segunda-feira, 7 de maio de 2012

Gostava de perceber

por que razões a subida da extrema direita [nas recentes eleições europeias] deve ser, segundo Cavaco Silva, uma causa de "grande preocupação" e a emergência de partidos ou personalidades com substanciais votações como os de Jean-Luc Mélenchon, em França, e do inacreditável Alexis Tsipras (líder do 2º partido (em rigor, coligação) mais votado) na Grécia, não causam preocupação alguma.

1 comentário:

Miguel Madeira disse...

Eu em tempos fiz um comentário (creio que no Insurgente) sobre isso que repito aqui:

Na minha condição de radical de esquerda, eu tenho uma teoria de porque é que nós somos melhor aceites que os radicais de direita:

Connosco, é uma questão de grau. É que nós defendemos, numa versão hard, ideias, que numa versão soft, são aceites por quase toda a gente: o problema do colectivismo radical dos comunistas ou do basismo radical dos ansocs (quanto à “esquerda alternativa” estilo BE, é basicamente uma mistura dos dois) está no adjectivo (“radical”) – quase toda a gente defende alguma subordinação da propriedade privada ao “bem geral” (até os liberais clássicos aceitam que tem que haver impostos), e também toda a gente reconhece que uma organização em que tudo seja decidido “de cima” não funciona bem (até – ou sobretudo! – os gurus da gestão empresarial). Assim, o mainstream tem connosco uma atitude de “eles até são bons moços, vêm é só um lado da questão”. E a reinserção social dos nossos arrependidos também é fácil – as posições do passado passam facilmente por “exageros de juventude”.

Já é diferente com a extrema-direita, porque esta defende ideias que estão intrinsecamente contra as ideias aceites pela generalidade das pessoas: o problema do anti-semitismo radical dos nazis, p.ex., não é o adjectivo, é mesmo o substantivo (“anti-semitismo”). Na verdade, se alguém aparecesse a propor um “anti-semitismo moderado” (algo que estivesse para o nazismo como os socialistas estão para os comunistas, ou os “verdes” para os ansocs), estilo “os judeus podem viver, mas têm que usar uma estrela amarela”, seria à mesma catalogado na extrema-direita e chamado “nazi”. Quanto o absolutismo monárquico, é a mesma coisa: o que é incompatível com as ideias dominantes não é o rei ter todos os poderes, é mesmo um rei ter poderes efectivos (aliás, é frequente monarquias constitucionais em que o rei tem poderes, como a Jordânia ou o Kuwait, serem referidas na impressa como “monarquias absolutas”)


Já agora, outro ponto que não referi na altura mas lembrei-me agora - a extrema-esquerda está também mais perto do mainstream do que a extrema-direita porque a extrema-esquerda está mais perto do centro-esquerda do que a extrema-direita do centro-direita:

há um continuo ideológico entre comunistas e social-democratas - um social-democrata pode ser visto como um comunista moderado, ou um comunista pode ser visto como um social-democrata radical.

Pelo contrário, não há nenhum continuo entre liberais e fascistas - o fascismo não é um liberalismo levado ao extremo, nem o liberalismo é uma versão leve do fascismo (embora com o conservadorismo e a democracia-cristã já haja alguns pontos específicos em que possam ser postos num continuo com o fascismo)