quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A Grande Depressão, o New Deal e a 2ª GG

Ontem foi notícia mais uma tirada krugmanita1 que, soube-se hoje, afinal até nem tinha sido escrita por Krugman (o que não quer dizer que ele não a subscrevesse...). A propósito deste episódio, cá pelo burgo blogosférico, trocaram-se argumentos entre ardentes keynesianos e seus adversários ficando uma vez mais evidente, pelo lado dos primeiros, a persistente mitologia em redor da Grande Depressão que a narrativa oficial adoptou e tomou como "verdade" histórica.

Já várias vezes chamei a atenção (aqui e aqui) para a necessidade de estudar aquele período admitindo a hipótese de a narrativa oficial estar errada. Errada pelo facto de o início do crash radicar no rebentar da bolha bolsista previamente alimentada por uma imoderada expansão do crédito bancário; errada por que Hoover não foi um presidente defensor, muito menos praticante, do laissez faire; errada pois Franklin D. Roosevelt (FDR), eleito numa plataforma de redução do défice público, multiplicou a despesa e o défice públicos sem quaisquer resultados, como Henry Morgenthau, Secretário do Tesouro de FDR confessou em 1937:
"We have tried spending money. We are spending more than we have ever spent before and it does not work. And I have just one interest, and if I am wrong … somebody else can have my job. I want to see this country prosperous. I want to see people get a job. I want to see people get enough to eat. We have never made good on our promises. … I say after eight years of this Administration we have just as much unemployment as when we started. … And an enormous debt to boot."
e eis que chegou a II Grande Guerra de que, refira-se, FDR prometeu poupar os jovens americanos, na campanha presidencial de 1940 - "you boys are not going to be sent into any foreign war".

Segundo reza a mitologia dos "guardiões do templo", foi só com a II GG que terminou a Grande Depressão. Krugman, naturalmente é um desses "gate-keepers". Segundo o próprio, «[I]t took an enormous public works program known as World War II to bring the economy out of depression» e, acrescento eu, acabar com o desemprego. Repare-se na amoralidade de tal asserção: seria a melhor maneira de dar aos americanos os bens de consumo que desejavam aumentar o ritmo de aviões de combate? Como comparar uma coisa com outra e, sobretudo, afirmar que mais canhões são preferíveis a menos manteiga? E quanto ao desemprego, que dizer de 11 milhões de jovens americanos masculinos que, em média, integraram as fileiras durante 33 meses através do recrutamento obrigatório? Será esta uma forma admissível de se lutar contra o desemprego?

Agora que se anuncia para a rentrée um novo pacote de "estímulos" por parte da administração Obama que, obviamente, nada irá provocar de duradouro, é altura de relembrar que há uma narrativa revisionista sobre a Grande Depressão e o New Deal que conta uma história muito diferente. Brincando um pouco, também aqui, Science is not settled!

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1"People on twitter might be joking, but in all seriousness, we would see a bigger boost in spending and hence economic growth if the earthquake had done more damage."

Leitura complementar: Was the Fake-Krugman Accurate in His Representation?

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