terça-feira, 30 de novembro de 2010

Porquê o ouro?

A figura abaixo descreve a evolução do preço do barril de petróleo medido por quatro moedas: a libra esterlina, o dólar americano, o euro (antes de 1999, o marco) e o grama de ouro. 

Retirado daqui

A primeira observação é para salientar que é especialmente na década de 70 (mas o fenómeno já se tinha manifestado na segunda metade da década de 60) que se assiste ao sensível "encarecimento" do petróleo, enquanto medido pelas moedas "nacionais". Ora Nixon, em 1971, quebrou o último elo existente entre as moedas fiduciárias e o ouro (instituído no sistema de Bretton Woods) pelo que, a partir daí, a quantidade de emissão de moeda (quer na forma de notas quer na forma escritural) passou a estar restringida apenas a uma coisa: a maior ou menor "destreza" por parte dos bancos centrais em "imprimir" moeda.

A segunda observação para sublinhar quão menos "caro" o barril de petróleo se tornou quando medido em marcos relativamente à libra ou ao dólar. Tal sugere que o Banco Central alemão e hoje o BCE se tem mostrado mais renitente em "imprimir" dinheiro que os seus homólogos britânicos ou norte-americanos, razão pela qual a desvalorização do marco/euro face ao barril de petróleo foi a menor das três moedas "nacionais".

E o ouro? Sucede que um grama de ouro compra hoje a mesma quantidade de petróleo que em 1971, ou seja, o poder de compra do ouro face ao petróleo manteve-se intacto nos últimos 40 anos. Será que esta estabilidade resulta da escassez infinita de alquimistas? É que é muito mais fácil e barato imprimir milhões de rectângulos de papel verde ou de outra coisa qualquer e o monopólio da sua impressão pertence aos estados...

Estado reiterado de negação

Portuguese PM Response To Downgrade: "We Dot Not Need Any Help"

«Of course, he will need not only help, but a bailout, in one week when his bonds are trading a 10%+. In the meantime, let the comedy continue.» (Via Zero Hedge)

Lincoln: uma narrativa alternativa

Baseado no livro The Real Lincoln, por Thomas DiLorenzo, de que já tive oportunidade de chamar a atenção em "Leituras".

Da insuperável desvergonha (3)

Governo cria nova empresa pública para gerir PPP e grandes obras

Bastante mais útil(*) seria facultar um resumo plurinanual dos encargos já assumido com as PPP. Mas isso não permitiria ao governo nomear mais três boys administradores.

(Copiado do Cachimbo de Magritte com uma ligeiríssima alteração)

 (*) - Como bem recorda António Nogueira Leite na SIC-N, a Parpública, nos seus estatutos, já contempla o objecto da nova empresa. Para além do mais, já lá tem as pessoas com as competências necessárias.

Da insuperável desvergonha (2)

Ainda da Líbia, Sócrates diz "[a] semana começou muito bem com esta cimeira" e que os jornalistas sofrem de uma "obsessão" com a situação económica portuguesa.

Sim. No dia em que o Eurostat anuncia uma taxa de desemprego de 11% em Outubro para Portugal depois de, na véspera, terem sido conhecidas as previsões de Outono da Comissão Europeia que esfarelam o cenário macroeconómico subjacente ao Orçamento de Estado para 2011, só pode tratar-se de uma obssessão dos bota-abaixistas.

Havendo tantas coisas interessantes a perguntar a S. Exa. como, por exemplo, o projecto inovador do corredor de "mobilidade eléctrica" entre Porto e Vigo e o conteúdo da agenda para a cimeira proposta por S. Exa., a realizar em Lisboa, sobre energias renováveis, vão agora importuná-lo com estas minudências! Ainda se, ao menos, lhe pedissem uma opinião informada quanto aos sacos de plástico ou a qualidade da água da torneira, a bem da sustentabilidade ambiental!

Da insuperável desvergonha

Na Líbia, José Sócrates anunciou aos presentes na cimeira UE-África em que participa, que a estratégia de Portugal “passa pela aposta inequívoca nas fontes de energia renovável”, afirmando, segundo o Público, que o país é considerado como um dos 10 mais atractivos do mundo para o investimento em energia. Pois pudera! Com os estratosféricos subsídios atribuídos...

Fidelidades, irritações e talvez uma decisão

Não me descreveria como um animal de hábitos mas tal não quer dizer que não tenha alguns. Um deles é o de ler os mesmos jornais anos a fio, até que desapareçam, mesmo quando, por um frio exercício de racionalização, já há muito devia ter desistido deles. Continuo pois a comprar o Expresso (desde a sua fundação, salvo erro, em Janeiro de 1973) ainda que lendo, muito rapidamente, apenas três dos seus milhentos cadernos.

Com o Público passa-se algo semelhante ainda que, muito especialmente após a saída de José Manuel Fernandes, o exercício se torne cada vez mais penoso. Hoje, por exemplo, passei por cima de duas páginas com nove fotografias sobre a conferência de Cancún e ainda mais uma página e meia com uma entrevista a um senhor, responsável pela "mobilidade eléctrica" [sic] da Opel/Vauxhall a reclamar subsídios para o carro eléctrico, única forma de o mesmo ser acessível às pessoas.

Ora, fazendo notar por um lado que atribuir subsídios a alguns (e, neste caso do carro eléctrico, até será aos mais ricos) significa aumentar impostos a outros e que, por outro lado, a conversa da "necessidade" de o Estado apoiar indústrias nascentes já foi mil vezes refutada (ver, por exemplo, aqui), o teste de fidelidade ao Público foi hoje muito duro. Amanhã pode ser um dia de tomada de uma decisão importante.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Putrefacção


«Há uma falta de estratégia política do primeiro-ministro [na área da Cultura].» (João Aidos, director-geral das Artes,  em entrevista ao Público, 29-11-2010)

Boccioni - Nudo di spalle (Effetto di sole)

(Clique na imagem para a aumentar)

Dois pesos e duas medidas

Agora que já quase é uma certeza que a mais recente revelação de informação "sensível" pelo Wikileaks se traduz numa bolha cheia de nada (ao contrário do que ontem me parecia provável), são ainda mais escandalosos os double standards do New York Times. Veja-se este exemplo:
"The New York Times is participating in the dissemination of the stolen State Department cables that have been made available to it in one way or another via WikiLeaks. My friend Steve Hayward recalls that only last year the New York Times ostentatiously declined to publish or post any of the Climategate emails because they had been illegally obtained. Surely readers will recall Times reporter Andrew Revkin's inspiring statement of principle: "The documents appear to have been acquired illegally and contain all manner of private information and statements that were never intended for the public eye, so they won't be posted here." (No Power Line, via WattsUpWithThat.)

Ainda a verdade vs ilusão e mentira


«Os problemas concretos das pessoas resolvem-se reorientando a nossa actividade económica para a produção de mais riqueza, distribuída com mais justiça e conseguindo, ao mesmo tempo, reduzir as nossas necessidades de financiamento externo. Os problemas das pessoas resolvem-se falando verdade. Falando verdade sobre a situação económica e social. A verdade reforça a confiança. A ilusão e a mentira encaminham os cidadãos para situações que lhes criam grandes dificuldades». (Cavaco Silva, 29-11-2010, discurso na inauguração da sua sede de campanha, no Porto).

O plano sueco

Por entre uma recessão global, a Suécia acaba de registar um crescimento anualizado do PIB de 6.9% no último trimestre enquanto o desemprego continua a diminuir. Factos não comuns: o banco central tem vindo a subir as taxas de juros enquanto o governo vem prosseguindo a diminuição das taxas de imposto sobre o rendimento em todos os escalões, incluindo os muito ricos. (Via Ludwig von Mises Institute, tradução minha)

A Economia segundo os "Austríacos"

Depois desta interrogação da The Economist é agora a vez da Newsweek anunciar o regresso triunfante de Hayek. Estando o autor deste blogue já "convertido", convido o leitor a reflectir se se revê nas 10 proposições que, na síntese feliz de Peter J. Boettke, caracterizam e diferenciam a perspectiva da Austrian Economics (Via Coordination Problem):
  1. Only individuals choose.
  2. The study of the market order is fundamentally about exchange behavior and the institutions within which exchanges take place.
  3. The “facts” of the social sciences are what people believe and think.
  4. Utility and costs are subjective.
  5. The price system economizes on the information that people need to process in making their decisions.
  6. Private property in the means of production is a necessary condition for rational economic calculation.
  7. The competitive market is a process of entrepreneurial discovery.
  8. Money is nonneutral.
  9. The capital structure consists of heterogeneous goods that have multispecific uses that must be aligned.
  10. Social institutions often are the result of human action, but not of human design.

Está por dias?

A situação é muito grave. O quarto lugar, no mundo, na probabilidade de entrar em default não deixa margem para outra interpretação. Nouriel Roubini aconselha-nos a que, literalmente, agora mesmo, apresentemos a candidatura à ajuda do FMI e o EFSF. Por outro lado, o 9º lugar da Espanha evidencia que o euro também está em sério risco.

sábado, 27 de novembro de 2010

Assim não vamos lá


Não vamos, não.

O encontro com a justiça da História


Num reconhecimento oficial que há muito tardava, a Duma (o parlamento russo) admitiu ontem o directo envolvimento soviético, através de ordens expressas de Stalin, na eliminação física, entre Março e Abril de 1940, de cerca de 22000 polacos, entre os quais 8000 oficiais, na sequência do pacto germano-soviético firmado entre as lideranças alemã e soviética.

The Platters - The great pretender


Novas renováveis: finalmente um real escrutínio?


Manuela Ferreira Leite (MFL), hoje, no Expresso, junta-se ao até aqui muito reduzido número de economistas que pretende ver respondidas questões que os governantes, sucessivamente, têm fugido de explicar (veja-se  a resposta de Carlos Zorrinho deu ontem relativamente à composição do item "Custos de interesse geral" reflectido na factura de electricidade). MFL pergunta:
  • «Quantas dessas empresas produtoras de eletricidade [a partir das novas renováveis e da cogeração] vivem à custa dos subsídios estatais à produção de energia?»
  • «Quantas e quais empresas obtêm lucros com a venda da eletricidade que produzem à EDP, o que significa que investem sem qualquer risco?»
  • Quanto é que estamos a pagar através de impostos encapotados na nossa fatura de eletricidade?
  • Durante quanto tempo vai durar este encargo e qual a sua evolução previsível?
  • Estaremos a criar outra espécie de SCUT?
E depois destas perguntas, remata: «Estas questões sempre deviam ter sido claras, mas são especialmente pertinentes numa altura em que os cidadãos mal conseguem planear o seu dia a dia, com os dados que conhecem, quanto mais com o que os apanha de surpresa.
Transparência e respeito pelos portugueses exige-se!»


Dra. Manuela Ferreira, seja bem-vinda  ao clube dos que acham que Défices há muitos.
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Adenda: também hoje, no Expresso, Fernando Madrinha aborda os famigerados "custos de interesse económico geral". «Um deles é o fomento das energias renováveis, que vale 800 milhões de euros anuais, quase exclu sivamente pagos pelos consumidores domésticos, segundo a Deco. É essa verba que permite à EDP gastar milhares de milhões na compra de empresas nos EUA, além de, é claro, pagar ao ex-ministro Manuel Pinho para ministrar o célebre curso sobre energias renováveis na Universidade de Columbia» (...) «vivendo ela [EDP] em regime de quase monopólio e contanto com esta colaboração empenhada do Governo para esbulhar os clientes, não admira que os seus administradores sejam geniais e com direito a prémios de milhões».

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

PiCTuReS aT a EuRo eXHiBiTioN

Uma imagem evocativa dos tempos que correm. Aqui há mais e bem humoradas (via Zero Hedge).

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Antevisão: o dia em que o dólar morreu

Modigliani - Retrato de uma rapariga

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A factura da electricidade e o "interesse geral"

A DECO, finalmente, descobriu que a factura de electricidade tem uma parcela de cerca de 40% do seu total que não é função directa do consumo de electricidade, nomeadamente os famigerados "Custos de interesse geral" em boa parte decorrentes da generosidade com que as novas renováveis (eólica e solar) são remuneradas (ver video).


Instado a pronunciar-se, Carlos Zorrinho afirma que "a fórmula de cálculo da factura da luz é correcta e que a contribuição de cada cliente para os custos de interesse geral não dá para ser reduzida".

Quando será que nós portugueses, através da Comunicação Social, passaremos a exigir que o "interesse geral" nos seja explicado tintim por tintim e que não nos tomem por tolinhos?

Adenda: A ler João Miranda, no Blasfémias.

Do investimento público "reprodutivo" (2)


A infra-estrutura fundamental para o desenvolvimento do Baixo Alentejo não cessa de confirmar a sua "fundamental" importância.

Uma auditoria do Tribunal de Contas revela um conjunto de dados interessantes. Por exempo:
  • Já se passaram quase 10 anos desde a criação da Empresa de Desenvolvimento do Aeroporto de Beja (EDAB) apesar de o aeroporto não ter iniciado ainda a operação que vem senso sucessivamente adiada.
  • A EDAB "nunca apresentou qualquer plano de negócios" pelo que tem vindo a "operar num quadro de total incerteza de viabilidade económica e financeira".
  • Até à data,a operacionalidade do aeroporto "está bastante comprometida" uma vez que não existe "qualquer contrato de negócio aeroportuário" firmado.
  • Assim, gastos que foram 34 milhões de euros, segundo o Público, a hipótese "mais consistente para se dar uso à nova infra-estrutura passa pela transformação da plca de estacionamento num parque para acolher aviões que actualmente ocupam espaço no aeroporto de Lisboa.
Enfim, mais um exemplo de uma história exemplar. Talvez esta, como outras, inspirada no amigo Zapatero.

The Dave Brubeck Quartet - Take Five

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Excelente (recebido por email do Fernando)

Exercício de memória


Foi há 35 anos.

Who the hell do you think you are?

Por Nigel Farage, membro do parlamento europeu eleito pelo Partido para a Independência do Reino Unido. Palavras fortes.


Da particular "oportunidade" da greve geral (2)

Álvaro Santos Pereira, no indispensável Desmitos:

«Quando o Wall Street Journal e o Financial Times, entre outros, escrevem artigos sobre uma greve geral em Portugal, não é difícil perceber que os tempos que vivemos são verdadeiramente excepcionais.»

DECO descobre os custos das eólicas

Pelo João Miranda. A ler, no Blasfémias.

The Importance of Teaching


Acaba de ser divulgado, pelo governo britânico, o relatório The Importance of Teaching (disponível aqui). Não tive ainda a oportunidade de o "folhear" mas a leitura deste artigo pela corajosa professora Katharine Birbalsingh (na foto e de quem postei aqui no mês passado) faz-me sentir esperançoso de que algo importante possa mudar no Reino Unido e, por arrasto, ajudar a mudar o ensino no nosso país.

Uma voz sensata e realista

A sensatez não é sinónimo de pessimismo. É-o de realismo. A entrevista de Mira Amaral que se segue é disso exemplo onde ele explica que os fundamentais da economia irlandesa são muito melhores que os portugueses.

Do arrefecimento global (em 1975)


Ontem falei aqui sobre este senhor, o Professor de Stanford, Paul Ehrlich, especialista em elaborar profecias que teimam em não se concretizar. Ora não deixa de ser curioso que este homem, um dos grandes ícones do ambientalismo militante que chegou a propor a esterilização forçada de milhões para combater a sobrepopulação, tenha alertado o mundo para o fenómeno do arrefecimento global, exactamente o inverso da mania que agora nos assola. Ora vejam só este excerto retirado do número da Newsweek de Abril de 1975:
The evidence in support of these predictions has now begun to accumulate so massively that meteorologists are hard-pressed to keep up with it. In England, farmers have seen their growing season decline by about two weeks since 1950, with a resultant overall loss in grain production estimated at up to 100,000 tons annually… Last April, in the most devastating outbreak of tornadoes ever recorded, 148 twisters killed more than 300 people and caused half a billion dollars’ worth of damage in 13 U.S. states. To scientists, these seemingly disparate incidents represent the advance signs of fundamental changes in the world’s weather. The central fact is that after three quarters of a century of extraordinarily mild conditions, the earth’s climate seems to be cooling down. Meteorologists… are almost unanimous in the view that the trend will reduce agricultural productivity for the rest of the century. If the climatic change is as profound as some of the pessimists fear, the resulting famines could be catastrophic.

Mais calor menos mortes

Faz parte da retórica habitual do IPCC acenar com o catastrófico aumento da mortalidade decorrente das alterações climáticas (ex-aquecimento global). Ora sucede que em estudo recém-publicado na Climate Change, cientistas britânicos vêm demonstrar, com estudo empírico centrado em Inglaterra e Gales, exactamente o inverso ou seja: que em presença de um aumento da temperatura ambiente, o acréscimo da mortalidade decorrente nos meses temperados é mais que compensado pela diminuição da mortalidade nos meses mais frios. Abençoado calor!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Da particular "oportunidade" da greve geral

Como era muito provável acontecer, o anúncio do bailout à Irlanda em nada acalmou os mercados. Se algo parece ter acontecido, é exactamente o contrário. Veja-se a já habitual tabela, às 19:45 de hoje:


Desde anteontem, a taxa de juro pedida no mercado secundário para as obrigações a 10 anos subiu 37 pontos para Portugal e 34 pontos para Espanha. Tudo parece ir-se precipitar rapidamente restando saber se a infecção chega ou não a Espanha. A greve de hoje por cá outra coisa não fez senão ajudar à "festa" (veja-se a imprensa internacional).

É interessante ler a opinião da Der Spiegel quanto às perspectivas para o euro e verificar que são até algo optimistas mesmo quando sabem (os alemães) que "manda quem paga". A figura seguinte, retirada da mesma revista, fornece uma chave de leitura para a actuação das autoridades alemãs no que toca à defesa das posições dos seus bancos face aos empréstimos que estes forneceram aos PIIGS.


Ciência em Portugal: sucesso real ou estatístico?

Ciência: Portugal ultrapassa Espanha, Irlanda, Itália... e aproxima-se da Noruega.

"O investimento português mais do que duplicou entre 2005 e 2009 e o seu crescimento verifica-se tanto no setor público como no setor empresarial, apesar do clima recessivo que tem atingido a economia portuguesa nos últimos anos. De facto, o número de empresas com atividades de I&D subiu de 1833 para 1989 em 2009 e a despesa dessas empresas quase triplicou desde 2005."

Tenho uma grande - enorme - curiosidade em conhecer as metodologias de recolha dos dados que levam a esta posição tão desconforme com a realidade empresarial que se vai conhecendo...

Catastrofistas ou mistificadores?


O senhor da fotografia é o Professor Paul Ehrlich de há décadas ligado à Universidade de Stanford. De formação entomólogo com especial interesse em borboletas, cedo passou a interessar-se pelas questões ligadas à demografia e à ecologia sendo ainda hoje uma das figuras de proa do movimento ambientalista.

Paul Ehrlich tornou-se particularmente notado quando publicou, em 1968, The Population Bomb. Neste livro Ehrlich retoma as teses catastrofistas de Thomas Malthus (1766-1834) segundo as quais o aumento exponencial da população, combinado com um aumento não tão rápido de alimentos e um "mais que provável" esgotamento de recursos naturais tornariam o Armagedeão inevitável. As previsões de catástrofes, qual delas mais apocalíptica que a outra, foram-se sucedendo. Nenhuma se concretizou mas, para o Professor de Stanford, tal não lhe causou nenhum problema. Por um lado, para os cientistas promotores do alarme há sempre dinheiro a fluir; por outro, se a catástrofe anunciada não aconteceu  (por exemplo, "em 1984 os Estados Unido estariam literalmente a morrer de sede") re-anuncia-se para uns anos ou décadas mais tarde. Aliás, numa retórica em tudo igual à dos alarmistas do "aquecimento global", mesmo "que actuássemos agora já não poderíamos evitar [a catástrofe]", apenas minimizá-la.

E este homem que apostou e perdeu, em toda a linha, a sua aposta com Julian Simon, continua hoje, mesmo nos meios universitários, a ser alvo dos maiores encómios e a dispor de financiamentos generosos. Julian Simon morreu quase no anonimato porque, como sabemos, ter a razão do seu lado não é suficiente para que esta se imponha à irracionalidade fundamentalista veiculadora do medo.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Os nossos avós e as pensões de velhice

A emergência e o sucessivo engordamento do Estado "social" foram motivando, ao longo dos anos, no que é a meu ver talvez a sua consequência mais negativa, uma desresponsabilização individual com contornos infantilizantes relativamente a um conjunto de valores que os nossos pais e especialmente os nossos avós perseguiram. Refiro-me à necessidade de constituição de aforro quer para acorrer a despesas imprevistas quer, sobretudo, para "segurar" a velhice e possibilitar uma transmissão da riqueza amealhada, ainda que parca, aos descendentes.

Ao longo dos anos, e contra toda a evidência empírica, nunca o PS, por razões meramente ideológicas, admitiu sequer discutir seja o plafonamento das pensões de reforma seja a introdução de mecanismos mistos para a formação das pensões de velhice. O que o PS fez, tendo a lata de alardear ter "salvo" o sistema de pensões (o que é falso, apenas o adiou por mais uns anos), foi simplesmente ir diminuindo os seus montantes.

Vem isto a propósitode um estudo hoje divulgado segundo o qual um indivíduo que hoje tenha 55 anos e se vá reformar aos 65 (se o limite de idade não se alterar entretanto como é, diria, inevitável...) só receberá 69% do último salário auferido, contra os cerca de 75% hoje. Por outro lado, um jovem de 25 anos que comece hoje a trabalhar, com as regras actuais, terá a esperar por si, após 40 anos de trabalho, uma pensão equivalente a apenas 53% do último salário.

Com esta informação disponível e permanecendo a teimosia de um Estado "social" nos moldes e abrangência que temos conhecido, o mais certo é que estes valores se degradem ainda mais pelo que os jovens que consigam ingressar no mercado de trabalho devem, o mais cedo possível, começar a constituir poupanças tendo em vista salvaguardar uma velhice condigna.

A força das circunstâncias irá obrigar os meus filhos a "regressar" ao tempo dos meus avós. Poupar é uma virtude. Sempre foi. Mesmo que os keynesianos tenham horror à poupança e vejam o consumo como a solução de todos os males, nem que seja a crédito, por tempo indefinido. Foi assim que chegámos onde chegámos.  

Propostas de redução da despesa pública - VI


As empresas não necessitam - não devem - ser ajudadas. O que elas precisam, isso sim, é que não lhes sejam levantadas dificuldades de toda a ordem. Extinga-se, portanto.

Quantitative easing (2) explicado a crianças de 12 anos


The animals - House of the rising sun

E por cá fico à espera da resposta à resposta.

William Turner - Mortlake terrace

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Ainda a inflação e os metais preciosos


Não é o ouro que está subindo, as moedas nacionais é que se estão afundando. É James Turk, o fundador de GoldMoney, quem o afirma profetizando que o ouro  irá continuar a subir atingindo os 8000 dólares a onça dentro de cinco anos (nos últimos tempos a cotação tem rondado os 1400 dólares). Quando lhe perguntam se a desenfreada subida que a cotação do ouro (e de outros metais preciosos como a prata e a platina) não é apenas o resultado de intensa especulação responde que uma onça de ouro compra hoje a mesma quantidade de petróleo que em 1950. A ler a entrevista.

De Espanha... mais do que já cá temos

En España el emprendedor está mal visto, aquí todos quieren ser funcionarios.

A persistência do ridículo

Modelo dos blindados adquiridos
Segundo o Público, o primeiro dos seis blindados (adquiridos para a cimeira da Nato com o "saldo de gerência" do Governo Civil de Lisboa) chegou ontem a Portugal de avião - tal era a urgência! Para que fiquemos descansados, o porta-voz da PSP informa-nos que “comprovadamente as viaturas blindadas não foram necessárias”.

Perigo de contágio ou infecção já declarada?

Os mercados - aquelas tenebrosas entidades que continuamente conspiram, através da especulação desenfreada contra a nossa soberania (quando os juros estavam baixos, designavam-se por investidores... - parece continuarem desconfiados da nossa capacidade de cumprir os nossos compromissos. Mesmo depois do risco de contágio se ter reduzido, pelo menos do lado da Irlanda...

Socorro-me de "bonecos" já habituais por aqui retirados às 20:35 de hoje. O primeiro, estabelece o ranking do risco de default relativamente aos títulos de dívida a 5 anos. Atente-se no nosso "honroso" 6º lugar.


O segundo compara as taxas de juro no mercado secundário dos títulos de dívida a 10 anos. Julgo não serem necessários comentários.


Contas públicas e tretas associadas

O gráfico abaixo faz parte da síntese orçamental hoje divulgada. Ele evidencia o andamento ao longo do ano do saldo entre despesas e receitas do sub-sector Estado, comparando-o com o do ano anterior. Resulta evidente que, até à data, 2010 tem um comportamento praticamente igual ao de 2009 em que «o défice subiu muito porque o deixámos subir, como era nosso dever» nas inesquecíveis e despudoradas palavras do nosso primeiro-ministro. Igual apesar de um PEC II em Maio que voltou a umentar os impostos e, supostamente, a cortar na despesa. É essencialmente por isto - incapacidade de cumprir metas e de inverter o descalabro das contas públicas - que, também na minha opinião, o FMI está a bater-nos à porta. E nada mais. O resto são tretas.

Próximo!

Finantial Times: «Two urgent questions now face Germany, France and their partners in their struggle to convince the US, China and other non-European governments, not to mention global financial markets, that they have matters under control. The first is whether the Irish bail-out will ease pressure in the bond markets on Portugal, the eurozone’s next weakest link, and obviate the need for a third rescue operation.
The second is whether Europe’s leaders can succeed in dispelling the confusion that surrounds their plan, originally a German brainwave, for the creation of a permanent crisis resolution mechanism for eurozone states in deep financial trouble».

Wall Street Journal - Em artigo intitulado Two Down, How Many Other Countries to Go in Euro Rescue Mission?, no primeiro parágrafo lê-se: «Right, so that’s Ireland sorted. Let’s move on to Portugal.»

The Telegraph - Portugal next as EMU's Máquina Infernal keeps ticking: «The Portuguese seemed baffled - and pained - that investors should link their country in any way with Greece or Ireland. I am afraid they must come to terms very soon with some unpleasant facts.»

domingo, 21 de novembro de 2010

Ouro ou acções e obrigações?

A figura abaixo evidencia a evolução da cotação do ouro, medida em dólares, nos últimos 5 anos. Em dólares, a cotação do ouro tem crescido à taxa anual de mais de 20%. Os defensores do "hard money" interpretam esta evolução como a efectiva depreciação do dólar face ao ouro e apostam que as sucessivas doses de estímulos" e do quantitative easing" não poderão senão acentuar esta tendência. Ou seja, dizem-nos: se puderem, comprem ouro e preservem-no.


Há todavia quem ache que esta evolução do ouro apenas resulta de pura "especulação" pelo que importará continuar a prosseguir os investimentos nos instrumentos tradicionais seja em dinheiro "vivo" (através de depósitos bancários), seja em títulos (acções, obrigações, etc.). O boneco abaixo ilustra os argumentos das duas perspectivas. Este blogue não é nenhum consultório relativo à aplicação de poupanças mas, se eu pudesse, apostava no ouro...


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TuRKeY iN THe FeD

No Thanksgiving Day (dia de Acção de Graças), os americanos (e os canadianos) agradecem a Deus, à família e aos amigos o acesso aos bens materiais e a tudo o que bom lhes aconteceu no ano transacto. Tal como ocorre por cá no Natal, o perú é o grande sacrificado. Com humor, e encarnando Ben Bernanke o perú do Thanksgiving (e reparem de que são feitas as penas da cauda...), vale a pena ir até ao Zero hedge.

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Q. E. Turkey - Perú "Quantitative Easing"


Freddie Mercury and Montserrat Caballé - Barcelona

Max Beckmann - Party in Paris

Japão - 20 anos de declínio ou estagnação


Que é feito do Japão? O que aconteceu à gigantesca economia oriental construída sobre os escombros de um país literalmente exangue após a sua derrota na II Grande Guerra e que ainda este ano sofreu a humilhação de ser ultrapassada pela economia chinesa? O que aconteceu para que tivessem desaparecido dos escaparates mil e um livros de "gestão" a explicar o gene japonês por detrás dos incontáveis e "insuperáveis" sucessos das grandes companhias? Que raio aconteceu para agora até a Toyota proceder à recolha massiva de centenas de milhar de automóveis por defeitos de fabrico? Que é feito da Qualidade Total? Do Just-In-Time? Do kaizen (melhoria contínua)? Do compromisso para a vida da empresa para os seus colaboradores e vice-versa? Etc.

A Der Spiegel, na versão inglesa trás esta semana um artigo de fundo que recomendo ler para se perceber a extensão do problema que vai corroendo o que se julgavam ser os factores de coesão social diferenciadores dos japoneses.

Este assunto é, a meu ver, particularmente relevante pois também nós portugueses estamos estagnados há uma década e há muitos que temem que os EUA possam transformar-se num outro Japão, ou seja, que também possam entrar num coma prolongado.

A figura abaixo, da The Economist, dá uma pista para a inquietação de muitos, que eu próprio partilho.


sábado, 20 de novembro de 2010

It’s About Looting, Not the Weather

Aproximando-se a reunião de Cancún no quadro de um nítido recuo de suporte da opinião pública pelas teses do "aquecimento global", o recurso ao newspeak acentua-se. Por exemplo, no video que postei aqui, aos 7'44" pode observar-se como a expressão "Global Climate Disruption" começa a emergir para substituir as crescentemente desacreditadas "Global Warming" ou "Climate Change". O texto que transcrevo em seguida vai também nesse sentido.


«"Distribution" refers to the crime of stealing wealth from those who created it and giving it to the dysfunctional collectivist dictatorships favored by the United Nations — and by our own liberal rulers.

Only a small child would think greedy bureaucrats can control the weather. "Climate change" is an obvious lie used as a pretext for massive theft.»

"Estado social" vs "modelo económico"

Estado Social goleia modelo económico. Foi uma cabazada. Por Jcd, no Blasfémias. Simplesmente brilhante.

Tim Buckley - Song to the Siren

A sugestão do leitor JM, a canção de hoje é de Tim Buckley, talvez o cantor mais polimórfico que alguma vez existiu. E com esta, quase que aposto que surpreendi o RioD'oiro (como aconteceu comigo com a, de resto excelente, Gigliola Cinquetti com "Non ho l'età").

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Blindados

Com a cimeira da NATO a terminar amanhã, os famigerados blindados que eram tidos por "imprescindíveis" para assegurar as adequadas condições de segurança para acontecimento tão relevante ainda não chegaram. Blindada parece ser a posição da PSP relativamente a este assunto.

Liberdade vs "ética" dos interesses

A este homem, Liu Xiaobo, foi atribuído o Prémio Nobel da Paz de 2010. A este homem foi negada autorização para que lhe pudesse ser entregue, em pessoa, esse prémio. Também à sua mulher e aos seus dois irmãos lhes foi negada a possibilidade de receberem o prémio em nome do seu marido e irmão. É assim que os regimes ditatoriais e particularmente os comunistas funcionam.

Não contentes com este miserável cercear da liberdade individual - que o pressuroso PC cá do sítio se apressou a saudar armando em virgem internacionalista ofendida - os responsáveis chineses fizeram agora também chegar aos diferentes países da comunidade internacional que a sua representação diplomática na cerimónia de entrega do prémio seria vista como um "acto hostil" e, desse modo, teria "consequências" pelo facto de a presença na cerimónia equivaleria a um apoio a um "criminoso".

Até à data já houve cinco países que comunicaram que não se fariam representar: Rússia, Cazaquistão, Iraque, Marrocos e Cuba. Sem surpresas, portanto. Há mais 16 países, alguns deles europeus, que ainda não confirmaram a sua presença. Portugal é um deles.

Max Beckmann - Moon landscape

A cimeira da NATO

A situação militar no Afeganistão? A tensão entre a NATO e a Rússia? O escudo anti-míssil? As matilhas de "manifestadores" profissionais? Sequer o comando NATO em Oeiras? Nah!

A notícia, a grande notícia, pelo menos para o DN, é esta: Obama beijou a filha de Luís Amado!

Oh diabo!

"Bancos portugueses são muito sólidos" e a situação portuguesa "é muito diferente da irlandesa".

Climategate is Still the Issue

Nas vésperas de Cancún, é oportuno fazer uma revisão da matéria "Climategate" do último ano.


Transcrição e links que documentam as afirmações produzidas no video podem ser consultados aqui.

Carta ao New York Times

Via Café Hayek
Fed Chairman Ben Bernanke, fresh from injecting hundreds of billions of new U.S. currency units into the economy – and from planning the injection of yet an additional 600 billion such units – criticizes the Chinese government for injecting hundreds of billions of new Chinese currency units into the economy (“Bernanke Takes Aim at China,” Nov. 18).  Apparently, when Beijing increases the supply of Chinese currency it does so as part of what Prof. Bernanke ominously labels a “strategy of currency undervaluation,” but when Uncle Sam does the same thing with U.S. currency units it’s called “quantitative easing” and “a move in the right direction.”
And then there’s this gem that you report: “Mr. Bernanke notes that in preventing the yuan from appreciating, China has accumulated a massive $2.6 trillion stock of U.S.-dollar assets.”  No mention by Prof. Bernanke that the Bush-Obama ‘stimulus’ spending was accomplished only because Uncle Sam sold jubababillions(*) of U.S. Treasuries.  Poor, innocent Uncle Sam – heroically borrowing from creditors eager to lend.  And rich, dastardly China – connivingly lending to debtors eager to borrow.
Can anyone articulate an adult reason why we treat the pronouncements and predictions of Prof. Bernanke and other Washington maharajahs more seriously than we treat the proclamations of late-night infomercial announcers or the predictions of Nostradamus junkies?
Sincerely,
Donald J. Boudreaux
(*) - Nova unidade de conta (NC - nota do copista)

Renováveis, subsídios e empregos "verdes" em Espanha

Segundo o Libertad Digital,  a publicação pelo Instituto Juan de Mariana (IJM) de um estudo e campanha de divulgação subsequente relativamente ao custo da energia verde, foi premiada na categoría de Melhor Iniciativa em Relaciones Públicas pelo Templeton Freedom Award da Atlas Economic Research Foundation. Segundo a Fundação Atlas, a publicação pelo IJM do seu estudo sobre os "Efeitos do Apoio Público às Energías Renováveis sobre o Emplego" (documento completo aqui)  "ha resultado ser una verdad inconveniente para los gobiernos que querrían justificar la creación de empleos verdes como una vía para promover la prosperidad económica y reducir el desempleo".

"A concessão do prémio coincidiu com uma nova declaracão e Rodrigues Zapatero, na Coreia, durante la Cimeira do G-20 sobre os empregos verdes, relativamente aos quais, disse, se poderiam gerar "até um milhão de novos postos de trabalho" durante a próxima década. Rodríguez Zapatero esqueceu-se porém de mencionar [de acordo com o supra referido estudo] que se poderiam perder mais de dois milhões de emplegos devido ao sobrecusto associado às suas políticas, algo que o IJM denuncia há vários anos"(*).

Aliás, o desastre financeiro é de tal ordem que o Conselho de Ministros voltou a baixar os ainda assim escandalosos subsídios à produção de energia solar fotovoltaica. Vejam-se os números deste ano até Outubro.

(*) - Tradução minha, um tanto livre.

Da negação repetida

Spain and Portugal rule out rescue packages
Countries disassociate themselves from Ireland’s crisis

«Negou S. Pedro na mesma noite a Cristo: negou uma, negou duas, negou três vezes: cantou na última negação o galo: Et statim gallus cantavit (*): e no mesmo ponto sai Pedro da Casa de Caifás convertido, e põe-se a chorar amargamente seu pecado: Egressus foras flevit amare (**) - Padre António Vieira, Sermões, Livro I

(*) - Jo 18:17 (E Pedro negou outra vez e logo o galo cantou)
(**) - Lc 22:63 (E tendo saído para fora, Pedro chorou amargamente)

Mendonça strikes again

António Mendonça repete discurso do seu secretário de Estado  no último dia do congresso da APDC.

A situação é tanto mais insólita que o Expresso, nos oferece o video do discurso do Ministro(?) e a transcrição do (mesmo) discurso feito pelo seu Secretário de Estado, Paulo Campos, para mostrar que não está a brincar!

William Turner - Caligula palace and bridge

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Profecias porosas


(Via SPPI blog)

A concorrência é uma chatice

Zeinal critica concorrência “inaceitável” nos preços do móvel.

Here we go again

Clicar na imagem para aumentá-la (fanada na The Economist)

A ler no The Economist.

Modelos e profecias

Suponho que na gíria universitária ainda se o use o termo "cadeirão" para designar um obstáculo curricular significativo no percurso do estudante de Economia. Recordo-me que, quando por lá andei, a Econometria era tida por ser um desses cadeirões. Ora ainda que pessoalmente não me tenha dado mal com a coisa, a verdade é que sempre embirrei com ela. Ora porque me parecia uma perda de tempo, por exemplo, estimar se existe uma relação inversa entre duas variáveis, quando a mera lógica dedutiva já nos dizia que assim era ou, por outro lado, porque me parecia de uma futilidade imbecil e de uma arrogância intelectual indizível pretender antever os resultados do comportamento de milhões de indivíduos dos milhares de milhões de interacções que estabelecem entre si.

A construção de um "modelo" ou seja, uma pretendida representação de certa realidade complexa, assenta essencialmente no axioma de que o que aconteceu no passado, acontecerá no futuro. Ora, não é preciso ter lido Nassim Nicholas Taleb para saber que, de quando em vez, existe um corte, por vezes brusco (os Black Swans), com o passado recente. É assim que a anos a fio de "exuberância irracional" sobrevém um crash brutal mesmo quando os activos, a posteriori reconhecidos como "tóxicos", tinham ratings de AAA. E repare-se: a fina flor dos matemáticos e físicos recrutada nas mais reputadas universidades estava (e lá permanece) ao serviço de Wall Street, do Lehman Brothers, da AIG, do Goldman Sachs, etc. Todos a elaborarem "modelos" e a construir novos produtos financeiros de "risco estatístico tendencialmente zero". Viu-se.

Ora estes "modelos" que se aplicam em Finanças ou em Economia são, no essencial do seu mecanismo, muito parecidos com aqueles outros utilizados pelos defensores da tese do aquecimento global pela via do efeito de estufa causado, por sua vez, pela emissão de CO2 de origem antropogénica, de metano e outros gases (entre os quais o vapor de água). Mais uma vez, coleccionam-se dados sobre o passado, identifica-se (ou julga-se identificar) uma tendência e pronto, temos um "modelo" a funcionar. Como, supostamente, a não haver batota..., o modelo "explica" o passado, e como o futuro vai tender a ser igual ao passado, nascem assim as previsões.

Nós, pobres cidadãos, que sabemos pela nossa própria experiência, como os meteorologistas têm muita dificuldade em produzir previsões úteis a mais de 5/10 dias, devíamos pois olhar para as previsões sobre o clima com muito maior cuidado, até porque, mesmo que muitos não queiram reconhecer, a temperatura média da terra não aumenta de há 10/12 anos, ao contrário do que os "modelos" profetizavam. 

Vem todo este arrazoado a propósito de um singelo parágrafo que acabei de ler na sacristia-mor do ambientalismo luso que é o canal Ecosfera no Público. Neste artigo pode confirmar-se, a certa altura, o que precede. Reparem só (realces meus):
Para se adivinhar quando é que vão ocorrer fenómenos extremos e raros como o furacão Katrina, que fustigou o Mississípi no Verão de 2005, é necessário fazer muitas simulações de cada modelo.
Sim, está correctíssimo. Trata-se de adivinhar. Daí a procura continuada que os serviços do Professor Karamba e similares têm que responder.
____________
Adenda: «Our present approach of dealing with climate as completely specified by a single number, globally averaged surface temperature anomaly, that is forced by another single number, atmospheric CO2levels, for example, clearly limits real understanding; so does the replacement of theory by model simulation.» (Prof. Richard Lintzen, ontem, em testemunho perante o Congresso - via WattsUpWithThat)

Quando a mentira se transformou na inverdade

«Um líder é certamente muito importante para um partido, mas quando um partido com a representatividade e transversalidade do PS fica refém de alguém como José Sócrates, não é apenas esse partido que fica com problemas. É o país. Por isso, neste final de 2010, o nosso maior problema não é o económico, é o moral. Sócrates, o homem que transformou  a mentira em inverdade, conduziu-nos a um pântano que a todos parece querer sugar para que assim fiquemos todos irmãos.

Os países pequenos sobrevivem a muita coisa, caso contrário não existiriam sequer. O caso português ilustra que conseguem superar a geografia e os azares da História. Mas nunca poderão dar-se ao luxo de não saberem dizer não a tempo e de confundirem a verdade com a mentira. Nós demo-nos a esse luxo e agora não sabemos como pagar esse deficit de valores que é certamente muito superior ao da dívida.»

Excerto da crónica de Helena Matos, Público, 18-11-2011

O inimigo está entre nós

À atenção dos senhores que nos governam e dos que nos querem vir a governar. Excerto do editorial de hoje do Irish Times:
The true ignominy of our current situation is not that our sovereignty has been taken away from us, it is that we ourselves have squandered it. Let us not seek to assuage our sense of shame in the comforting illusion that powerful nations in Europe are conspiring to become our masters. We are, after all, no great prize for any would-be overlord now. No rational European would willingly take on the task of cleaning up the mess we have made. It is the incompetence of the governments we ourselves elected that has so deeply compromised our capacity to make our own decisions.

Ele há coisas do caraculu

A ler, no Portugal dos Pequeninos.

Reputação inflacionada

Carta ao Washington Post (via Café Hayek, realces meus)

George Will doubts the Fed’s ability to carry out its “dual mandate” (“The trap of the Federal Reserve’s dual mandate,” Nov. 18). His doubt is well-founded.

This mandate, as described in 2007 by Federal Reserve governor Frederic Mishkin, is for the Fed “to promote the two coequal objectives of maximum employment and price stability.”

How’s it doing?

The Great Depression occurred on the Fed’s watch, as have several other recessions. As for price stability, from the Fed’s creation (in 1913) to 1945, the dollar lost 45 percent of its value; between 1945 and 1980 it lost another 78 percent of its value; and between 1980 and today yet another 62 percent of the dollar’s value was inflated away. All told, during the less than 100 years that the Fed has been charged with keeping the value of the dollar stable, the dollar has lost 95 percent of its value. This shrinkage in the dollar’s value since 1913 is especially striking in light of the fact that, between 1790 and 1913, the dollar’s value declined by only about 8 percent.*

Given this performance, Americans should be well and truly fed up.
Sincerely,
Donald J. Boudreaux
* See George Selgin, William D. Lastrapes, & Lawrence H. White, “Has the Fed Been a Failure?” (Working paper, Nov. 2010), p. 3:

far from achieving long-run price stability, it [the Fed] has allowed the purchasing power of the U.S. dollar, which was hardly different on the eve of the Fed’s creation from what it had been at the time of the dollar‘s establishment as the official U.S. monetary unit, to fall dramatically. A consumer basket selling for $100 in 1790 cost only slightly more, at $108, than its (admittedly very rough) equivalent in 1913. But thereafter the price soared, reaching $2422 in 2008.