terça-feira, 26 de abril de 2011

A educação e as mercearias

Com os meus agradecimentos pela chamada de atenção por parte de António Costa Amaral, a seguir se traduz de forma algo livre (realces meus), o texto de Don Boudreaux, intitulado "Grocery School", na sequência do meu desabafo de ontem:

«Suponhamos que éramos abastecidos com artigos de mercearia da mesma forma que hoje nos são fornecidos os serviços relativos ao ensino oficial obrigatório [K-12 nos EUA].

Nessa situação, os residentes em cada município iriam pagar impostos sobre as suas propriedades sendo que uma enorme parte dessas receitas fiscais seriam então gastos pelos funcionários do governo na construção e operação dos supermercados/mercearias existentes no município. Aos munícipes seria atribuído um supermercado em particular, em função da sua residência. Nessas circunstâncias, cada família poderia então começar a consumir a sua quota semanal de mantimentos e restantes artigos de supermercado de "borla". (Os funcionários do Departamento de Supermercados, naturalmente, ficariam com a responsabilidade de determinar os montantes e tipos de mantimentos que as famílias de diferentes tipos e tamanhos teriam direito a receber.)

Excepto em raras circunstâncias, nenhuma família seria autorizada a adquirir produtos num supermercado "público" fora do seu município.

Os moradores dos municípios mais ricos (...) seriam, obviamente, servidos de melhores produtos e de maior variedade que os moradores dos municípios mais pobres. Na realidade, a qualidade dos supermercados públicos teria um papel determinante nas escolhas que as pessoas fariam dos bairros para viver.

Quando a qualidade dos supermercados fosse reconhecida por quase todos como deprimente, ir-se-ia operar um movimento em favor "da escolha do supermercado", movimento esse que seria de imediato rejeitado por uma coligação de trabalhadores de supermercados governamentais e colectivistas ideologicamente distraídos. Os objectivos últimos dos militantes "pró-escolha de supermercado" seriam vistos como tentativas para enganar os clientes dos supermercados do bom serviço prestado – na realidade, como tentativas para negar às famílias comuns a comida que elas necessitam para a sua sobrevivência. Tal "escolha," seria alegado, drenaria preciosos recursos dos supermercados públicos cuja (reconhecida) má performance apenas demonstraria o facto de estes  não terem o financiamento adequado.

E o pequeno grupo de pessoas que viria a pedir a total separação total entre supermercados e Estado seriam criticados por quase todos como sendo, na melhor das hipóteses, delirantes e - o que seria talvez mais realista - misantropos diabólicos indiferentes à desnutrição e fome que varreria a terra se às forças do mercado fosse permitido o aprovisionamento dos supermercados. (Alguns observadores indignados chegarão a pensar em voz alta na insensibilidade de se referir aos utentes de supermercado como "clientes"; certamente que o relacionamento entre fornecedores de alimentos essenciais à vida e as pessoas que os consomem não pode grosseiramente caber no conceito de uma relação "comercial").

(....)

Alguém acredita que um tal sistema para o fornecimento de alimentos iria funcionar bem, sequer num décimo da qualidade com que o actual sistema privado concorrencial de que depende o fornecimento de serviços de retalho no supermercado o faz? Para aqueles de vós que pensem assim, perdoar-me-ão, mas estais loucos.

Para aqueles de vós que ao invés entendem que um tal sistema para o fornecimento de serviços de retalho de supermercado seria uma catástrofe, como podereis continuar a contar-vos nas fileiras daqueles que acreditam que o sistema estatal de ensino (especialmente a forma como é actualmente financiado e fornecido) é o sistema que deve continuar a ser utilizado?»

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