos e do Estado aos mercados financeiros internacionais».

«[O]s mercados, provavelmente, não se abrirão aos nossos bancos, ao Estado e agentes económicos, sem que tenham algumas notícias positivas para o próximo ano, sobre a execução orçamental deste ano e execução efectiva em 2011».

(Cavaco Silva, citado no Jornal de Negócios, 20-10-2010)

Benny Goodman - Bewitched

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Uma pergunta óbvia

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Esta fotografia, retirada daqui, suscita a Jeremiah Dyke o seguinte enunciado:

A pergunta é óbvia. A resposta também ainda que admita que seja, para muitos - os proibicionistas -, difícil de digerir.

Epifania e descida dos salários


Lembram-se do "Velho do Restelo", do fiscalista feito "Cassandra", do "Pessimista profissional", do "Impenitente ressabiado" e outros epítetos de calibre semelhante com que têm mimoseado Medina Carreira de há 10/15 anos a esta parte?

Não é que seja homem para tal, mas há como que uma justiça divina que finalmente se aplica quando hoje, em pleno edifício da Assembleia da República, faz o seguinte alerta aos deputados da nação: «Estamos a caminhar para uma tragédia do Estado Social, são seis milhões de pessoas que estão penduradas nele. Se os senhores não fizerem nada vão enfrentar um problema social gravíssimo».

Adenda: através de Helena Matos, cheguei aqui (sugestão de Miguel Frasquilho no último congresso do PSD). Vem a propósito.

Privatize-se!


A RTP, tem sido, ano após ano, década após década, a voz do dono. Os seus programas de "informação", género Telejornal ou Prós & Prós (*), limitam-se a fazer o frete ao poder e são a antítese do que é um jornalismo de factos, de contraditório, de fact-checking.
A RTP em nada se distingue, no que é essencial, da oferta televisiva e radiofónica dos outras televisões e rádios, como é exemplo a figura acima retirada hoje mesmo do site da RTP.
A RTP tem sido um sorvedouro gigantesco de dinheiros públicos, ou seja, dos contribuintes, que vai fechar as suas contas de 2010 (segundo o Correio da Manhã) com um défice de 801 milhões de contos.
A RTP é um dos exemplos da mistificação estatista que nos assola - e que nos esfola - e que nos engana sistematicamente quando o governo se propõe reduzir as indemnizações(?!) "compensatórias" a atribuir à RTP em 2011 ao mesmo tempo que aumenta, no mesmo montante, a contribuição da taxa do audiovisual (na realidade, mais um imposto encapotado que vai aumentar 29,3%) cobrada na factura de electricidade.

Morra a RTP pública, morra! Pim.

(*) - Devida vénia ao João Gonçalves

Henri Rousseau - Jardin du Luxembourg

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Vítor Bento - O Nó Cego da Economia


O necessário reequilíbrio das contas externas que o novo livro de Vítor Bento reclama (também abordado aqui), passa pela execução de uma estratégia que reverta a situação de desfavorecimento prolongado que tem afectado os sectores expostos à concorrência externa. 

E o impossível acontece todos os dias

Hoje, de manhã cedo, o Prof. e economista Álvaro Santos Pereira chamava a atenção para a inscrição, na proposta de Orçamento de Estado de 2011, de uma verba de 587,2 milhões de euros a atribuir à Ascendi, a título de "reforço da estabilidade financeira" daquela empresa controlada pelo grupo Mota-Engil, equivalente a metade do aumento  da receita projectada para o IVA.

À tarde, eis que cai uma "bomba": a própria Ascendi comunicou ter solicitado ao Governo que corrija aquele valor por, afinal, só lhe serem "devidos" 150 milhões! O ministério das Finanças continua indisponível para esclarecer este episódio, de acordo com o Jornal de Negócios.

Se isto não é gangrena , é o quê?

"Face Oculta", juízes e OE 2011

«Estamos a pagar a fatura de ter incomodado, nas investigações e no trabalho jurisdicional que fazemos, os boys do Partido Socialista. Estamos a pagar a fatura do processo Face Oculta e de outros processos anteriores», afirmou António Martins, presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, em entrevista à Lusa.

É mais uma manifestação da gangrena.

A ilusão chegou ao fim

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Este gráfico (surripiado no Cachimbo de Magritte, num post de Jorge Costa) evidencia a evolução do saldo da balança de transacções correntes portuguesa nos últimos 30 anos (em percentagem no PIB) e a sua projecção até 2016 (da responsabilidade do FMI). Se conseguimos recuperar do afundanço do primeiro lustro dos anos 80 graças ao acordo FMI II e, em boa medida, da desvalorização do escudo então operada, vemos que o desequilíbrio regressou em força logo a seguir a 1995 (no governo Guterres I) para se instalar de armas e bagagens. Aqui está brutalmente espelhada, a diferença entre o que consumimos e o que conseguimos produzir internamente. A diferença é coberta com empréstimos ao exterior. Aoós quinze anos de regabofe, chegou a hora do ajustamento. Vai doer. Muito.

George Bellows - Paradise

domingo, 17 de outubro de 2010

Zanguem-se, porra!

Mas quando perceberão os portugueses que os maiores inimigos do Estado "social" são os que têm estado no governo nos últimos 15 anos? Sim, aqueles que se reclamam como os seus mais estrénuos defensores!


Nota: sondagens publicadas entre 2 e 16 de Outubro (valores em percentagem)

George Bellows - The lone tenement

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Nana Mouskouri - Adieu Angeline

Era uma vez no Japão

Há vinte anos atrás, os profissionais da profecia (os economistas, claro) projectavam que por volta de 2010 a economia japonesa ultrapassaria a dos Estados Unidos, tornando-se a primeira do mundo. A realidade, para os japoneses, viria a tornar-se bem menos risonha: a economia japonesa viu-se ultrapassada já este ano pela  chinesa, e o país do sol nascente há vinte anos que vive mergulhado numa profunda anemia económica. As receitas keynesianas - investimento público em massa, dívida pública em espiral - falharam redondamente; em desespero, é aplicada, em paralelo, a receita monetarista através da manipulação da oferta de moeda injectando quantidades cósmicas de dinheiro, mantendo a taxa de juro de desconto do banco central a zero, com insucesso não menos flagrante. Fariam bem em  ouvir os Austríacos...

Sobre estema, um artigo interessante, no New York Times: "Japan, Once Dynamic, Is Disheartened by Decline".

Justiça divina?

«Aqui há um mês e meio, o Governo acusava o PSD de querer acabar com o Estado Social. Ontem apresentou um Orçamento de Estado que o destrói. As coisas têm de ser vistas no real e não nos discursos - a retórica, a habilidade, a falsa promessa, a demagogia, o ataque soez (e lamento não me lembrar de mais palavras dizíveis) que então campearam eram injustificados. Em Portugal, quando o líder da oposição afirma publicamente que se recusa a falar com o primeiro-ministro sem ser na presença de testemunhas, ninguém parece incomodar-se. Pois eu dou razão a Passos Coelho. Falar sem testemunhas na presença de alguém que hoje diz uma coisa e no dia seguinte outra, sempre com a mesma cara, torna-se perigoso.
(...)
A questão, porém, tem de ser colcocada do ponto de vista racional e não emocional: o país precisa de um Orçamento aprovado e Sócrates vai tê-lo. Não o merece e se houver justiça há de pagar pelo que fez.»

(Henrique Monteiro, Expresso, 16-10-2010)

sábado, 16 de outubro de 2010

E se o Conselho de Ministros se reunisse numa mina?

Se o título do post lhe provocou curiosidade por que não vai até à Retentiva ler uma fábula?

Uma parábola


«Naquele tempo existiam uns pirómanos que faziam arder tudo à sua volta em combustão lenta e assim a destruição progredia sem que a maioria das pessoas se apercebesse do que estava a acontecer. Mas chegou o dia em que um anticiclone, vindo de fora, com vento forte, ateou o fogo.
As labaredas, bem visíveis, alertaram as populações para o perigo eminente que as ameaçava e então gritaram por socorro.
Era aquele o momento propício para desmascarar os incendiários e livrarem-se finalmente deles? Talvez, mas o drama é que o fogo não faz pausas e devoraria as vítimas muito antes do julgamento dos culpados.
A prioridade é, pois, apagar o fogo e salvar o que for possível.
Também esta operação implica prejuízos elevados para as populações, porque os meios de combate muitas vezes danificam os locais onde atuam, havendo a tendência para culpar os bombeiros pelos estragos sofridos.
Assim, o que é justo é que quem provocou o fogo, o apague, até porque qualquer bombeiro, seja qual for a corporação a que pertença, apagá-lo-á da mesma forma: ou com água, ou com neve carbónica ou com uma combinação das duas.
Vem isto a propósito do destino do próximo Orçamento. Sinto que o PSD não deixará de colaborar na extinção do fogo, mas é nossa responsabilidade não deixar esquecer que este incêndio tem origem em fogo posto e que é, por este ato, que o Governo deverá ser julgado

Manuela Ferreira Leite, Expresso, 16-10-2010

The Doors - The End, Jim Morrison dança

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Edvard Munch - O grito

Descubra as diferenças

«Se conseguirmos alcançar o final do ano sem uma subida da taxa de desemprego, mantendo a taxa com que iniciámos o ano [9,8%] isso significaria que apesar de todas as dificuldades o desemprego não terá aumentado, o que é positivo». A taxa oficial de desemprego actualmente é de 10,6%.



A gangrena


Já não basta fazer ironia com a "ética republicana". É imperioso aplicar o cutelo a curto prazo. Resta que Cavaco aja a partir de 24 de Janeiro.

Adenda: na calada da noite, autor Vítor Baptista.  Ouça-se, também, o comentário de Sócrates a este sórdido episódio.

Quem nos avisa amigo é

Axel Weber, ontem,  avisava-nos que a liquidez que o BCE nos tem proporcionado, através da banca, irá acabar brevemente e que um próximo acesso ao fundo europeu de resgate, que a Grécia "inaugurou", exigirá condições"estritas e dolorosas". Importa dizer que Axel Weber, actual presidente do Bundesbank, o banco central alemão, é o muito provável sucessor de Trichet, acttual presidente do BCE. Hoje, é Erkki Liikanen, representante do banco central da Finlândia no BCE quem afirma que “os dois países [Irlanda e Portugal] tomaram medidas importantes, mas nesta altura é impossível dizer se fizeram tudo o que era preciso fazer”.

A nossa doença é muito profunda. Ameaça gangrena.

Amigos para determinadas ocasiões

Tavares Moreira interrogava-se ontem sobre se Jacques Attali, ex-Presidente do BERD, teria tido participação relevante na elaboração do Orçamento de Estado de Portugal de 2011, aparentemente a única explicação para o facto de o ex-conselheiro de François Mitterand ter afirmado que o dito cujo é “necessário, responsável e rigoroso...mesmo se doloroso”.

Depois de Ángel Gurría, presidente da OCDE, ter afirmado que "[a penalização nos juros da dívida soberana] é injusta de vários pontos de vista. Especialmente porque Portugal lançou reformas estruturais de primeiro plano, tanto antes, como durante a crise" (27 de Setembro último), é caso para dizer que os amigos (da Internacional Socialista) são para as ocasiões.

Controlo de quê? Da despesa não é, certamente!

«Quem tiver estado atento às televisões e jornais desde quarta-feira à noite, decerto terá ficado aterrorizado com as novidades do orçamento para 2011, devido à fortíssima machadada no poder de compra das famílias. Mas o aspecto mais interessante das notícias não foi a redução dos benefícios fiscais (escandalosa na Saúde e Educação), a penalização dos pensionistas (injusta), nem a quebra de sigilo bancário para quem deve ao Fisco (aceitável) e nem sequer a redução do número de anos em que as empresas podem declarar prejuízos (necessária). Foi a ausência total de referências ao corte de despesa pública, nomeadamente corrente. Cadê os organismos públicos a fechar (e quando)? Cadê os que se vão fundir (e quando)? Mais: onde vai o Governo cortar a mais se a economia entrar em recessão, ao contrário do que prevê o Orçamento (certamente uma antecipação do dia 1 de Abril). Menor crescimento é igual a menos receita…»

(Camilo Lourenço, Jornal de Negócios, 15-10-2010)

Para os distraídos, aí vêm mais dois submarinos

Hoje, 15 de Outubro, a ERSE apresentou os novos tarifários para a electricidade em 2011. À pala do inacreditável e irracional regime subsidiatório em vigor, o sobrecusto que todos iremos suportar para o ano que vem, a título do eufemisticamente designado por "Produção em Regime Especial", isto é, eólicas, solar e co-geração,  monta a 1000 milhões de euros! Na "moeda" mui recentemente em vigor tal significa dois submarinos! Repete-se, só em 2011!

Em suma, mais uma excelente notícia: as tarifas vão aumentar 3.8% (onde uma parte do aumento, criminosamente, como se pode ver no gráfico da página 7 do comunicado, foi diferido em 2009, incrementando o "défice tarifário", ano de eleições...)! O alargamento da tarifa "social" e a limitação dos abrangidos a 1% de acréscimo das tarifas é, apenas, a tentativa de contenção de danos (que alguém terá de pagar, claro!).

Robert Henri - Gertrude Vanderbilt Whitney

Eric Clapton - Tears in heaven