quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Bruxelas a nu

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Depois de ter lido "The Great Deception: Can the European Union Survive?", livro a que já me referi aqui, aqui e aqui, fiquei com uma apetência especial por melhor tentar conhecer a história da União Europeia e, em particular, do euro1. Mão amiga, entretanto, fez-me chegar às mãos um pequeno livro da autoria de Marta Andreasen - "Brussels Laid Bare" -, onde ela relata a sua experiência - que só se pode caracterizar de kafkiana - como Chief Accountant na União Europeia, cargo que exerceu, após um processo de recrutamento que durou cerca de seis meses, entre o dia 3 de Janeiro de 2002 e finais de Maio... do mesmo ano! À data em que publicou o livro, Julho de 2009, o Tribunal de Contas Europeu (European Court of Auditors) tinha recusado, pelo 14ª ano consecutivo, o seu "visto" nas contas da União Europeia! Sabia disto, o leitor? Eu não.

Conta Andreasen que se deparou com uma situação em que nem sequer recebeu do seu antecessor as contas do ano transacto (2001) devidamente assinadas mas que, não obstante, se viu pressionada pelo seu chefe directo para que ela própria as assinasse assim se responsabilizando por algo que não conhecia nem podia conhecer; que os saldos finais de um ano não eram iguais aos saldos iniciais do ano seguinte; que não existia sistema informático único nem interesse pela sua introdução, apesar de já ter sido anteriormente comprado; que lhe pediam para dar autorização à efectivação de pagamentos sem que lhe fossem presentes os documentos que os justificassem, etc, etc. Depois de um relato impressionante que revela o total desprezo dos burocratas de Bruxelas pelo dinheiro dos contribuintes, vem a via sacra do processo disciplinar e da sua tramitação, prova duríssima a que foi sujeita. Talvez por isso Marta Andreasen, hoje membro do parlamento europeu eleita nas listas do UKIP, depois de Bernard Connolly, autor de "The Rotten Heart of Europe" (a quem José Manuel Fernandes aqui recentemente aludiu) e Paul van Buitenen, que viria a desencadear o escândalo que daria origem ao despedimento da Comissão Santer, tenha sido a última dos whistleblowers vinda do interior da impenetrável burocracia da União Europeia, responsável perante ninguém.

1Já em Setembro de 1957 Monnet sintetizava assim o significado de uma união monetária: "Via money, Europe could become political in five years".

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