quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Da "oportunidade" de combate ao desemprego do furacão Sandy

É, por assim dizer, fatal como o destino. De cada vez que ocorre uma desgraça natural - um furacão, um sismo, um tsunami - ou não natural - uma guerra, ou um qualquer devaneio de governantes sob regime ditatorial (ocorre Ceausescu e a destruição que levou a cabo do centro histórico de Bucareste) ou democrático (por exemplo as olimpíadas de Atenas que ontem aqui referia) - eis que comentadores de vária espécie e, em particular, economistas de uma escola de pensamento conhecida, exultam com as "oportunidades" de "crescimento" que elas supostamente proporcionam. Quem, entre os menos novos, não se lembra, por exemplo, de ler e ouvir que o atraso português se atribuía à circunstância, desfavorável, de não termos participado na II Grande Guerra?

Robert P. Murphy, em Hurricanes Are Nature’s Keynesianism, desmonta pela n-ésima vez a mistificação keynesiana. Pareceu-me oportuno proporcionar uma tradução, de minha responsabilidade, do seu artigo na The American Conservative.
Era inevitável que com a chegada do furacão Sandy vários analistas económicos iriam especular sobre os seus efeitos sobre "a economia". Escusado será dizer que alguns diziam que o furacão iria estimular a despesa - tanto ao nível do comércio de retalho como ao da reconstrução - e nesse sentido poderia realmente proporcionar um aumento do PIB. Todo o episódio é ainda outro lembrete de que as velhas falácias teimam em persistir em economia. A noção de senso comum de que um desastre natural é algo de mau está correcta; só analistas "sofisticados" poderiam pensar de outra forma.

O problema básico aqui é o que Henry Hazlitt designou por "falácia da janela quebrada", seguindo a exposição famosa de Frédéric Bastiat. A ideia fundamental é que é uma miopia concentrar a atenção apenas no emprego dado aos trabalhadores que têm de proceder à reconstrução após um qualquer acto de destruição. No presente caso, é certamente verdade que os vidraceiros, os produtores de cabo telefónico e as diversas equipas de construção observarão uma maior procura pelos seus serviços após a passagem do furacão Sandy. Os seus lucros mais elevados, por sua vez, poderão levá-los a gastar mais em restaurantes, artigos de luxo e assim por diante, promovendo o emprego também nesses sectores [o "efeito multiplicador"]. Esta é a génese da noção de que um acto de destruição pode ser um mal que venha por bem.

Mas o que este ponto de vista esquece, explicou Bastiat e depois Hazlitt, é que as pessoas iniciais que estão a gastar dinheiro na reconstrução poderiam ter gasto o seu dinheiro noutras coisas. Assim, em vez de pagar, digamos, 1000 dólares para substituir a sua estilhaçada vitrina da loja, um lojista poderia em vez disso ter gasto 1000 dólares comprando um computador novo. Assim, a utilização adicional dada ao vidraceiro et al., por causa do furacão, seria meramente redireccionada da utilização que de outra forma poderia ter ido para a indústria de software e para todos os restaurantes, etc., nos quais os seus colaboradores teriam gasto os salários.

Além disso, Bastiat e Hazlitt assinalaram que não é simplesmente um jogo de soma nula: no caso do furacão, não há nenhuma nova riqueza criada, as pessoas têm que despender trabalho e outros recursos escassos apenas para regressar ao status quo. Na ausência da tempestade, as despesas extras teriam levado à criação de novos itens de riqueza, ou de um fluxo adicional de serviços.

Agora, um economista keynesiano sofisticado poderia responder aos meus argumentos acima apresentados argumentando de acordo com as linhas seguintes: "Sim, de um modo geral um desastre natural não confere qualquer benefício económico. Porém, no caso de existirem recursos disponíveis ociosos e um desemprego elevado -  situação que agora enfrentamos - o choque artificial da procura faz aumentar de facto o PIB, em vez de alterar meramente a composição daquilo que é produzido. As pessoas adicionais postas a trabalhar para reparar os danos causados por tempestades não se limitam a provir de outras cadeias produtivas, porque havia uma gigantesca pool de pessoas desempregadas nas vésperas da tempestade".

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Notícias do ultraliberalismo reinante (6)

Foi publicada hoje a portaria nº 352/2012 que visa actualizar a "regulação" do regime legal referente à abertura de novas farmácias (atribuição de alvará) e a transferência da sua localização (e do respectivo alvará). Podemos ficar descansados! Continua a vigorar um panóplia de medidas preventivas, respaldadas no "princípio da precaução", que assegura a impossibilidade de uma qualquer conjura capitalista nos envenenar, porventura em larga escala, na busca do lucro imoral (o das farmácias já existentes não interessa ao caso). Apenas um cheirinho quanto a alguns dos requisitos a observar para que uma nova farmácia possa surgir, recomendando também uma olhadela ao Capítulo III, referente à "transferência da localização da farmácia":

Epifania tardia (2)

Até já Miguel Sousa Tavares percebeu:

"Como se viu agora, pela estrutura de despesa do estado, 90 e tal e por cento disto é despesa fixa, ou seja, o estado não pode cortar isto sem estar a cortar ou no funcionalismo público, ou na defesa, ou na justiça, ou na política externa ou então nas prestações sociais das pessoas. Significa que não sobra nada, nem sequer para pagar a dívida que temos para reduzir o défice a zero, ou para o estado, ele próprio, investir."

Falácia ominosa

Quem percorra o país de automóvel fica siderado com o vasto conjunto de obras rodoviárias que ou já estão paradas ou se aprestam a parar. Para não falar das muitas mais que se concretizaram e nunca tiveram tráfego que se visse (não me canso de me espantar com a extraordinária variante ao Troviscal-Castanheira de Pera). Havia que aproveitar os fundos comunitários e "estimular" a economia, tanto mais que o país estava em recessão e o desemprego já subia. Era esta a doutrina oficial, nitidamente "crescimentista". De resto, havia que completar esse monumento à arrogância e ao desperdício do planeamento central baptizado, ao melhor estilo estalinista, por Plano Rodoviário Nacional.

Mas persiste a falácia ominosa. Ouve-se, inclusivamente de pessoas distintas e até de amigos com quem tenho o prazer de "terçar armas" a uma mesa de refeições: "não as acabar será o mesmo que jogar o dinheiro já despendido à rua". Mas não compreenderão que gastar ainda mais dinheiro em obras inúteis é desperdiçar ainda mais recursos que não temos? Haverá ainda alguma dúvida que teria sido melhor parar a desistir da construção de boa parte dos estádios de futebol do Euro quando a sua construção estava a meio? Ou será que acham preferível chegar a coisas como a que se segue a título de assegurar o prestígio do país (no caso, a Grécia) e, claro está, dos seus governantes?

Foto retirada deste conjunto
E não se pense que são apenas os PIIGS que embarcam neste frenesi "estimulador". Também os "conservadores" britânicos abraçaram a causa apesar dos seus efémeros efeitos no presente (e persistente dívida no futuro...).

Talvez por não irem facilmente em cantigas deste tipo, a Holanda é um dos poucos países que ainda mantêm  a notação AAA. O novo governo holandês acaba de anunciar o abandono "[d]a ideia da Holanda se candidatar a sedear os Jogos Olímpicos devido aos 'riscos financeiros'".

domingo, 28 de outubro de 2012

Citação do dia (89)

"It is hard to imagine a more stupid or more dangerous way of making decisions than by putting those decisions in the hands of people who pay no price for being wrong."
Thomas Sowell

O inesperado impacto do "multiplicador" do azeite

Segundo o Público,
A produção nacional de azeite atingiu, na última campanha, o valor mais alto desde os anos 1967 e 1968: 76.203 toneladas que ajudaram a estimular o ímpeto exportador do sector.
...
"Há cinco anos, ninguém teria imaginado que seria possível este crescimento. A forma como os indicadores dispararam não era expectável", admite Mariana Matos, secretária-geral da Casa do Azeite, Associação do Azeite de Portugal.
Pois é, eis mais uma partida dos "multiplicadores". Depois dos tomates e das castanhas, chegou agora a vez do azeite surpreender (talvez não tanto os destinatários dos múltiplos subsídios à produção agrícola). Dogbert explica a coisa, de forma singela:


Portanto, e em resumo: não sendo as autoridades (nem de resto ninguém) capazes de antecipar o que vai acontecer, a prazo, com o mercado dos tomates ou o das castanhas, como crer, por um segundo que seja, na presunção - uma presunção fatal - de serem capazes de prever o resultado das escolhas e das interacções de milhões de indivíduos num dado intervalo de tempo? Não se trata de "errar" as previsões (por ter havido erro nas "contas"), trata-se tão só e apenas da incapacidade de prever o resultado de um fenómeno de  natureza caótica, não-linear. A Matemazição da disciplina da Economia é uma fraude intelectual como já em 1962, Ludwig von Mises, observava: "Como método de análise económica, a econometria é um acriançado jogo com números que em nada contribui para elucidar a realidade dos problemas económicos".

Futilidade estatista

O texto de que junto cópia digitalizada, da autoria de Paula Blank, inserto na edição em papel no Público de hoje, é um dos melhores exemplos que conheço em que se ilustra, com a crueza da realidade, a inutilidade do exercício voluntarista que constitui o Acordo Ortográfico de 1990. Falo dos propósitos enunciados pelos seus adeptos, em defesa da língua portuguesa, de um património que o Estado, na sua insuportável e aliás ilegítima presunção, entende ser de sua conta - e monopólio - tratar.

Andar há mais de 20 anos preocupados com algo de acessório, cuja adopção desfigura a forma escrita do português europeu (e africano) quando a evolução das variantes se vem realmente afirmando mas por uma cada vez maior dissemelhança vocabular e sobretudo sintáctica, é, também aqui, andarmos preocupados com o totalmente irrelevante e teimar em não querer ver a realidade. A tradução, de há muito, é uma das actividade em que a emergência das marcadas diferenças entre as variantes de português do Brasil e de Portugal é mais evidente. Trata-se de algo com que tenho lidado desde o tempo da faculdade e atravessou todo o meu percurso profissional. Hoje em dia, basta usar o Google (ou o Bing) para tentar traduzir um texto de uma qualquer língua que nos seja mais próxima. E retirar as devidas conclusões.

Paul Halley - Winter

sábado, 27 de outubro de 2012

Citação do dia (88)

Sempre achei fascinante a forma como muitos intelectuais, particularmente os de "direita", não se aventurando nos detalhes da coisa económica, por mero pudor ou simples desdém da disciplina (afinal uma dismal science, nas palavras de Thomas Carlyle), condensem o seu pensamento num único postulado actuante: o da (suposta) necessidade de subordinar a Economia à Política. E ponto. José Pacheco Pereira é um deles. Ao ler o artigo que hoje escreveu no Público (link ainda não disponível), recordei-me desta passagem de um texto que li muito recentemente  e que tentei traduzir da seguinte forma1:
"Os críticos da disciplina da Economia dizem que os economistas sabem o preço de tudo mas o valor de nada. Nada, talvez, seja tão intelectualmente perigoso no domínio das ciências políticas que um economista que apenas saiba de economia, excepto, acrescentaria eu, um filósofo moral que nada saiba de Economia."

Peter J. Boettke, Introdução à nova edição de Socialismo,
de Ludwig von Mises
1Procurarei regressar em breve a este (inesgotável) tema.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O multiplicador das castanhas

Ano de menos castanha, mas mais proveitos para produtores transmontanos.

Nota: durante este fim-de-semana, eventualmente num momento de pausa para provar umas castanhas, talvez valha a pena dar uma olhadela ao original da 5ª avaliação do FMI a Portugal (na página 13, há um parágrafo sobre "multiplicadores", matéria que tanto tem entretido os comentadores profissionais e contribuído para encher páginas dos jornais).

O longo prazo chegou e tão cedo não se irá embora

Vasco Pulido Valente (VPV), na sua crónica no Público de hoje, pergunta: "É a democracia compatível com o Estado providência?" Por outras palavras: será que precisamos de "suspender" a democracia para salvar o Estado social? VPV, fazendo referência aos apelos que se vão ouvindo para que um qualquer Monti lusitano ocupe o lugar de Passos Coelho, terminava a crónica com um sério aviso a Cavaco Silva "[Q]ue tome cuidado. Muito cuidado."

A mim, o que me parece totalmente incompatível é a persistência de um Estado social da dimensão do nosso quando a economia não gera recursos para o manter. E esse é que é o problema que em Portugal, praticamente, só Medina Carreira fala e os restantes, olimpicamente, ignoram (talvez por ignorância dos princípios elementares da aritmética). Não obstante, chega um momento em que já não será possível continuar a empurrar o problema com a barriga e, nestes últimos dois anos, já vimos sentindo a violência que o contacto com a realidade pode significar. Aliás, em minha opinião, boa parte do longo prazo de que falava Keynes, já chegou. E tão cedo não se irá embora.

O problema não me parece que resida na potencial oposição entre Estado social e democracia. A verdadeira questão está na (in)capacidade em ultrapassar a irresponsabilidade financeira do estado português democrático de que os últimos 38 anos constituíram exemplo exuberante. Mas um qualquer "Monti à moda do Minho" ou até mesmo um general, não poderá deixar de escapar ao inevitável recuo do Estado social1. Fá-lo-emos, como de costume, e por razões essencialmente ideológicas, demasiado tarde. Iremos pagar com língua de palmo por isso.
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1Por exemplo, nas pensões de reforma, através da introdução de plafonamento (veja-se o caso da Suíça onde a pensão máxima de reforma por velhice não excede os 1900 euros para um indivíduo e 2840 para um casal (dados de 2011)).

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Esquizofrenia sem cura

Temos vindo a assistir a crescentes manifestações de protesto de muitos perante a falta de vontade incapacidade do governo em reduzir a despesa do Estado situação que, à superfície, seria de saudar não se desse o caso, quando a ameaça do "corte" recai sobre quem quer que seja, logo alguém vir "demonstrar" a sua "inviabilidade". Razões do domínio da "sensibilidade social" e do veemente repúdio do "economicismo" são invocadas para evitar o "recuo civilizacional" que significariam os temidos "cortes". E ficamos arrumados quanto à redução das despesas do Estado (Camilo Lourenço está mais confiante, mas francamente não percebo por quê). Os portugueses preferem, afinal, mais e mais impostos (ao que o governo, convenhamos, tem correspondido exemplarmente).

Há também os "crescimentistas" que contrapõem que o que é necessário é promover o "crescimento" e não reduzir a despesa pública porque tal induzirá e acentuará a "recessão". O instrumento essencial desta política, na míngua financeira em que nos encontramos, é essencialmente de ordem retórica. Mas quando o governo, por uma vez, anuncia quer[er] IRC de 10% para novas empresas já em 2013 (acima de um limiar de investimento de 3 a 5 milhões de euros) aqui-d'el-rei, grita João Proença, que afirma que IRC a 10% será uma "vigarice",

Ou seja, num país com uma taxa de desemprego elevadíssima, onde o investimento privado não ocorre, em boa medida pela descapitalização generalizada das empresas nacionais, Proença acha que as novas empresas, as que não existem, deviam também ajudar a pagar a crise pelo que oferecer-lhes a possibilidade de uma taxa de IRC competitiva (atrás da da Irlanda), seria ma "vigarice social". Vamos longe, vamos.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Culpado até prova em contrário redux

Já me tinha pronunciado acerca do caso de Lance Armstrong tendo na altura concluído que estávamos provavelmente em presença de um caso típico de "culpado até prova em contrário". Nestes últimos dias em que o assunto voltou às primeiras páginas, nada li que me levasse a alterar a ideia que tinha formado.

Mas agora que, por intermédio de Gabriel Silva, dei conta da "prova" que "justifica" a retirada dos títulos de Armstrong, não posso calar a minha veemente indignação. Com a devida vénia ao blasfemo Gabriel Silva, reproduzo os dois excertos relevantes (meus realces):
«Armstrong’s refusal to testify and his refusal to confront the evidence against him leads to a strong inference that Armstrong doped exactly as charged by USADA [United States Anti-Doping Agency]» [página 88].

«Each of the six (6) witnesses who were still active cyclists at the outset of their cooperation with USADA has voluntarily accepted a sanction of six (6) months ineligibility and loss of competitive results as a consequence of his own rule violations.»[página 129]
Uma condenação pois sem qualquer prova e onde as testemunhas de acusação tinham interesse próprio em a sustentar pois eles sim foram "apanhados" em controlo anti-doping e deste modo se livraram de maiores penalizações. Uma vergonha sem nome.

George Carlin - On Global Warming

George Carlin já abandonou o mundo dos vivos há mais de 4 anos. Mas as suas palavras não estão menos actuais por isso. A linguagem é, como sempre, vernacularmente colorida.

Tomates e energias renováveis, a mesma luta!

Só a Califórnia é mais produtiva do que Portugal no tomate.

A notícia é, aparentemente, muito positiva. Portugal terá atingido uma produtividade recorde na produção de tomates, da ordem dos 92 toneladas por hectare, segundo dados da Associação dos Industriais de Tomate (AIT). Tal significará certamente que o país dispõe de condições agro-climáticas favoráveis ao seu cultivo e que detemos o know-how necessário.

Porém, a Associação antevê o aparecimento de nuvens negras no horizonte para os nossos tomates caso a Política Agrícola Comum (PAC) venha a sofrer uma "reforma" no sentido de diminuir o subsídio que atribui aos produtores dos actuais 2100€/hectare para 179€/ha. Como este ano se produziram 1,2 milhões de toneladas em cerca de 13.000 hectares, o montante dos subsídios atribuídos foi de 27,3 milhões de euros. Não admira pois que já se ouçam os gritos de aqui-d'el-rei e que a ministra Cristas, sempre atenta, tenha prometido "lutar pelos interesses portugueses"!

Significa isto que, actualmente, a irracional e absurda PAC (desenhada desde o início para os agricultores franceses e assim permanece no essencial) atribui  um subsídio de quase 25 cêntimos/quilo (!) ao produtor de tomate. Adivinhe só de onde vem o dinheiro!

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A paz é o bilhete para a vitória

Patrick J. Buchanan, na sua coluna habitual na The American Conservative: Peace Is the Ticket to Victory. A tradução é da minha responsabilidade. Ver-se-á, dentro em pouco (quando acabar o debate que agora decorre), se Buchanan tinha razão.
Normalmente, não sempre, o partido da paz ganha.

O atear do fogo a Atlanta e a Marcha para o Mar do general Sherman asseguraram a Abraham Lincoln a reeleição em 1864. William McKinley, com o seu triunfo sobre a Espanha e a determinação em pacificar e manter as Filipinas, facilmente afastou William Jennings Bryan [da corrida presidencial] em 1900.

No entanto, Woodrow Wilson ganhou em 1916 com o slogan: "Ele manteve-nos fora da guerra!" E Dwight Eisenhower conquistou uma vitória esmagadora com a sua declaração sobre o impasse da guerra de Harry Truman: "Irei à Coreia." Richard Nixon prometeu em 1968 que "a nova liderança porá fim à guerra e ganhará a paz". O vice-presidente Hubert Humphrey, com dois dígitos de desvantagem nas sondagens, em 1 de Outubro, prometeu suspender o bombardeamento do Vietname do Norte. Ele uniu o seu partido e diminuiu a diferença para menos de um ponto no dia da eleição.

George McGovern concorreu como o candidato anti-guerra em 1972. Em Novembro, porém, quase todas as tropas americanas no Vietname tinham regressado a casa, e no final de Outubro Henry Kissinger tinha anunciado: "A paz está próxima." Nixon tinha expropriado a questão da paz. Resultado: 49 estados.

Hoje, após as mais longas guerras da nossa história no Afeganistão e no Iraque, os americanos estão fartos dos 6.500 mortos e dos 40.000 feridos, fartos dos 2 milhões de milhões de dólares do custo da guerra e desiludidos com os resultados que uma década de sacrifícios produziu em Bagdad e em Cabul.

Consciente deste cansaço de guerra, especialmente entre as mulheres, o presidente Obama e o vice-presidente Biden parecem dispostos a comparecer perante a nação no dia da eleição como o único partido da paz. Este facto ressalta de uma leitura atenta da transcrição do debate por parte de Biden.

Estatismo e mercado: incompatibilidade universal

Por Henry Payne

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Citação do dia (87)

"The first lesson of economics is scarcity: there is never enough of anything to satisfy all those who want it. The first lesson of politics is to disregard the first lesson of economics."
Thomas Sowell

Steve Forbes apela ao regresso ao padrão-ouro

A política monetária levada a cabo pela generalidade dos bancos centrais tem visado, sistematicamente, sustentar o preço dos activos e o aparecimento cíclico de cada vez maiores bolhas especulativas. Para o efeito, têm fixado administrativamente as taxas de juro a níveis próximos de zero (política conhecida pela sigla ZIRP) daí decorrendo a efectiva destruição da poupança e dos aforradores, tudo isto levando a uma gigantesca redistribuição da riqueza em favor dos tubarões protegidos pelas promessas de bailouts.

Vai, felizmente, crescendo a voz dos que se opõem a esta insanidade cleptocrática. Steve Forbes é um nome de peso que se junta à causa daqueles que defendem o retorno a um regime monetário fundado no padrão-ouro - Gold Can Save Us From Disaster.

Relembrando o trivial

Medina Carreira: Em Portugal "só se ganham eleições com mentiras".

On Acting Rationally in More Ways than One

Robert Higgs escreve um belíssimo texto cujo título roubei: On Acting Rationally in More Ways than One. Leiam-no, por favor. A tradução que se segue é muito pálida perante o original. Pretende apenas tentar alargar o leque dos leitores de uma das grandes figuras da intelectualidade americana:
A racionalidade é um elemento essencial para se pensar e agir de forma bem-sucedida. Ela serve, em última análise, para prevenir contradições internas; permite-nos escolher os meios que são adequados para alcançar os objectivos que escolhemos. Eu não venho enterrar a racionalidade, venho elogiá-la.

Contudo, a racionalidade por si só não pode garantir a ninguém uma vida de sucesso. Esta limitação existe não apenas porque as contingências de tempo e circunstância podem frustrar o sucesso do plano de qualquer um - por mais racional que seja a sua formulação - mas, e mais importante, porque uma vida bem sucedida, no sentido mais profundo, requer que tenhamos escolhido os nossos objectivos sabiamente. Se o tivermos feito seremos transportados para o domínio do que poderíamos designar por meta-racionalidade.

Ted Bundy [link] era racional. Ele usou a sua considerável inteligência para seleccionar os meios para evitar ser capturado pela polícia durante os anos em que se dedicou ao rapto, ao estupro e a matar jovens mulheres. O objectivo que escolheu, contudo - praticar uma série de crimes hediondos - pré-determinou que a condução da sua vida seria tudo menos realmente bem-sucedida. A sua racionalidade instrumental foi excelente; a sua meta-racionalidade foi abismal para além da imaginação.

O pensamento moderno eleva a racionalidade instrumental ao apogeu de critérios estipulados para se pensar e agir de forma bem-sucedida. Certos grupos adoram-na - um deles incessantemente proferindo o mantra A = A para expressar a sua devoção - imaginando que só a sua adopção permitirá às pessoas viver de modo bem-sucedido. Mas a menos que as pessoas dediquem um esforço sério e sustentado à consideração da sabedoria para  alcançar fins específicos e não outros que estejam disponíveis, elas podem ser sempre muito racionais, mas cometerão o erro das suas vidas - e da vida dos outros pelo caminho fora.

Infelizmente, quando as pessoas estão definindo os seus rumos de vida durante os seus anos de jovens adultos, muitos delas dão-se consigo próprias anos a fio na universidade, onde encontram a apoteose da racionalidade instrumental a par do desrespeito ou desvalorização da meta-racionalidade. Com efeito, o escárnio das fontes tradicionais de orientação - a religião e sabedoria popular - frequentemente está presente em qualquer discussão dessas fontes, que são tidas como aglomerados de tolices e superstições. Quanto à sabedoria, é-se aparentemente aconselhado a apenas manter uma mente aberta, isto é, a considerar todos os tipos de fins como igualmente dignos e tão simplesmente como uma questão de gosto pessoal. Assim, mal preparados para viver uma vida verdadeiramente com significado, os jovens adultos partem para os mares do tempo e da circunstância, reagindo a uma tempestade após outra nas suas carreiras e nas suas famílias, mas sem nunca saberem para onde se estão dirigindo ou se teria sido melhor ter navegado numa direcção muito diferente.

A mentira sistemática


Referências: a Benghazi e à produção de hidrocarbonetos nos EUA

domingo, 21 de outubro de 2012

Sintetizando petróleo a partir da atmosfera


Mas atenção! Não há notícia - pelo menos por enquanto - da invalidação (falsificação popperiana) da Segunda Lei da Termodinâmica. Pelo contrário, suspeito que a energia despendida para sintetizar o petróleo seja bem superior à que vem a ser obtida com este processo (admitindo que ele existe realmente). A BBC, sempre pressurosa neste género de coisas, dá-nos umas imagens:

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Despudor corporativo


Rui Cardoso, presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, explica:
"Estamos muito preocupados e consideramos que é necessário fazer alguma coisa. Há que tentar impedir que esta constante compressão da Constituição se mantenha. Os magistrados sofrerão o dobro dos sacrifícios dos portugueses, devido ao seu apertado regime de exclusividade sem paralelo"

É a energia eólica que fará disparar a conta da electricidade

Christopher Booker voltou da Índia e está zangado. A sua irritação radica no  problema que é também o nosso problema. Tudo isto amplificado pela pandilha burocrática de Bruxelas adepta do politicamente correcto. Roubei-lhe o título do seu artigo para o usar no post procurando traduzi-lo o melhor que pude.
Imagem daqui
Na semana passada,  regressei de uma visita à Índia - que em Julho passado sofreu o maior apagão da sua história, afectando 600 milhões de pessoas - para encontrar a nossa própria política energética num desastre pior que nunca. Respondendo às crescentes facturas energéticas, que recentemente aumentaram em mais de 13 por cento, David Cameron exibiu novamente a sua espantosa ingenuidade em tais assuntos prometendo obrigar as empresas produtoras de energia a cobrar apenas os seus preços mais baixos para o gás e a electricidade que produzam - exactamente quando até mesmo a Ofgem [o regulador britânico do sector energético britânico] nos vem alertando que também nós enfrentamos a perspectiva de cortes de energia massivos, graças ao encerramento iminente de muitas das nossas centrais eléctricas.

Já passaram mais de cinco anos desde que comecei a alertar aqui [na coluna semanal que Booker mantém no The Telegraph] que as luzes na Grã-Bretanha corriam o perigo de se apagarem graças à loucura dos sucessivos governos ao fecharem os olhos a esta crise. Contudo, a única resposta de Cameron é a de se entregar a uma jogada política que provoca gritos quase universais de escárnio, e que apenas serve para mostrar que ele sabe ainda menos do mundo real da energia que o seu tecnicamente iliterato secretário de Estado da Energia e das Alterações Climáticas, Ed Davey.

Por tudo isso, somos nós que teremos de pagar, através das facturas sempre crescentes da energia. Não está o Sr. Cameron ciente, por exemplo, que o objectivo declarado da "taxa de carbono" de George Osborne, devida no próximo mês de Abril (o que por si só irá eventualmente dobrar as nossas facturas energéticas) é tornar a energia dos combustíveis fósseis tão cara que os seus amados parques eólicos possam um dia parecer competitivos, apesar de termos de pagar subsídios de 100 por cento (em terra) e 200 por cento (em offshore) para as quantidades patéticas de energia que produzem?

Estas são as razões pelas quais as nossas empresas produtoras de energia não têm alternativa senão elevarem constantemente as tarifas, levando mais milhões de famílias para uma situação de "pobreza energética". E nós vamos tendo que pagar por tudo este faz-de-conta em nome do combate à ameaça do aquecimento global, num momento em que até mesmo o Met Office  [Instituto Meteorológico britânico] timidamente admite que não houve qualquer aquecimento significativo do planeta nos últimos 15 anos; quando o gelo da Antárctida acaba de atingir a maior extensão desde que há registos; e quando os meteorologistas nos dizem que a Europa e os EUA poderão vir a atravessar o quarto inverno glacial seguido.  E todavia, aqueles que nos governam estão tão perdidos na sua bolha de fantasia que tudo o que o Sr. Cameron nos pode oferecer é uma promessa para aprovar uma lei que irá manter as nossas contas energéticas baixas.

Semelhante loucura provoca-me uma irritação tão grande quanto a que me sucedeu com a descoberta , quando recentemente paguei 244 libras pelo meu bilhete de avião para a Índia, que eu tinha que pagar 386 libras a mais [meu itálico] em impostos - a maioria deles desenhados para salvar o planeta do aquecimento global.

sábado, 20 de outubro de 2012

Califórnia: o mais recente e admirável mundo novo


Contra os que querem subsumir a Economia à Política

José Pacheco Pereira (JPP), em "Contra o pensamento balofo" (link não disponível), escreve a certa altura:
Um país não é uma empresa.
   Portugal não é uma empresa.
   Portugal não é uma sociedade anónima, nem uma SA, nem uma SGPS.
   Repita, se faz favor: um país não é uma empresa.
  Repita de novo: o país não é uma empresa e tentar governar o país como se fosse uma empresa dá asneira.
   Mesmo que a empresa seja a mais bem gerida do mundo.
  Um país é um país. As regras são outras. Os métodos são outros. Os procedimentos são outros. As pessoas certas são outras.
   Repita: as pessoas certas são outras.
  As escolhas de pessoas devem obedecer a outros critérios. Porque um país não é uma empresa, não é uma burocracia, não é uma empresa de marketing, não é uma consultora, não é um think-tank, não é um blogue dos "nossos", não é uma secção partidária, nem um "grupo geracional" vindo de uma "jota" qualquer a tomar o poder.
Não creio que haja alguém que não concorde genericamente com o que precede. Agora, tenha-se presente que o que JPP não escreve é tão ou mais importante do que aquilo que explicita. JPP não escreve que o Estado não pode, eternamente, gastar mais do que colecta em impostos sem que daí decorram consequências graves para a grande maioria dos "súbditos". JPP não escreve que não existe tal coisa como dinheiro do Estado. JPP não escreve que só nas empresas se gera riqueza. JPP não escreve que o Estado se limita a redistribuir a riqueza taxada sobre o sector privado da economia. JPP não escreve que não se pode redistribuir o que não existe.

Mais à frente no artigo, JPP alude a uma das metáforas a que os diferentes "senadores" do regime recorreram nos últimos dias a propósito do assalto fiscal que a proposta de orçamento de estado para 2013 veicula. Elege a de Bagão Félix como a melhor: "[o OE 2013] funciona como uma septicemia, infecta tudo".

Erra o alvo JPP. A origem da septicemia foi bem enunciada por Margaret Thatcher (tradução do Artur Margalho):
«Nunca nos esqueçamos desta verdade fundamental: o Estado não tem outra fonte de dinheiro a não ser o dinheiro que são as próprias pessoas a ganhar.
«Se o estado desejar gastar mais, só o pode fazer ou pedindo emprestadas as vossas poupanças ou aplicando-vos mais impostos. E não é bom pensar que haverá mais alguém para pagar. Esse alguém são vocês.
«Não há tal coisa a que chamam dinheiro público, o estado não tem fonte de rendimentos para além do dinheiro dos contribuintes.
«Não há prosperidade inventando mais despesa Estatal! Ninguém fica mais rico por pedir um novo livro de cheques ao Banco! E nenhuma nação prosperou tributando os seus cidadãos acima das suas possibilidades (...)

Os desastres verdes de Obama

O descalabro económico e ético do activismo "verde" de Barack Obama, perseguindo uma absurda política energética, prossegue. Agora foi a vez da A123, uma empresa dedicada à produção de baterias para carros eléctricos, se colocar sob o regime de protecção de credores. Claro que não sem antes ter recebido cerca de 250 milhões de dólares em empréstimos federais no quadro da mirífica "visão" de Obama de conseguir pôr em circulação "um milhão de veículos eléctricos em 2015". A Toyota, por exemplo, já oficializou o "pousio" das suas iniciativas quanto ao carro eléctrico, apontando para o facto de haver ainda muito que criar/descobrir de modo a que os carros eléctricos consigam chegar ao mercado a preços competitivos e com autonomia comparável à dos carros convencionais ou híbridos.

A lista abaixo, retirada daqui, é bem eloquente do desperdício gritante de recursos dos contribuintes levada a cabo pelo governo de Obama em nome de uns miríficos "empregos verdes" e da luta contra o "aquecimento global" escolhendo vencedores (os que recebem os subsídios) e perdedores (os que vêem a sua actividade posta em causa pelas acções governativas e regulatórias). O resto que se lixe, que se danem os contribuintes. É esta a verdadeira política. Lá como .
  1. Evergreen Solar ($25 million)*
  2. SpectraWatt ($500,000)*
  3. Solyndra ($535 million)*
  4. Beacon Power ($43 million)*
  5. Nevada Geothermal ($98.5 million)
  6. SunPower ($1.2 billion)
  7. First Solar ($1.46 billion)
  8. Babcock and Brown ($178 million)
  9. EnerDel’s subsidiary Ener1 ($118.5 million)*
  10. Amonix ($5.9 million)
  11. Fisker Automotive ($529 million)
  12. Abound Solar ($400 million)*
  13. A123 Systems ($279 million)*
  14. Willard and Kelsey Solar Group ($700,981)*
  15. Johnson Controls ($299 million)
  16. Schneider Electric ($86 million)
  17. Brightsource ($1.6 billion)
  18. ECOtality ($126.2 million)
  19. Raser Technologies ($33 million)*
  20. Energy Conversion Devices ($13.3 million)*
  21. Mountain Plaza, Inc. ($2 million)*
  22. Olsen’s Crop Service and Olsen’s Mills Acquisition Company ($10 million)*
  23. Range Fuels ($80 million)*
  24. Thompson River Power ($6.5 million)*
  25. Stirling Energy Systems ($7 million)*
  26. Azure Dynamics ($5.4 million)*
  27. GreenVolts ($500,000)
  28. Vestas ($50 million)
  29. LG Chem’s subsidiary Compact Power ($151 million)
  30. Nordic Windpower ($16 million)*
  31. Navistar ($39 million)
  32. Satcon ($3 million)*
  33. Konarka Technologies Inc. ($20 million)*
  34. Mascoma Corp. ($100 million)

* - indicador de solicitação de protecção de credores (bancarrota)

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Exageros segundo António Mexia

António Mexia, referindo-se às PPP: "Parece-me óbvio que se exagerou nas estradas", uma de entre as "muitas coisas que não devíamos ter querido".

Sim, há muitas coisas que não "devíamos ter querido" (embora a mim, e suponho que à generalidade dos portugueses, nunca ninguém nos tenha pedido uma opinião1). Uma delas foi - e continua a ser - a subsidiação maciça às novas renováveis (através das tarifas feed-in), de longe as grandes responsáveis, directa ou indirectamente, pelo défice tarifário e, dentro destas, os eco-crucifixos (na expressão feliz de James Delingpole para designar as torres eólicas) espalhados pelo país fora que produzem energia eléctrica não quando ela é necessária mas, naturalmente, apenas quando há vento (dominantemente à noite, de madrugada, quando a procura é muito baixa). Desta "coisa", Mexia não fala mas também não será de admirar...

E o governo - o actual - também não sai nada bem na figura. Ao mesmo tempo que faz um discurso carregado de retórica anti-rentista ao dirigir-se às empresas produtoras de electricidade, afirma "proteger" os consumidores diferindo no tempo os inevitáveis aumentos na electricidade que são consequência da política energética seguida anteriormente, ou seja, da promoção das "energias verdes". Jorge Vasconcelos, antigo presidente da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), que se demitiu precisamente pelo facto de o governo de Sócrates se ter recusado a retirar as consequências da sua própria política energética (ou seja, em aumentar os preços da electricidade), calcula em 110 milhões de euros o montante de juros a pagar em 2013 pela manutenção e agravamento do défice tarifário.
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1 E mesmo que nos tivessem explicitamente perguntado - e não "empacotado" em programas de governo que prometiam aumentar os "empregos verdes" (esquecendo-se de dizer que à custa dos empregos de outras colorações) - não creio que alguma vez nos tivéssemos deparado perante a pergunta adequada: "está disposto a ver aumentar o preço da electricidade de X% para contribuirmos (em 0,000Z%) para "salvar" o planeta  dos efeitos do aumento de concentração de CO2 (vulgo "aquecimento global") na atmosfera terrestre?"

O Público que (ainda?) temos

É certo que, como escrevi noutra ocasião, o dinheiro não é meu. Mas que faz impressão, faz. Ora vejam este pequena leitura comparada quanto aos resulltados da cimeira de ontem em Bruxelas :
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ACTUALIZAÇÃO 16:48 de 19/10:

Público: Alemanha impõe atraso à união bancária que prejudica Espanha

Oh!

Citação do dia (86)

"The American Republic will endure, until politicians realize they can bribe the people with their own money."
Alexis de Tocqueville

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Escrito na pedra

Avelino de Jesus em "Que fazer com a Caixa?" (realces meus):
O recente e expressivo aumento das exportações não ocorreu devido às decisões ou estratégias públicas nem a estímulos ou incentivos. Não ocorreu em resultado de políticas públicas, mas apesar delas. A verdade é que o sector privado tem reagido com resultados notáveis em contraste com a resistência do sector público.

No caso dos investimentos privados algo semelhante poderá ocorrer sem necessidade de estímulos, incentivos ou de "orientações estratégicas" dos poderes públicos. Basta que estes simplesmente não atrapalhem.

Colocar a Caixa ao serviço da economia nacional significa tirar-lhe a canga pública e lançá-la no mercado a concorrer em igualdade com os restantes bancos.

Se não for esta a via estaremos daqui a 10 anos a fazer a história dos maus investimentos que muitos querem agora pôr a CGD a sustentar.

Queremos repetir os mesmo erros?

E para chegar à realidade quanto falta?

Crédito malparado em Espanha atinge novo recorde ao superar os 10%.

Para uma explicação mais circunstanciada do que está na origem da dimensão deste fenómeno, leia-se Gary North. Junte-se-lhe ainda a manipulação das taxas de juro operada pelo BCE, ou seja, a manipulação do mercado e, portanto, e necessariamente, a sua distorção. O resultado é o que se vê.

Citação do dia (85)

"If we wish to preserve a free society, it is essential that we recognize that the desirability of a particular object is not sufficient justification for the use of coercion."
Friedrich A. von Hayek

Stupid people


Via facebook.

Patetices dirigistas

Governo obriga bombas a ter combustível low cost.

Brisa capitalista em Cuba

A possibilidade de promover a compra e venda de habitação em Cuba está a fazer (re)nascer o poder do mercado. São vários os sites (por exemplo, este) onde se promove compra e venda e aluguer de habitações. Yoani Sánchez, uma conhecida blogger, frequentemente acossada pelas autoridades, está atenta ao fenómeno e faz eco do seu significado (minha tradução e realce):
"O que também é interessante é a completa e pragmática avaliação que é feita de cada casa posta à venda. Os anúncios tornaram-se sofisticados, acompanhados por fotos e descrições favoráveis da casa quanto ao "bom abastecimento de água", à sua magnífica localização num bairro tranquilo, ou às possibilidades de a ampliar e construir sobre o telhado. Mas há um qualificativo que ninguém se esquece de acrescentar e que é, acaso a sua habitação o justifique, se se trata de uma "construção capitalista", isto é, se foi construída antes de 1959. Há uma separação clara das águas e uma divisão implacável entre a que foi construída antes da Revolução e a que foi construída durante a mesma. Se o prédio de apartamentos é dos anos 40 ou 50, o preço dispara , enquanto os apartamentos construídos pelas microbrigadas [link], cujas torres pré-fabricadas foram erigidas durante os anos da sovietização, são relegados para um patamar inferior de oferta. O mercado imobiliário traz à tona - com toda a dureza - uma escala de valores que está longe do discurso oficial e que reatribui um novo valor a tudo, um critério objectivo para aferir a qualidade."

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Por detrás do encobrimento de Benghazi

Patrick J. Buchanan, em Behind the Benghazi Cover-up, termina assim o seu artigo de ontem, publicado na The American Conservative (minha tradução):
Porque é que a Casa Branca persistiu  na falsa história de ter sido um protesto contra um vídeo a causa da morte do embaixador Stevens, quando não podia deixar de saber que não tinha havido protesto algum?

A explicação mais plausível é que a verdade - que estávamos sendo atingidos  pelo pior ataque terrorista desde o 11 de Setembro, numa cidade que salvámos - teria exposto a vanglória de Obama quanto ao seu triunfo na Líbia e da Al-Qaeda estar "em fuga" e "em vias de ser derrotada" como mera propaganda absurda.

A Al-Qaeda está agora na Líbia, no Mali, no Iémen, na Síria, no Iraque e no Paquistão.

E a epidemia de motins anti-americanos em todo o mundo muçulmano, com as eleições da Primavera Árabe levando ao poder regimes islâmicos, testemunha a verdade real. Após quatro anos de Obama, é a América que está em fuga do Médio Oriente .

Mas não podemos deixar que as pessoas o descubram até 6 de Novembro.

Daí a tentativa de encobrimento do que se passou em Benghazi.
Nota: é bom que os EUA estejam de saída do Médio Oriente. Para todos.

Citação do dia (84)

"[W]e are fast approaching the stage of the ultimate inversion: the stage where the government is free to do anything it pleases, while the citizens may act only by permission; which is the stage of the darkest periods of human history, the stage of rule by brute force."

Um excelente exemplo de serviço público, sem extorsão e com qualidade

Por razões que não vêm agora ao caso, tenho vindo a aperceber-me pessoalmente de uma multiplicidade de adolescentes, inteligentes e provenientes de famílias funcionais cujos pais são até licenciados, que se encontram numa situação de ignorância gritante em disciplinas cujo saber se constrói necessariamente de modo cumulativo, ano após ano.

Nos casos a que me refiro, há um padrão que se repete, quase na perfeição: de um momento para o outro, os pais dão-se conta que os seus filhos, alunos com um percurso continuado de (aparentes) boas notas no Básico (4's e 5's), sinal aparente de que não existiriam problemas, afinal quase nada sabem. De Português, de Inglês e, claro, de Matemática. Como o problema se arrasta há anos, a Escola não tem, agora, meios para lidar com situações desta natureza. A única resposta resposta possível, para aqueles que ainda conseguem, passa pelo recurso às aulas particulares, ou seja, às "explicações".

Os preços de mercado, do informal claro está, no que respeita à Matemática, são surpreendentes: pelo menos 30€/hora no Secundário mas não são incomuns tarifas que atingem os 50€/hora. Dizem-me que não se verificou nenhuma descida generalizada de preços, como talvez se pudesse supor no meio da crise que atravessamos, pelo que só consigo interpretar tal situação como mais um sinal do descalabro de muitas das escolas públicas, acelerado pela saída recente, por reforma antecipada, de muitos professores da "velha guarda".

Mas agora, na pessoa do professor Vítor Pereira, e a título gratuito, ainda que apelando a doações, está sendo construída uma resposta na internet para a Matemática (facebook) e, pelo que leio, a convidar outros colegas a produzirem conteúdos para outras disciplinas para além da Matemática. Excelente exemplo de serviço público! Sem extorsão e com qualidade!

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Em guerra aberta (2)

Manuela Ferreira Leite: "Este Orçamento não tem execução possível"

No assentar da poeira (3)

Por razões que suspeito não estarem completamente desligadas da próxima redução das indemnizações compensatórias em 6 milhões de euros (pág. 58 do Relatório do OE 2013) a Lusa distribui ontem esta espantosa notícia

Por que razão os muito ricos estão cada vez mais ricos?

Por razões que suponho do domínio do romantismo, o simples facto de alguém adoptar um discurso político "solidário" significa, para a grande maioria das pessoas, colocá-lo automaticamente num patamar moral  politicamente correcto. Já um qualquer (ultra/neo)liberal cujas ideias, se levadas à prática, conduziriam a um "recuo civilizacional", é necessariamente tido por um pária desprovido de quaisquer sentimentos pelos mais desfavorecidos. E ponto, fica o assunto resolvido! É por isso extraordinário que um homem como Warren Buffet, de quem os media não se cansam de elogiar por clamar que lhe sejam aumentados os seus impostos sobre o rendimento, seja inequivocamente catalogado entre os "bons" sem que os mesmos media se dêem ao trabalho de avaliar o que verdadeiramente defende (pelos actos que pratica e de que beneficia, não pelas palavras que profere ou escreve). Um cartoon animado presta-nos esse serviço público de desmistificação.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

No assentar da poeira (2)

Este quadro, constante da página 47 do Relatório do OE 2013 (reproduzo-o aqui pela fraca qualidade da imagem que consta do relatório), ilustra as variações do lado da despesa e da receita do Orçamento do Estado para 2013 face à execução estimada no ano corrente. Houve um tempo em que se propalava que o esforço da consolidação orçamental ira ocorrer nas proporções de 2/3 do lado da despesa e 1/3 do lado da receita. Ora, como o quadro bem expõe, o que se verifica é algo perto de 1/5 do lado da despesa e 4/5 (!) do da receita. Continuamos sem que se fale claro e Medina Carreira continuará a falar para as paredes. Até um dia (que está cada vez mais próximo).


No assentar da poeira (1)

A espuma governativa de que há tempos falava aqui, a propósito das fundações, vale uns insignificantes 40 milhões de euros (pág. 53 do Relatório do OE 2013).

A actividade favorita dos governos

é a da "resolução" de problemas depois de os terem criado ad infinitum. Esta actividade é tanto mais intensa quanto maior for a pulsão estatista de tudo regula(menta)r. Cecília Meireles, exemplifica-a pela milionésima vez ou não fosse ela secretária de estado da ministra Cristas, a Vermelha.

O melhor contributo que o governo poderia dar para impulsionar o turismo em Portugal começaria necessariamente por extinguir a respectiva secretaria de estado. É um bom conselho que presto quase de borla1 com o que seria despendido com um relatório solicitado a um qualquer Michael Porter.
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1 Não é inteiramente grátis pois há que contar com o tempo - recurso severamente limitado - gasto em lê-lo.

sábado, 13 de outubro de 2012

Epifanias de Nassim Nicholas Taleb

Aqui, do grande autor de O Cisne Negro.
The most stable country in the history of mankind, and probably the most boring, by the way, is Switzerland. It's not even a city-state environment; it's a municipal state. Most decisions are made at the local level, which allows for distributed errors that don't adversely affect the wider system. Meanwhile, people want a united Europe, more alignment, and look at the problems. The solution is right in the middle of Europe -- Switzerland. It's not united! It doesn't have a Brussels! It doesn't need one.
- x - x -
I just came back from Lebanon, which I feel is the most stable place in the whole area. Every risk is visible to the naked eye there; you can't be harmed by something like that. The homicide rate is much lower than that in the United States. The media says it's chaos -- but it's not. In the end, it's stable because Hezbollah and the Shiites know that they have to live with the Sunnis and the Christians. It can't fall apart because it's a perfectly controlled mess.
- x - x -
We need smaller, more decentralized government. On paper, it might appear much more efficient to be large -- to have economies of scale. But in reality, it's much more efficient to be small. An elephant is vastly more efficient, metabolically, than a mouse. It's the same for a megacity as opposed to a village. But an elephant can break a leg very easily, whereas you can toss a mouse out of a window and it'll be fine. Size makes you fragile.
- x - x -
The European Union is a horrible, stupid project. The idea that unification would create an economy that could compete with China and be more like the United States is pure garbage. What ruined China, throughout history, is the top-down state. What made Europe great was the diversity: political and economic. Having the same currency, the euro, was a terrible idea. It encouraged everyone to borrow to the hilt.
- x - x -
I have a negative approach to democracy. I think it should be primarily a mechanism by which people can remove a bad leader.

Nana Mouskouri - Fidaki (1984)

O Artur Margalho lembrou o facto pelo que me limitei a fazer o que tinha a fazer.

Em guerra aberta

Cavaco contra cumprir défice "a todo o custo".

40 anos de demência

Forty Years of Drug War Failure Represented in a Single Chart

Charles Mingus - Orange Was The Color Of Her Dress, Then Blue Silk

Noruega, 12 de Abril de 1964.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Já lhe dei o meu cartão?

Daqui.

Histórias que se repetem

Governo confirma criação de novo banco de fomento.

Fui confirmar e era verdade (já em 1958):
"Com a mais larga visão para o futuro desenvolvimento económico do País e das províncias ultramarinas, o senhor ministro das Finanças anunciou a criação do Banco de Fomento Nacional, que terá por objectivo financiar e orientar os investimentos em todos os sectores da indústria privada, quer na Metrópole quer no Ultramar (...)

A criação do Banco de Fomento Nacional com o objectivo de financiar e orientar os investimentos na Metrópole e no Ultramar corresponde a uma imperiosa imposição [sic] das circunstâncias particulares da nossa economia, bem como a algumas deficiências ou insuficiências do actual sistema de financiamento, dado que Portugal se encontra numa posição intermédia entre as economias altamente industrializadas e as subdesenvolvidas (...)"
A Bem da Nação, evidentemente.

Nigel Farage: repúdio do projecto político da União Europeia

Nigel Farage, de visita a Washington, dá uma excelente entrevista no programa de Lauren Lyster na RT onde aborda temas como os do crescimento do partido que lidera (o UKIP), o declínio europeu e a insanidade do poder burocrático de Bruxelas, os paralelismos da situação económica europeia com a dos Estados Unidos, o desastre das guerras do Afeganistão e do Iraque, etc. Embora não concorde com algumas das posições que Farage aqui expõe, recomendo com veemência o visionamento do vídeo, particularmente no dia da atribuição do prémio Nobel da Paz (!!) à União Europeia (via EPJ):

Risível

a decisão de atribuir à União Europeia o prémio Nobel da Paz. Mas há muito que este prémio em particular deixou de ter qualquer significado. Basta lembrar a "paz" que Obama vem promovendo com um afinco só comparável ao de Bush; ou a "paz" que Al Gore e o Painel Internacional para as Alterações Climáticas (IPCC) "conseguiram" para a Terra; ou ainda, o trio Rabin-Peres-Arafat.

No comunicado emitido pelo Comité Nobel, justifica-se assim a atribuição do prémio (tradução do Público): "A UE atravessa graves dificuldades económicas e uma considerável convulsão social. O Comité do Nobel deseja centrar-se no que considera ser o resultado mais importante da UE: o sucesso da luta pela paz e pela reconciliação e pela democracia e direitos humanos. O trabalho da UE representa a fraternidade entre as nações o que equivale a uma forma de 'congresso de paz'".

Ora, basta não ser completamente iliterato para se reconhecer que a União Europeia (ex-Comunidade Europeia e ex-Comunidade Económica Europeia), enquanto projecto político, é alheia à paz na Europa. Basta que nos recordemos do que ocorreu na ex-Jugoslávia e da irrelevância da "Europa" no desenrolar dos respectivos acontecimentos para perceber que assim é. Basta que não fechemos os olhos e os ouvidos ao que hoje se passa na Europa do Sul e, por consequência, ao que se (não) passa na Europa do Norte.

A única política conducente à paz duradoura é a que promove o comércio livre. E é pelo menos irónico que venha da Noruega esta atribuição já que foi este país que, por duas vezes, e em referendo, chumbou a sua adesão à UE.
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Leitura complementar: The Nobel WTF Prize; Has the Nobel Prize Become an Elitist Tool?

Citação do dia (83)

"The early American knew that freedom was nothing more than the absence of external restraint on behavior; the government could not give you freedom, it could only take it away."
Frank Chodorov

Keynesianismo e aquecimento global - III

Com a publicação da parte III, termino a publicação do artigo da Spiegel cujo conteúdo entendi ser de especial interesse público o que me levou a traduzi-lo (parte I e parte II). Nele se espelham muitos dos nossos problemas que as novas renováveis vieram introduzir no país sem que se detectem quaisquer benefícios tangíveis para a generalidade dos portugueses (como para os consumidores alemães). Se os custos para um país rico como a Alemanha se revelam estratosféricos, eles são devastadores para um país pobre como o nosso. Mas tudo isto, repito, não é mais do que um novo (e inevitável) falhanço total do planeamento central à moda da "economia mista". Keynesiana, portanto.
Parte III - Centrais eléctricas: forçadas a perder dinheiro

Um kaiser governava ainda a Alemanha quando a central Franken produziu electricidade pela primeira vez, há quase 100 anos atrás. O encerramento da central esteve efectivamente previsto mas, por causa da reviravolta na política energética, Franken 1 foi autorizada a permanecer em operação.

No próximo Inverno, nos dias em que o sol não estiver brilhando e não houver vento, os bávaros poderão muito bem considerar-se afortunados por a antiga central permanecer ligada à rede. A central pode produzir mais de 850 megawatts de energia eléctrica, em cima da hora, diz o responsável pela central, Wolfgang Althaus, ainda que a um custo elevado.

Franken é parte da assim chamada "reserva fria" de fornecimento de electricidade da Alemanha. Na medida em que não há capacidade de armazenamento [de energia] suficiente, virtualmente todas as centrais solares e todas as turbinas eólicas têm que ser apoiadas por uma central convencional. Sem esta estrutura dupla, o fornecimento de energia entraria em colapso.

Ao mesmo tempo, no entanto, o boom na energia renovável subsidiada está a assegurar que as centrais eléctricas convencionais já não sejam rentáveis​​. Uma vez que a lei exige que se dê preferência à energia verde, se ela estiver disponível, as centrais a gás, a fuel ou a carvão, têm frequentemente que ser desligadas para evitar a sobrecarga na rede. Isso reduz suas receitas enquanto aumenta os custos de produção porque o seu liga-desliga consome muito combustível e provoca desgaste adicional no equipamento.

No passado, os operadores das centrais eléctricas eram capazes de cobrar preços mais altos de energia eléctrica cerca do meio-dia. Mas agora há mais concorrência das centrais solares nesta altura do dia. Nos dias em que há muito vento, o sol estiver brilhando e consumo é baixo, os preços de mercado podem  chegar cair para zero. Há até mesmo tal coisa como custos negativos, quando, por exemplo, as centrais hidroeléctricas austríacos dotadas de bombagem reversível são pagas para ficar com o excesso de electricidade que vem da Alemanha.

As perspectivas são tão pobres que os fornecedores de energia têm pouco interesse na construção de novas centrais. Nas condições actuais, mesmo as mais modernas e eficientes centrais a gás de ciclo combinado não estão a recuperar os milhares de milhões dos custos de investimento.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O roubo legalizado do povo americano

G. Edward Griffin, autor do fundamental The Creature from Jekyll Island (livro editado em 1994 sobre as origens da Federal Reserve (Fed) que permanece nas bancas, à 5ª edição), aborda aqui a natureza da Fed. Não é manso com as palavras. Também não é caso disso.

Keynesianismo e aquecimento global - II

Conforme prometido, retomo a publicação da tradução do artigo da Spiegel, agora a relativa à parte II. Na parte I, vimos a quanto chegou a loucura: "[h]á centrais que não estão ligadas à rede, postes sem linhas de transmissão, e linhas de transporte de energia que levam a lugar nenhum". Na parte II, a Spiegel parece querer enveredar por uma espécie de "3ª via" - a da conservação de energia. Em qualquer caso, note-se o desprezo das autoridades pelo mecanismo dos preços de mercado o que as leva necessariamente, como Mises há muito provou, a ser incapazes de fazer cálculo económico. Em consequência, o caos predomina num processo colossal de desperdício de recursos.

Entretanto, por cá, e por muito que se tente disfarçar, isto deve-se às ventoinhas". E só a elas.
Parte II: Redes: Problemas de interligação

Durante séculos, as pessoas têm sido atraídas para os locais que dispõem de energia barata. Primeiro, procuraram pela lenha e pela turfa. Mais tarde, construíram mós de moinho ao longo de rios e ribeiros. Quando descobriram grandes reservas de carvão nas regiões ao longo dos rios Ruhr e Sarre,  foi lá que construíram as primeiras fábricas industriais.

É um passo arrojado o governo federal estar tornando o abastecimento de energia do futuro dependente dos parques eólicos offshore nos mares do Norte e do Báltico. Nos próximos anos, centenas de turbinas eólicas serão presas ao  o fundo do mar longe da costa. Quando tudo estiver concluído, espera-se que os parques eólicos offshore satisfaçam um sexto das necessidades de electricidade da Alemanha.

Infelizmente, a electricidade não é muito necessária ao longo da pouco povoada costa, mas sim nos distantes estados do sul de Baden-Württemberg e da Baviera. Os dois estados têm grandes populações e indústria, bem como um número de centrais nucleares cujo encerramento está programado que venha a ocorrer em breve. Por esta razão, a decisão do governo federal de acelerar a expansão da energia eólica offshore significa que novas linhas de transporte de energia terão de ser construídas, a um custo que se estima entre 20 a 37 mil milhões de euros - o projecto de infra-estruturas mais caro desde a reunificação alemã.

Um plano director é coisa que já existe. Pode ser encontrado numa prateleira de madeira no quarto H 5015 na Agência da Rede Federal, em Bona, e consiste em seis arquivadores de argolas acompanhados de um grande número de pastas. Todos os postes de energia e respectivos corredores, que deverão ser expandidos ou construídos de raiz nos próximos 10 anos, estão assinalados em mapas desdobráveis​​.

O problema é que os estados do sul não estão particularmente entusiasmados quanto a receberem electricidade proveniente dos parques eólicos no norte da Alemanha. O governador da Baviera, Seehofer, fala da auto-suficiência e do investimentos de milhares de milhões de euros no abastecimento de energia regional, incluindo a solar, centrais hidroeléctricas e biocombustíveis. Até a Gazprom, o conglomerado russo de energia, está sendo considerado como um possível parceiro para o desenvolvimento do que Seehofer designa por uma "central Baviera".