quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Admitindo que esteja a falar verdade (corrig.)

parece que o TGV sempre será suspenso. Restará agora que nos expliquem, muito bem explicadinho, qual é a rentabilidade esperada (no mínimo, uma cobertura dos custos pelas receitas de exploração) de uma ligação ferroviária de mercadorias, ao que parece, que envolva (?) Sines e Algeciras

O ministro da Economia e Emprego que ainda há dias, se não estou em erro, falava na importância de termos uma ligação ferroviária à Europa em bitola europeia até à fronteira franco-espanhola, agora aparentemente posta em causa por Passos Coelho com a "compreensão" de Zapatero, talvez devesse durante o tempo de encomenda de realização do estudo de viabilidade do projecto ler (e meditar sobre) este post do João Miranda

Cobarde

é como ocorre classificar o Documento de Estratégia Orçamental 2011-2015 hoje apresentado. A punção fiscal vai continuar, desmedida, impante e espoliadora, ao longo de todo o período considerado ao mesmo tempo que o documento não contém, sequer um pensamento, quanto à imprescindível redução das funções do estado.

Continuamos com um governo socialista. Creio que já não subsistem quaisquer dúvidas quanto a esse facto.

A promoção da indigência mental

e, claro está, da tentativa de promoção de políticas públicas tendentes a perpetuar os baixos salários. O que o Joaquim quer significar quando escreve "[d]uvido que o capital, feitas as contas, pague menos que o trabalho, mas a verdade é que devia estar isento" (itálico meu).

Sinais de receio de Ron Paul

Michael Lind acusou ontem libertários, como Mises e Hayek, de serem lenitivos para com adeptos de regimes autocráticos. Para sustentar essa acusação, Lind cita a seguinte passagem de Mises, retirada da obra Liberalismus, escrita em 1927:
"It cannot be denied that Fascism and similar movements aimed at the establishment of dictatorships are full of the best intentions and that their intervention has for the moment saved European civilization. The merit that Fascism has thereby won for itself will live on eternally in history."
É o que basta a Lind para "arrumar" Mises como um adepto de Mussolini. Independentemente do facto, não assinalado por Lind, que Mises, de origem judia, ter tido que fugir da Europa para os Estados Unidos em 1940 (via Lisboa, por sinal), é velho o truque da extracção de um específico trecho de um texto para distorcer o que o autor verdadeiramente defendeu, na própria obra citada.

Se consultarmos o livro digitalizado a páginas 73-74 (de onde foi extraída a passagem citada), veremos a canalhice intelectual a que Lind se propôs. Como Jason Kuznicki remata, a propósito deste episódio: "The word I’d reach for wouldn’t be “fascist.” It would be “prophetic.” Especially given that these words were written in 1927".

Se me atrevesse a adiantar o palpite para a razão de ser de tão miserável mistificação, diria que Ron Paul está mesmo a assustar muita gente.
_______________
Leitura complementar: Libertarians in jackboots? por Roderick Long

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Farrakhan, a Fed e o Império

Louis Farrakhan, de quem já fiz aqui uma referência, é o líder de um movimento religioso conhecido por Nation of Islam que é inspirado em princípios islamistas e constituído essencialmente por afro-americanos. Farrakhan é um estudioso da história americana contemporânea com um interesse particular nas instituições financeiras e, talvez por isso, é também um crítico veemente do aparelho governamental americano nomeadamente na sua projecção imperial. Deste modo, para além da apreciação da sua poderosíssima retórica, creio ser muito interessante a substância desta sua  intervenção (via EPJ):

Frase do dia (6)

“Man as an individual is a genius. But men in the mass form the headless monster, a great, brutish idiot that goes where prodded.”
-- Charles Chaplin

Promovendo o sentido de manada

Depois da promoção da igualdade de rendimentos, de sexo (alargada recentemente à igualdade de "género"), de orientação sexual, de raça, dos resultados escolares, dos grupos religiosos, dos minus-valids, etc, Robert Wenzel chama a atenção para mais uma "falha de mercado" que, naturalmente, só ao Estado pode e cabe colmatar: refiro-me à prossecução da igualdade entre fei@s e bonit@s, onde os primeiros serão naturalmente (?) penalizados pelo mercado. Pelo menos é o que defende, no New York Times, Daniel Hamermesh, para minha vergonha, economista:
Beauty is as much an issue for men as for women. While extensive research shows that women’s looks have bigger impacts in the market for mates, another large group of studies demonstrates that men’s looks have bigger impacts on the job.

Why this disparate treatment of looks in so many areas of life? It’s a matter of simple prejudice. Most of us, regardless of our professed attitudes, prefer as customers to buy from better-looking salespeople, as jurors to listen to better-looking attorneys, as voters to be led by better-looking politicians, as students to learn from better-looking professors. This is not a matter of evil employers’ refusing to hire the ugly: in our roles as workers, customers and potential lovers we are all responsible for these effects.

How could we remedy this injustice? With all the gains to being good-looking, you would think that more people would get plastic surgery or makeovers to improve their looks. Many of us do all those things, but as studies have shown, such refinements make only small differences in our beauty. All that spending may make us feel better, but it doesn’t help us much in getting a better job or a more desirable mate.

A more radical solution may be needed: why not offer legal protections to the ugly, as we do with racial, ethnic and religious minorities, women and handicapped individuals?
Acreditando eu firmemente nesta asserção de Bruno Leoni, não posso deixar de sublinhar o terrível poder destrutivo daqueles economistas promotores do mais insane estatismo.

Um esquizofrenia muito comum

Miguel Noronha, chama a atenção aqui, citando uma passagem de um texto de Don Boudreaux - "Clear eyes on government" para ilustrar a "magia" na transformação de comportamentos e interesses daqueles que, agindo em esfera económica privada, apenas visam o prosseguimento dos seus próprios interesses, daqueles outros que, por serem actores no aparelho estatal, por milagre, apenas se preocupam com o "bem comum" e a prosseguir práticas altruístas. Reproduzo de seguida essa passagem:
Economists have long assumed that private-sector consumers and producers act chiefly to promote their own self-interests. This assumption is both realistic and the foundation of much of the knowledge that economists since Adam Smith have contributed to public understanding.

But when analyzing the public sector, economists naively assumed voters and government officials are motivated by concern for the general public and not by their own self-interests. That is, the same person who was assumed to act to increase his own well-being as much as possible and to have only limited knowledge about the way the world works when serving as president of, say, General Motors, was assumed to cast aside concern for his own well-being and to become blessed with encyclopedic knowledge and wisdom the moment he takes the oath of office to serve as, say, president of the United States.

One unfortunate consequence of this schizophrenia in economists' analysis was excessive trust in government.

A racionalidade do comportamento das famílias

Em situação de dificuldades, perseguir a diminuição dos níveis de endividamento das famílias constitui uma reacção normal e racional a essas dificuldades. Por que razão haverá então quem defenda que, no caso do endividamento público, a solução para enfrentar os problemas da economia passa, ao invés, por aumentá-lo? 


O Coyote sugere uma explicação (aspas minhas):
One of the problems with the "stimulus", in my mind, is that it was aimed at interrupting this process [da diminuição da dívida privada em relação do rendimento disponível das famílias].

Krugman e as alterações climáticas: uma treta pegada

Paul Krugman, no New York Times, 2011-08-28, Republicans Against Science. Um excerto:
[T]he scientific consensus about man-made global warming — which includes 97 percent to 98 percent of researchers in the field, according to the National Academy of Sciences — is getting stronger, not weaker, as the evidence for climate change just keeps mounting.

In fact, if you follow climate science at all you know that the main development over the past few years has been growing concern that projections of future climate are underestimating the likely amount of warming. Warnings that we may face civilization-threatening temperature change by the end of the century, once considered outlandish, are now coming out of mainstream research groups.
Ontem assinalava por aqui o que me parece ser uma evidência empírica tendo procurado resumir a coisa em "Alarmistas e estatistas: uma fortíssima correlação". Não tinha na altura lido a coluna de Krugman, mas que ela veio a propósito...

Analisemos então Paul Krugman, enquanto economista. Acaso alguém duvidará da sua condição de "estatista", entendida como favorecedora da sempiterna e crescente intervenção estatal na economia, ou seja, nos "estímulos", nos impostos, na dívida, na inflação, etc.? Creio ser pacífica esta "etiquetagem". Quanto a apodá-lo de "alarmista", também me parece adequado o epíteto pois Krugman não tem feito outra coisa nestes últimos dois anos que não seja profetizar desgraças tremendas caso a dimensão dos "estímulos" do Estado à economia americana (e europeia) não sejam suficientes. (Por "suficiente" entende-se o processo de aumento sucessivo da dose até que o paciente recupere afirmando depois que essa recuperação resultou dessa medicina que, como é bem de ver, é sempre a mesma, só variando a dosagem).

Como creio que Krugman não tem credenciais de cientista climático (como de resto o autor destas linhas) restará investigar Krugman, cidadão interessado em matéria científica. E aí, convenhamos, a pobreza da argumentação é confrangedora. Para Krugman, havendo consenso científico - quantificado, diz ele, entre 97 a 98% (and counting...) dos cientistas especialistas no estudo do clima - a ciência está estabelecida. Por amor de Deus, senhor prémio Nobel! Se a ciência fosse uma questão democrática (com maioria qualificada...), ainda hoje viveríamos no consenso científico contemporâneo a Cláudio Ptolemeu!

E por último, uma observaçãozita acerca de um tão propalado esmagador consenso (via Coyote):
Yes indeed, the number of people in the newly made-up profession of “climate science” that are allowed by the UN control the content of the IPCC reports and whose funding is dependent on global warming being scary probably is very high. The number of people in traditional scientific fields like physics, geology, chemistry, oceanography and meteorology who never-the-less study climate related topics that wholeheartedly are all-in for catastrophic man-made global warming theory would be very different.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Um grande salto atrás

é o que pode já ter ocorrido com o descomunal dispêndio de recursos levado a cabo pelo estado chinês no desenvolvimento de uma rede ferroviária para comboios de alta velocidade. É pelo menos isso o que se me sugere a avaliar pela descrição dos acontecimentos que motivaram o acidente entre dois comboios chineses de alta velocidade, no passado dia 23 de Julho. Ora reparem:
  • The fast train D301 came upon train D3115 after it was told to slow down by a control station in far-away Shanghai who was getting "red-light zone" messages. Unseen by train engineers, this warning is what D301 should have been receiving.

  • The red-light zone message implied either mechanical failure or a slower moving train ahead, despite this the Shanghai dispatcher allowed D3115 to move ahead slowly -- just as it began to roll it was slammed from behind by D301 at full speed.

  • Red-light zones are a problem for dispatchers who receive bonuses by keeping trains on time and D301's dispatcher was trying to make up for lost time.

  • D3115's dispatcher told the train it could go no faster than 20 mph when just moments before dispatchers from the same office told D3115 to speed up to 120 mph.

  • Experts say that train engineers require three months of training to become proficient. The Chinese ministry allows only ten days.

  • Japan took 10 years to build its 100-kilometer line and China has built several thousand kilometers in the same amount of time.
O resultado do Grande Salto em Frente, de 1958-1962, foi este:


Há cada vez mais razões para supor que a prosperidade chinesa tem muitos pés de barro ou, também num registo maoísta, não passa de um tigre de papel.

Alarmistas e estatistas: uma fortíssima correlação

Não levei a cabo nenhum "estudo", mas corro o risco de afirmar que existe uma correlação quase perfeita entre as categorias dos "alarmistas" e dos "estatistas". E não me parece difícil fornecer uma explicação credível para esse facto: os estatistas defendem que só o Estado, através das suas agências (ou, nos casos mais mitigados, da sua "regulação), poderá resolver, se necessário recorrendo à força,  as "ineficiências" dos mercados e as consequentes "iniquidades" e/ou "desigualdades"; os alarmistas "racionais" (não evangélicos), que têm por profissão o permanente anúncio do Apocalipse, olham para o Estado como a única entidade com a capacidade de evitar esse Apocalipse, das múltiplas ameaças de que a Humanidade é alvo - o aquecimento global, o esgotamento dos recursos naturais, a sobre-população, etc.

É por isso que um texto como o seguinte só podia mesmo vir de um intransigente defensor da generalizada intervenção estatal, como é o caso do New York Times ("Seeing Irene as Harbinger of a Change in Climate"):
The scale of Hurricane Irene, which could cause more extensive damage along the Eastern Seaboard than any storm in decades, is reviving an old question: are hurricanes getting worse because of human-induced climate change?

The short answer from scientists is that they are still trying to figure it out. But many of them do believe that hurricanes will get more intense as the planet warms, and they see large hurricanes like Irene as a harbinger.

While the number of the most intense storms has clearly been rising since the 1970s, researchers have come to differing conclusions about whether that increase can be attributed to human activities.

Via Real Science

Dados oficiais: http://www.nhc.noaa.gov/pastdec.shtml

domingo, 28 de agosto de 2011

Ron Paul: o candidato não convencional

Depois de o furacão "Irene" ter proporcionado uns dias de intensa campanha de atemorização que, afinal, vieram a redundar num acentuado fiasco mediático, só mesmo um homem de inquebrantável fibra moral como Ron Paul seria capaz de vir, hoje mesmo, reafirmar a inutilidade da FEMA ("Federal Emergency Management Agency"),  relembrando a catastrófica actuação desta Agência aquando do "Katrina" (ver aqui mais algumas ilustrações dessa incompetência própria de qualquer agência pública de planeamento central).

Pete Seeger - What Did You Learn In School?


Letra, por Tom Paxton:

What did you learn in school today,
Dear little boy of mine?
What did you learn in school today,
Dear little boy of mine?

I learned that Washington never told a lie
I learned that soldiers seldom die
I learned that everybody's free
And thats what the teacher said to me
And thats what I learned in school today,
Thats what I learned in school.

What did you learn in school today,
Dear little boy of mine?
What did you learn in school today,
Dear little boy of mine?

I learned the policemen are my friends
I learned that justice never ends
I learned that murderers die for their crimes,
Even if we make a mistake sometimes
And thats what I learned in school today,
Thats what I learned in school

What did you learn in school today,
Dear little boy of mine?
What did you learn in school today,
Dear little boy of mine?

I learned our goverment must be strong
It's always right and never wrong!
Our leaders are the finest men
And we elect them again and again
And thats what I learned in school today,
Thats what I learned in school

What did you learn in school today,
Dear little boy of mine?
What did you learn in school today,
Dear little boy of mine?

I learned that war is not so bad
I learned about the great once we had had
We fought in Germany and in France
And some day I might get my chance.
And thats what I learned in school today,
Thats what I learned in school

Frase do dia (5)

'Emergencies' have always been the pretext on which the safeguards of individual liberty have been eroded — and once they are suspended it is not difficult for anyone who has assumed such emergency powers to see to it that the emergency will persist.

Lendas e realidades (5)

De acordo com a opinião publicada - e recorrentemente relembrada - Nouriel Roubini passa por ser aquele economista genial que previu a grande crise de 2008 (nunca se fala que uma inteira escola económica - a Austríaca - há muito anunciava que as políticas da Fed e das bolhas que as mesmas criavam iriam redundar num desastre monumental).

Michael Suede resolveu recordar umas certas declarações que Roubini fez à Bloomberg em 2009:
Nouriel Roubini, the economist who predicted the global economic crisis, said a forecast by investor Jim Rogers that gold will double to at least $2,000 an ounce is “utter nonsense.”

There is no inflation or “near-depression” to drive gold prices that high, Roubini said today at the Inside Commodities Conference in New York. If a severe depression came to pass, with investors buying canned goods and hiding out in log cabins, “maybe you want some gold in that scenario,” Roubini said.

Maybe it will reach $1,100 or so but $1,500 or $2,000 is nonsense,” Roubini said.
Quanto a esta previsão, veja-se, por exemplo, aqui ou o gráfico seguinte que traduz a evolução da cotação do ouro nos últimos 30 dias:


E o que tinha dito Jim Rogers, ao Financial Times, de 3 de Novembro de 2009, para justificar uma tão definitiva profecia por parte de Roubini?
"I do expect a currency crisis, or semi-crisis, some time in the next year or two because there are so many imbalances in the world. And, that may sound radical but it’s always worked that way whenever there have been lots of problems you’ve had problems in the currency markets." - Jim Rogers

E Wenzel remata:

A verdade a que temos direito (*)

Como Jon Stewart, de todo insuspeito do "pecado" libertário, fazia notar aqui até aos limites do ridículo, o establishment, através dos mainstream media ao seu serviço, e apesar de todas as evidências empíricas, pretende fazer de conta que Ron Paul não existe e não é um actor relevante na corrida à candidatura presidencial americana do próximo ano.

Por cá, então, o silêncio é sepulcral. À excepção de uns quantos - poucos - blogues, a operação de supressão tem tido um sucesso a 100%.

Vejamos, por exemplo, o Público de hoje. Kathleen Gomes, correspondente do jornal em Washington (!), assina um dossier sobre a "Direita americana", nas páginas 24 e 25, cujo artigo principal está titulado "Um estrondo chamado Rick Perry, mais perto do duelo com Obama", sendo indicados como os três favoritos à nomeação republicana, para além de Rick Perry, Mitt Romney e Michele Bachmann.

Para credibilizar o tom geral do dossier, Gomes refere a certa altura:
"Uma sondagem da Gallup divulgada esta semana [26 de Agosto] revela que Rick Perry é o candidato republicano que mais agrada aos eleitores que se identificam com o Tea Party, recolhendo 35 por cento dos votos. A sua rival Michele Bachmann, tida como a madrinha do Tea Party, só obtém 14 por cento".
É falsa a afirmação? Não, não é, como o seguimento do link o demonstra (Ron Paul aparece em 4º...). Mas reparem: será que esta é a sondagem mais adequada para antecipar, pelo menos por agora, quem vai ser o próximo candidato republicano? Parece-me bem que não uma vez que o campo republicano não se resume ao Tea Party e seus simpatizantes e, quando se tem isso em conta (sondagem da Gallup publicada a 24 de Agosto), os números são diferentes (Paul passa a 3º, três pontos à frente de Bachmann...);


por outro lado, à escolha do candidato republicano não será com certeza indiferente o posicionamento estratégico de, em confronto directo com Obama, o candidato republicano o poder vir a derrotar (sondagem da Gallup publicada a 22 de Agosto): 


Ou seja, na hipótese de o frente a frente ser Mitt Romney /Obama, Romney venceria com uma margem de dois pontos; caso fosse Rick Perry o candidato, verificar-se-ia um "empate técnico"; frente a Ron Paul, a sondagem indica que Obama venceria por dois pontos que se transformariam em quatro se quem enfrentasse Obama fosse Michele Bachmann...

Restará registar que não há nenhuma referência a Ron Paul no dossier que Kathleen Gomes assina. Ela, que vive em Washington. Concluindo: o Público é, sem dúvida, parte integrante do establishment.
_________________
(*) Sim, eu sei que o título tem direitos de autor. Fartei-me aliás de procurar a fonte original e quando me aprestava para desistir eis que aqui, encontrei o que andava à procura. Reproduzo-o agora  com a devida vénia ao Pedro Rolo Duarte. Para os mais jovens, atenção especial ao quadrante inferior esquerdo da capa da 1ª edição d'o diário.

Clicar para ver melhor
Actualização: lembrei-me entretanto de Ephemera, o serviço público que Pacheco Pereira nos proporciona.

As ratazanas não querem que o navio se afunde

Robert Wenzel: Stiglitz's Attempt to Co-Opt Ron Paul's Anti-Fed Message

Tenha vergonha, senhor Presidente!

“É um bocado surpreendente que se discuta agora o imposto sobre a fortuna que vários países já tiveram, mas muitos aboliram, sem voltar a pensar na tributação das heranças, das doações.” 

“É um imposto que existe na generalidade dos países e que visa corrigir a distribuição de riqueza no momento em que uma pessoa recebe por herança ou por doação algo que não ajudou a construir.”
-- Cavaco Silva, citado pelo Público
Espero que, se acaso ainda tivessem dúvidas, finalmente tenham percebido o quão "neo-liberal" Cavaco é (e sempre foi).

Logo a seguir ao imposto sobre o rendimento, que Frank Chodorov considerava a "a raíz de todo o mal",
Em formato PDF
o imposto sobre sucessões e doações é porventura o instrumento mais poderoso de desestruturação da molécula base de qualquer comunidade: a capacidade de transmissão da propriedade ao sangue do seu sangue. Tenha vergonha, senhor Presidente!

sábado, 27 de agosto de 2011

Lendas e realidades (4)

Hoje o Expresso faz um exercício jornalístico (?), assinado por Anabela Campos, nas duas páginas centrais do caderno de economia, tendente a evidenciar que o país, pelo mão da troika e do PSD, se prepara para ficar sem empresas estratégicas o que justificaria o título principal - "Uns protegem, Portugal vende" - e o título secundário - "Privatizações - Portugal está prestes a sair das utilities, mas Alemanha e França mantêm grande peso nos seus sectores empresariais".

Catástrofe, portanto. Para a autora, o carácter "estratégico" de uma empresa desaparecerá logo que o Estado deixe de ter influência directa na gestão da mesma. Ou seja, e para dar um exemplo, o pequeno carácter estratégico que a PT ainda possuía, foi perdido há dias com o desaparecimento da golden share. Oh!

Anabela Santos, por razões que os leitores poderão avaliar, resolveu fazer uma espécie de benchmarking face, em particular, à França, à Alemanha, à Itália e à Espanha, para justificar a "caixa" da peça. Para isso, a jornalista elegeu os "sectores" dos comboios, da energia, dos correios, dos media e da água.

Tendo-me já em outras ocasiões pronunciado sobre os media (privatização integral da Rádio e Televisão Portuguesa  e da Lusa) e deixando o notável (a triste título) "sector" dos transportes ferroviários para outra ocasião, gostaria agora apenas de deixar uns apontamentos sobre quatro das utilities em causa: a produção de electricidade (EDP); a rede de distribuição eléctrica (REN), os Correios e a AdP. Sucede que nestes quatro casos estamos/estivemos em presença do que, primeiro os juristas (nos finais do século XIX) e depois os economistas (nos anos 20 do século XX), designaram por "monopólios naturais". E a construção lexical foi certeira.

Primeiro, um monopólio é algo de mau (impõe preços nos seus bens e serviços superiores aos "justos" pelo facto de ser o agente único no seu fornecimento); segundo, o facto de ser "natural", supostamente, inerente à actividade em concreto, implicava que tivesse que ser detido por mãos públicas ou, em caso do capital ser privado, tivesse que ser "regulado".

Ora, esta lenda não resiste à investigação histórica (para uma introdução rápida, ver aqui). Não há um único caso, um único, em que se tenha demonstrado a existência de uma actividade que, deixada ao livre funcionamento do mercado, se transformasse num monopólio. Pelo contrário, foram os estados que criaram os monopólios (através da lei) e só através da intervenção estatal é que eles puderam perdurar. A lenda de que o estado teve de intervir para impedir os efeitos nefastos dos monopólios naturais rapidamente se transforma na realidade: a) corrupção do estado por parte de donos de grandes empresas com grande receio da "concorrência excessiva" que solicitaram a regulação adequada que os protegesse de outros competidores; b) a assunção ideológica de que o estado devia controlar esses monopólios, até porque se tratavam de sectores "estratégicos"...

E a profissão dos economistas não ficou bem na fotografia, desenvolvendo a teoria a posteriori para justificar os monopólios "naturais" que legalmente já tinham sido constituídos. Tal como a "Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda", publicada em 1936, veio a servir que nem ginjas para as políticas intervencionistas estatais que emergiram em todo o esplendor desde o início da década de 1930's e nunca mais nos abandonaram.

ACTUALIZAÇÃO:
O leitor Jorge Oliveira fez-me chegar, por email, um conjunto de correcções que julgo oportuno aqui assinalar:
A EDP não se pode associar apenas à produção de energia, uma vez que explora também a Rede de Distribuição, que corresponde às tensões desde 60 kV até à Baixa Tensão.

À REN cabe a exploração da Rede de Transporte, que corresponde a tensões acima de 60 kV até 400 kV. Para além, claro, da rede de transporte de gás natural em alta pressão, por obra e graça do governo Barroso, que colocou a Transgás dentro da REN, uma decisão com que sempre discordei. A Rede de Transporte de electricidade corresponde às linhas que interligam os centros produtores entre si e também às linhas de interligação com Espanha.

A antiga EDP, como empresa pública, era uma empresa verticalizada, que abarcava a Produção, o Transporte e a Distribuição. Note, no entanto, que a separação entre Rede de Transporte e Rede de Distribuição é puramente convencional, na medida em que a rede eléctrica é única.

A questão que importa

Ainda que seja uma pessoa distraída, mas uma vez que continuo, ainda que estranhamente, reconheço, a ler o Público, não pude deixar de ler a notícia a que Helena Matos se refere e a sorrir, aziago, com o título "Inatel pagou 5000 euros por entrevista a Vítor Ramalho".

Tal como, por exemplo, a RTP, a questão não está tanto em avaliar se custa muito ou muitíssimo manter uma dada entidade pública ou se o grau de desperdício na sua gestão corrente é gigantesco ou apenas imenso. A questão, a única que verdadeiramente importa, é: por que carga de água mantêm os contribuintes a herança salazarista a que modernamente (desde 2008 sob a forma de fundação...) se dá o nome de Inatel e que já se chamou FNAT (Federação Nacional para a Alegria no Trabalho)?

Privatize-se, porra!

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Impagável

Via Lew Rockwell:
Writes Brian Wilson:

Obama goes to a primary school to talk to the kids to get a little PR. After his talk he offers question time. One little boy puts up his hand and Obama asks him his name.

" Walter," responds the little boy.

"And what is your question, Walter?"

"I have 4 questions:
First, why did the USA Bomb Libya without the support of the Congress?
Second, why do you keep saying you fixed the economy when it's actually worse?
Third, why did you say that Jeremiah Wright was your mentor, then said that you knew nothing about his preachings and beliefs?
Fourth, why are we so worried about Brazil drilling for oil, but we aren't allowed to?"

Just then, the bell rings for recess. Obama informs the kiddies that they will continue after recess.

When they resume Obama says, "OK, where were we? Oh, that 's right: question time. Who has a question?"

Another little boy puts up his hand. Obama points him out and asks him his name.

"Steve," he responds.

"And what is your question, Steve?"

Actually, I have 6 questions.
First, why did the USA Bomb Libya without the support of the Congress?
Second, why do you keep saying you fixed the economy when it's actually worse?
Third, why did you say that Jeremiah Wright was your mentor, then said that you knew nothing about his preachings and beliefs?
Fourth, why are we so worried about Brazil drilling for oil, but we aren't allowed to?
Fifth, why did the recess bell go off 20 minutes early?
And sixth, what the #$%@ happened to Walter?"

Por que não cresce a economia

Retirado daqui

Frase do dia (4)

There are macroeconomic questions, but only microeconomic answers.

Que tal fazer em vez de anunciar?

Santos Pereira: Executivo quer dar o exemplo e fará "corte histórico" na despesa

Lendas e realidades (3)

Ontem recordava aqui a lenda segundo a qual, pela autorizada pena do dr. Mário Soares, a "desregulamentação" de que o mundo froi vítima terá sido o detonador da implosão de 2008 e subsequentes desgraças que nos atingiram e se instalaram entre nós. George W. Bush, em particular, terá, assim reza  a lenda, desempenhado o papel de grande desregulador.

Obama, a 9 de Fevereiro de 2009, na sua primeira conferência de imprensa, após o discurso de tomada de posse, afirmava:
What I won't do is return to the failed theories of the last eight years that got us into this fix in the first place, because those theories have been tested, and they have failed.
Não tendo Obama, na altura, elaborado sobre de que teorias falhadas se tratavam, Thomas E. Woods, em Rollback, adianta algumas especulações:
George W. Bush had been the biggest-spending U.S. presidente since Lyndon Johnson, not exactly a sign of laissez-faire. Did Obama's repudiation of his predecessor mean he would cut spending? Did he mean deficits and the debt would be reduced? Did he mean he wanted the Federal Reserve to stop tinkering with interest rates?

No president ever means that. Obama took those policies and doubled down on them. Change we can believe in turned out to mean more of the same, except worse.
Resta a matéria da "desregulamentação" embora esta hipótese sofra de um problema sério. Com efeito, a única peça legislativa de desregulamentação do sector financeiro (que chegou a ser apontada como factor importante do desastre - revogação parcial do Glass-Steagall Act, de 1933 -) ocorreu durante o mandato de Clinton e, curiosamente, até foi apoiada pelo actual vice-presidente Joe Biden!

Mas talvez que o melhor seja, pelo seu carácter esmagadoramente objectivo, consultar a evolução do número de páginas de regulamentação federal produzidas anualmente que constam do Federal Register (XLS e PDF) que infirmam, à evidência, qualquer tendência desregulamentadora de Bush filho.

- 1993 a 2000 (grosso modo, 2 mandatos de Clinton) - 531,855  páginas (média de 64,482/ano)
- 2001 a 2008 (idem, de George W. Bush) - 587,320 páginas (média de 73,415/ano)
- 2009 a 2010 (1/2 mandato de Obama) - 150,003 páginas (média de 75,002/ano)

Em Portugal, que eu saiba, não existe um registo centralizado que permita fazer esta quantificação embora não sejam precisos grandes dotes estatísticos para intuir a sucessiva e crescente avalanche de "regulamentação", o mesmo é dizer, da diminuição da liberdade de contratar ou, ainda, da prevalência da Lei sobre o Direito.

Austrian Economics: Why It Matters (act.)

Uma riquíssima e cristalina entrevista de Thomas E. Woods Jr. onde se explica, de forma simples mas não simplista, no que consiste a disciplina económica vista pelos "Austríacos". Woods combina, como poucos, o poder da análise económica com o domínio da história económica. IMPRESCINDÍVEL!

Extinga-se a Parque Escolar

como o prof. Ramiro Marques aqui propõe na sequência da apresentação pelo PCP do Projecto de Lei 36/XII.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Pois que o Estado pague o que deve

é a ungente sugestão de Tavares Moreira a  propósito deste pré-anúncio: "Estímulos à economia anunciados nas "próximas semanas". Subscrevo integralmente.

Loucuras correlativas

Paul Krugman: Fake Alien Invasion Would End Economic Slump (com video)

"If we discovered that, you know, space aliens were planning to attack and we needed a massive buildup to counter the space alien threat and really inflation and budget deficits took secondary place to that, this slump would be over in 18 months."
Aliens may destroy humanity to protect other civilisations, say scientists, no Guardian

It may not rank as the most compelling reason to curb greenhouse gases, but reducing our emissions might just save humanity from a pre-emptive alien attack, scientists claim.

Watching from afar, extraterrestrial beings might view changes in Earth's atmosphere as symptomatic of a civilisation growing out of control – and take drastic action to keep us from becoming a more serious threat, the researchers explain.

This highly speculative scenario is one of several described by a Nasa-affiliated scientist and colleagues at Pennsylvania State University that, while considered unlikely, they say could play out were humans and alien life to make contact at some point in the future.
____________________
NOTA: Vale a pena ler o post completo no WUWT acerca do paper a que a notícia no Guardian se refere e que foi publicado na Acta Astronautica, concluindo pelo estado actual das práticas de peer review.

Lendas e realidades (2)

Lenda corrente:
A perda de biodiversidade atingiu níveis tão alarmantes que podemos já falar de uma sexta extinção em massa num futuro próximo. O ritmo de extinção de espécies animais e vegetais registado no século XX excede em 1000 vezes a média dos 65 milhões de anos precedentes. Mas há uma importante diferença entre a sexta extinção em massa e as outras cinco: não é explicável por factores naturais.

A agricultura e pecuária intensivas, a pesca de arrasto, a desflorestação ou a poluição são alguns dos factores que estão na base da extinção de espécies. Para contrariar os efeitos destas actividades destrutivas, foi criada a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas (CITES), que determina a interdição da exploração de espécies ameaçadas. Mas, como demonstraram as recentes negociações em Doha, esta Convenção é incapaz de cumprir o seu objectivo.

-- Ricardo Coelho no Esquerda.Net
Realidade alternativa (via direitos de propriedade privada). Realces meus:
Foto retirada daqui
In 1900, the southern white rhinoceros was the most endangered of the five rhinoceros species. Less than 20 rhinos remained in a single reserve in South Africa. By 2010, white rhino numbers had climbed to more than 20,000, making it the most common rhino species on the planet.

Saving the white rhino from extinction can be attributed to a change in policy that allowed private ownership of wildlife. While protecting the rhinos encouraging breeding, the ranchers were able to profit by limited trophy hunting.

Poaching for rhino horn, which is in high demand for medicinal and ornamental purposes, had also devastated the rhino population. CITES banned the commercial sale of rhino horn, which caused black market sales to sky rocket and encouraged poaching. If the ban were lifted, ranchers are ready to supply the market by harvesting the horns humanely, which then regrow just like fingernails.

Strong property rights and market incentives have provided a successful model for rhino conservation, despite the negative impact of command-and-control approaches that rely on regulations and bans that restrict wildlife use.

Lendas e realidades

A lenda:
«Os grandes do planeta não chegaram a qualquer acordo para que este nosso mundo desregulado e inseguro encontre um caminho de paz e de prosperidade», Mário Soares, 2010-11-16

«Realmente, não é só a economia que está desregulada e a política incerta e insegura, à espera de melhores dias - não sabemos quantos - para vencer a crise. É também a natureza, com tantas catástrofes sucessivas.», Mário Soares, 2010-04-20
A realidade (via Carpe Diem):


A coisa chegou aliás a tal ponto, no coração do suposto capitalismo, que já é necessária em Chicago, desde 2009, uma licença para exercer a actividade que consiste em auxiliar outros concidadãos a preencher formulários.

Obamanomics ethics by himself

A guerra perpétua justificada em nome da paz perpétua

Escreve David Henderson:
At a speech that Defense Secretary Leon Panetta gave at the Naval Postgraduate School in Monterey yesterday, I posed the following question:
Good morning, Mr. Secretary. I'm David Henderson, an economics professor here in the Graduate School of Business and Public Policy.
Ohio State University professor John Mueller stated in a recent article in Foreign Affairs:

an al Qaeda computer seized in Afghanistan in 2001 indicated that the group's budget for research on weapons of mass destruction (almost all of it focused on primitive chemical weapons work) was some $2,000 to $4,000.

In your previous job [I made a mistake here: he was already Defense Secretary when he said it but it seemed clear that these data were ones he got as CIA Director], you yourself pointed out that there are fewer than two dozen key operatives left in al Qaeda. Given our huge budget deficit, when do you say, "Enough is enough. Let's end those wars because the costs are so much higher than the hypothetical gains."
Here's his answer from Larry Parsons' report in the Monterey County Herald, which agrees with the one I remember hearing:
Responding to an NPS faculty member's question about winding down the costly wars in Afghanistan and Iraq, Panetta responded sternly.

"Those wars will end when the individuals who have threatened this country are no longer there to threaten our country," he said.

The goal is to leave Iraq and Afghanistan stable, secure and "in a position to build on the sacrifices that have been made," he said.
Ler o resto do artigo.

Lérias climáticas

Assinado por Nicolau Ferreira, o Público de hoje (edição em papel), na página 11, em página encimada por caixa a toda a largura "Clima - Aumento da temperatura das águas do Pacífico duplica hipótese de conflitos" apresenta um artigo, baseado num estudo publicado na Nature, cujo título é "Um quinto das guerras civis desde 1950 está associado ao El Niño". Sabendo do que a casa gasta, é impossível não começar por franzir o sobrolho. Mas, conceda-se o benefício da dúvida e gastemos algum tempo a ler o artigo. Destaco alguns trechos (realces de minha responsabilidade):

Sempre se tentou relacionar acontecimentos climáticos e meteorológicos a conflitos, guerras e fins de civilizações(...) O que agora uma equipa de cientistas acrescentou foram números que mostram que o fenómeno climático El Niño faz duplicar as probabilidades da existência de guerras e conflitos civis nas regiões do globo que sofrem os efeitos do aquecimento das águas do oceano Pacífico.

"O que é surpreendente no nosso estudo é a capacidade que o clima global tem para provocar violência."

O El Niño serve como modelo perfeito para estudar a dicotomia entre guerras e clima.
E como chegaram os investigadores a tal conclusão? O Público informa:
Os investigadores dividiram os países da Terra num grupo afectado pelo fenómeno [El Niño] e noutro não afectado. Depois mediram os conflitos civis desde 1950 (...) Os dados incluíram ao todo 234 conflitos, e mais de metade matou acima de mil pessoas.

Os resultados mostram que nos anos de El Niño os países que estão sob a sua influência climática duplicam a probabilidade de três para seis por cento de iniciarem um conflito civil. (...)

O estudo conclui também que nos últimos 60 anos, o El Niño "pode ter afectado" 21 por cento dos conflitos no mundo e 30 por cento dos conflitos nos países susceptíveis ao fenómeno.
No último parágrafo, lá se acaba por reconhecer que o "estudo" não estabelece "uma relação directa entre os efeitos do El Niño remetendo-se o "contraditório" das conclusões para o texto lateral, de muito menos destaque ("Como se faz a guerra? Falta explicar a relação entre clima e conflito"). Ou seja, na crítica aos investigadores da Universidade de Columbia, Halvard Buhaug, cientista político com bibliografia publicada a defender justamente a tese oposta, "[o] estudo falha em melhorar a nossa compreensão das causas dos conflitos armados já que não faz um esforço para explicar a associação entre os ciclos do El Niño e os riscos de conflito".(...) "Uma correlação não implica necessariamente causalidade".

Lérias.

Steve Jobs demite-se de CEO na Apple

Um dia triste.

To the Apple Board of Directors and the Apple Community:

I have always said if there ever came a day when I could no longer meet my duties and expectations as Apple’s CEO, I would be the first to let you know. Unfortunately, that day has come.

I hereby resign as CEO of Apple. I would like to serve, if the Board sees fit, as Chairman of the Board, director and Apple employee.

As far as my successor goes, I strongly recommend that we execute our succession plan and name Tim Cook as CEO of Apple.

I believe Apple’s brightest and most innovative days are ahead of it. And I look forward to watching and contributing to its success in a new role.

I have made some of the best friends of my life at Apple, and I thank you all for the many years of being able to work alongside you.

Steve

Defendendo o indefensável

Há dias, o Ricardo Campelo de Magalhães postou n'O Insurgente uma chamada de atenção para um livro tão estimulantemente provocador (thought-provocating chamava-lhe Ricardo) como, bem ao estilo do seu autor, Walter Block, bem humorado. Refiro-me ao título "Defending the Undefensable" que o Instituto Ludwig von Mises  disponibiliza gratuitamente (pdf).

John Stossel, no seu programa televisivo de há uma semana atrás, resolveu abordar os temas versados no livro - trabalho infantil, prostituição, agiotagem, venda de órgãos humanos, etc - infelizmente sem a presença em estúdio de Walter Block. Não obstante, o programa resultou bem, embora eu acompanhe Jeffrey Tucker, do Mises Institute, na crítica que faz a David Boaz, do Cato Institute, relativamente à suposta não relevância do tema "trabalho infantil" nos países ricos.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O legado de Bastiat

Entre um mau e um bom economista existe uma diferença: um confina-se ao efeito que se vê; o outro leva em conta tanto o efeito que se vê quanto aqueles que é necessário prever.

-- Frédéric Bastiat, "O que se vê e o que não se vê"
A frase acima consta de um dos mais importantes ensaios de Frédéric Bastiat (no original em francês, aqui) onde o grande homem destrói logicamente, uma após outra, as frequentes falácias no domínio económico. É desse mesmo ensaio que Bastiat desmonta a falácia da janela quebrada ("La vitre cassée"), falácia que está na raíz das receitas keynesianas. O video que se segue aborda o tema com propriedade:

Big Mama Thornton - Hound Dog

A Grande Depressão, o New Deal e a 2ª GG

Ontem foi notícia mais uma tirada krugmanita1 que, soube-se hoje, afinal até nem tinha sido escrita por Krugman (o que não quer dizer que ele não a subscrevesse...). A propósito deste episódio, cá pelo burgo blogosférico, trocaram-se argumentos entre ardentes keynesianos e seus adversários ficando uma vez mais evidente, pelo lado dos primeiros, a persistente mitologia em redor da Grande Depressão que a narrativa oficial adoptou e tomou como "verdade" histórica.

Já várias vezes chamei a atenção (aqui e aqui) para a necessidade de estudar aquele período admitindo a hipótese de a narrativa oficial estar errada. Errada pelo facto de o início do crash radicar no rebentar da bolha bolsista previamente alimentada por uma imoderada expansão do crédito bancário; errada por que Hoover não foi um presidente defensor, muito menos praticante, do laissez faire; errada pois Franklin D. Roosevelt (FDR), eleito numa plataforma de redução do défice público, multiplicou a despesa e o défice públicos sem quaisquer resultados, como Henry Morgenthau, Secretário do Tesouro de FDR confessou em 1937:
"We have tried spending money. We are spending more than we have ever spent before and it does not work. And I have just one interest, and if I am wrong … somebody else can have my job. I want to see this country prosperous. I want to see people get a job. I want to see people get enough to eat. We have never made good on our promises. … I say after eight years of this Administration we have just as much unemployment as when we started. … And an enormous debt to boot."
e eis que chegou a II Grande Guerra de que, refira-se, FDR prometeu poupar os jovens americanos, na campanha presidencial de 1940 - "you boys are not going to be sent into any foreign war".

Segundo reza a mitologia dos "guardiões do templo", foi só com a II GG que terminou a Grande Depressão. Krugman, naturalmente é um desses "gate-keepers". Segundo o próprio, «[I]t took an enormous public works program known as World War II to bring the economy out of depression» e, acrescento eu, acabar com o desemprego. Repare-se na amoralidade de tal asserção: seria a melhor maneira de dar aos americanos os bens de consumo que desejavam aumentar o ritmo de aviões de combate? Como comparar uma coisa com outra e, sobretudo, afirmar que mais canhões são preferíveis a menos manteiga? E quanto ao desemprego, que dizer de 11 milhões de jovens americanos masculinos que, em média, integraram as fileiras durante 33 meses através do recrutamento obrigatório? Será esta uma forma admissível de se lutar contra o desemprego?

Agora que se anuncia para a rentrée um novo pacote de "estímulos" por parte da administração Obama que, obviamente, nada irá provocar de duradouro, é altura de relembrar que há uma narrativa revisionista sobre a Grande Depressão e o New Deal que conta uma história muito diferente. Brincando um pouco, também aqui, Science is not settled!

____________________
1"People on twitter might be joking, but in all seriousness, we would see a bigger boost in spending and hence economic growth if the earthquake had done more damage."

Leitura complementar: Was the Fake-Krugman Accurate in His Representation?

Frase do dia (3)

It seems to be the destiny of individual freedom at the present time to be defended mainly by economists rather than by lawyers or political scientists.
-- Bruno Leoni, Freedom and Law, 1961

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Ben E. King - Stand By Me

Parábola vinda da Maçónia

o país das maçãs (Appleonia), admiravelmente escrita por Robert Higgs: Government Stimulus: Polishing the Rotten Apples.

A cotação do ouro reflecte uma bolha especulativa?

No EconMatters, deparei-me com o gráfico abaixo que relaciona a evolução do preço do ouro com a do índice S&P desde 1971 (ano em que Nixon eliminou a última ligação entre o dólar e o ouro) que permite desmontar a tese segundo a qual a cotação do ouro reflectiria hoje a existência de uma bolha especulativa pelo menos face à evolução do mercado bolsista. No dia de hoje, em que se verifica uma correcção significativa do preço do ouro (e dos outros metais preciosos), é uma boa altura para o assinalar.


Boas intenções ou promoção do infantilismo?


Através do Progblog, dei-me conta da publicação do boletim Regresso às Aulas em Segurança da responsabilidade da Direcção Geral do Consumidor e de uma tal Comissão de Segurança de Serviços e Bens de Consumo cuja logística de funcionamento depende da primeira (o mesmo acontecendo a um tal de Conselho Nacional do Consumo de que consegui, com dificuldade, "descobrir" uma acta).

Da capa da dita brochura, consta ainda a o logo da APED (Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição) talvez que a título de patrocínio, não sei até por que a mesma associação aloja no seu site o dito boletim (como se deduz da leitura do respectivo endereço - http://www.aped.pt/Media/files/regresso%20as%20aulas.pdf).

Aqui chegados, é já fácil surgirem algumas ideias racionalizadoras, ou seja, relativas a possíveis fusões/extinções de organismos inúteis.

Mas olhemos agora para o conteúdo do boletim, transcrevendo algumas passagens:
Quando planear a sua lista de regresso às aulas a protecção da saúde e segurança dos seus filhos deverá estar no topo das suas prioridades.

O primeiro passo, antes de efectuar as compras, é fazer um levantamento do material necessário e do orçamento que tem disponível.

A mochila e respectivo conteúdo não deverão pesar mais de 10%, do peso corporal da criança.

Alguns artigos escolares podem oferecer risco às crianças, designadamente, por serem tóxicos. Prefira as borrachas, canetas e lápis mais tradicionais, sem aromas ou perfumes. Procure, preferencialmente, as tintas de base aquosa, sem solventes.

Nas réguas, esquadros e afins, deve verificar se a escala e os números são legíveis e se não têm arestas cortantes.

[A propósito de "consumo sustentável"] [e]xistem já algumas alternativas no mercado nacional, como cadernos e agendas com folhas recicladas, pastas e embalagens com materiais reciclados, lápis produzidos com madeiras certificadas de reflorestamentos e até canetas produzidas com materiais biodegradáveis.

Na escolha destes produtos [eléctricos] tenha particular atenção à sua rotulagem, às instruções de funcionamento e de manutenção, e procure equipamento que lhe garanta os melhores níveis de eficiência energética.

[E] para protecção dos seus filhos, evite a aquisição deste tipo de roupa [com cordões fixos ou deslizantes], dando preferência a roupa mais prática e cómoda que permita às crianças deslocarem-se e brincarem em segurança.
O prof. Ramiro Marques que me desculpe mas, à excepção da regra simples do peso da mochila relativamente ao peso da criança, tudo o resto apenas reflecte o prosseguimento das agendas politicamente correctas que justificam em primeiro lugar a existência das próprias Agências governamentais e respectivas burocracias: a sacrossanta segurança, a gestão do orçamento familiar, o consumo "sustentável", a "eficiência energética", a "certificação", etc. Tretas1.
______________
1Todo este parágrafo constitui um comentário que deixei na caixa de comentários do ProfBlog.