domingo, 12 de maio de 2013

4 maneiras de gastar o dinheiro (legendado)

O legado de Milton Friedman é, no mínimo, disputável quanto à efectiva (e não apenas retórica) defesa do funcionamento do mercado livre (de onde exceptuava a produção e gestão da moeda - "política monetária" - que, segundo ele, deveria ser monopólio do estado e do seu "braço" para o efeito, o banco central). David Stockman, no livro que passa agora na montra - The Great Deformation - não é brando nos adjectivos com que o mimoseia (justamente, em minha opinião).

Em qualquer caso, Friedman tinha um raro dom: o de conseguir comunicar de uma forma desarmadamente simples, acessível a todos, mesmo quando endereçava questões bem complexas. No pequeno vídeo que se segue, Friedman limita-se a fazer uma observação arguta, lógica, da natureza humana: um indivíduo, ou um grupo de indivíduos, não muda pelo simples facto de mudar de "chapéu" (voluntária ou involuntariamente), agindo antes, em cada contexto, em função dos incentivos/desincentivos com que se depara.

3 comentários:

Contra.facção disse...

Caro Eduardo
Eu diria que fala tão simples, que deixa muita matéria de outras áreas (psicologia, caráter, competências, responsabilidade, te.) de fora da análise.
Eu e o Eduardo, e talvez muitas mais pessoas, teriam muito mais cuidado a gastar o dinheiro de outras pessoas... É muito pouco e muito básico para criar uma escola e um pensamento económico. Do social nem vale a pena falar d Friedman, que nunca mais se libertará da colagem a Pinochet e dos assassinatos consequentes...
Paz à sua alma!
E o chato é que os privados, não conseguem administrar o dinheiro que seria deles, mas não tem...

Mário Amorim Lopes disse...

"Eu e o Eduardo, e talvez muitas mais pessoas, teriam muito mais cuidado a gastar o dinheiro de outras pessoas... "

Aí é que está o rotundo erro, que Friedman tão bem desmascara. O mundo não é bipolar, com os virtuosos e honestos de um lado, e os corruptos do outro, como Saramago tentava segregar. O mundo são pessoas que, dependendo dos incentivos, agem de uma ou de outra maneira.

Achar que nós somos especiais e que iríamos permanecer beatos e paladinos da honestidade é precisamente o motivo pelo qual existe tanta corrupção. O problema não são as pessoas, são as regras (ou falta delas) e incentivos (errados). A melhor das pessoas nas condições propícias é potencialmente corrupta. Assumir menos do que isso é abrir caminho à corrupção.

Eduardo Freitas disse...

Caro Miguel,

Desculpe-me por só agora "replicar" mas tenho andado afastado das lides bloguisticas.

De qualquer modo, o comentador anterior abordou, e bem, o substancial do que teria a responder-lhe.

Acrescentaria apenas uma observação:

Há muito que se observou que "os homens não são anjos" (James Madison), uma verdade axiomática (indemonstrável, é certo, mas não menos verdadeira). Desta forma, resulta não ser possível formar um governo de anjos. Assim sendo, conferir poderes (sempre) crescentes que resultam em imposições (também elas sempre crescentes), em primeira e última análises através da força (que o estado detém em monopólio), na prossecução de um suposto "bem comum", mesmo que resultante de uma democrática "vontade geral", não levou, não leva, nem poderá levar a bom resultado.

Agradeço-lhe por fim a boa conta em que o Miguel me tem como administrador da "coisa pública". Mas uma coisa tenho por absolutamente certo: também eu não faço parte (nem mesmo post mortem) do selecto grupo dos santos.