quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Modelos e profecias

Suponho que na gíria universitária ainda se o use o termo "cadeirão" para designar um obstáculo curricular significativo no percurso do estudante de Economia. Recordo-me que, quando por lá andei, a Econometria era tida por ser um desses cadeirões. Ora ainda que pessoalmente não me tenha dado mal com a coisa, a verdade é que sempre embirrei com ela. Ora porque me parecia uma perda de tempo, por exemplo, estimar se existe uma relação inversa entre duas variáveis, quando a mera lógica dedutiva já nos dizia que assim era ou, por outro lado, porque me parecia de uma futilidade imbecil e de uma arrogância intelectual indizível pretender antever os resultados do comportamento de milhões de indivíduos dos milhares de milhões de interacções que estabelecem entre si.

A construção de um "modelo" ou seja, uma pretendida representação de certa realidade complexa, assenta essencialmente no axioma de que o que aconteceu no passado, acontecerá no futuro. Ora, não é preciso ter lido Nassim Nicholas Taleb para saber que, de quando em vez, existe um corte, por vezes brusco (os Black Swans), com o passado recente. É assim que a anos a fio de "exuberância irracional" sobrevém um crash brutal mesmo quando os activos, a posteriori reconhecidos como "tóxicos", tinham ratings de AAA. E repare-se: a fina flor dos matemáticos e físicos recrutada nas mais reputadas universidades estava (e lá permanece) ao serviço de Wall Street, do Lehman Brothers, da AIG, do Goldman Sachs, etc. Todos a elaborarem "modelos" e a construir novos produtos financeiros de "risco estatístico tendencialmente zero". Viu-se.

Ora estes "modelos" que se aplicam em Finanças ou em Economia são, no essencial do seu mecanismo, muito parecidos com aqueles outros utilizados pelos defensores da tese do aquecimento global pela via do efeito de estufa causado, por sua vez, pela emissão de CO2 de origem antropogénica, de metano e outros gases (entre os quais o vapor de água). Mais uma vez, coleccionam-se dados sobre o passado, identifica-se (ou julga-se identificar) uma tendência e pronto, temos um "modelo" a funcionar. Como, supostamente, a não haver batota..., o modelo "explica" o passado, e como o futuro vai tender a ser igual ao passado, nascem assim as previsões.

Nós, pobres cidadãos, que sabemos pela nossa própria experiência, como os meteorologistas têm muita dificuldade em produzir previsões úteis a mais de 5/10 dias, devíamos pois olhar para as previsões sobre o clima com muito maior cuidado, até porque, mesmo que muitos não queiram reconhecer, a temperatura média da terra não aumenta de há 10/12 anos, ao contrário do que os "modelos" profetizavam. 

Vem todo este arrazoado a propósito de um singelo parágrafo que acabei de ler na sacristia-mor do ambientalismo luso que é o canal Ecosfera no Público. Neste artigo pode confirmar-se, a certa altura, o que precede. Reparem só (realces meus):
Para se adivinhar quando é que vão ocorrer fenómenos extremos e raros como o furacão Katrina, que fustigou o Mississípi no Verão de 2005, é necessário fazer muitas simulações de cada modelo.
Sim, está correctíssimo. Trata-se de adivinhar. Daí a procura continuada que os serviços do Professor Karamba e similares têm que responder.
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Adenda: «Our present approach of dealing with climate as completely specified by a single number, globally averaged surface temperature anomaly, that is forced by another single number, atmospheric CO2levels, for example, clearly limits real understanding; so does the replacement of theory by model simulation.» (Prof. Richard Lintzen, ontem, em testemunho perante o Congresso - via WattsUpWithThat)

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