quinta-feira, 9 de maio de 2013

A novilíngua e a tentativa de destruição da faculdade de pensar

Thomas Sowell, em artigo ontem publicado sob o título Words That ReplaceThought, discorre sobre o ataque cerrado a que está sujeita a faculdade de pensar. Ainda que o conteúdo do seu texto verse especialmente a realidade americana, creio não estar muito distante, observadas as devidas proporções, do que por aqui venho classificando de "pensamento mágico". Por esse motivo, pareceu-me poder ser interessante proporcionar uma tradução do seu texto (como habitualmente, da minha responsabilidade).
Thomas Sowell
Se alguma vez vier a ocorrer uma competição de palavras visando substituir o vocábulo "pensamento", "diversidade" deverá ser reconhecida como a indiscutível campeã mundial.

Não será necessária a mais ténue prova ou o recurso a um único passo de lógica, quando alguém escrever, com entusiasmo, acerca dos supostos benefícios da diversidade. A mera ideia de testar esta maravilhosa e mágica palavra contra algo tão desagradável quanto a realidade sugere algo de sórdido.

Se alguém perguntar se as instituições que promovem a diversidade 24 horas por dia conseguem obter melhores ou piores relações inter-raciais que as instituições que o não fazem, daí só poderá resultar para esse alguém ser tido por uma má pessoa. Apresentar evidências sólidas de que os locais obcecados com a diversidade têm piores relações inter-raciais é correr o risco de se ser rotulado de incorrigível racista. O pensamento livre não é livre.

O Supremo Tribunal dos Estados Unidos decidiu que o governo tem um "interesse imperioso" na promoção da diversidade - aparentemente mais imperioso que a exigência constante da 14ª Emenda referente à "igual protecção" de todos perante a lei.

Como é que um país racialmente homogéneo como o Japão consegue ter uma educação de alta qualidade sem o ingrediente essencial da diversidade, para a qual existe, supostamente, uma necessidade "imperiosa"?

De modo contrário, por que razão a Índia, uma das nações etnicamente mais diversas da Terra, tem hoje um registo de intolerância intergrupal e de letal violência que é pior que o que existia no nosso Sul nos dias de Jim Crow [link]?

O simples acto de se colocarem tais perguntas faz com que surjam acusações de tácticas indignas e motivos demasiado rasteiros para serem dignos de resposta. Não que os crentes ferverosos da diversidade pudessem de qualquer modo responder.

Entre as palavras candidatas a tornar o pensamento obsoleto, logo após "diversidade", está a palavra "justo".

Aparentemente, todos têm direito a um justo quinhão da prosperidade de uma sociedade, seja trabalhando 16 horas por dia para ajudar a criar essa prosperidade, seja não fazendo mais que viver à custa dos contribuintes ou a depender da mendicidade ou do crime para arranjar uns quantos dólares.

Aparentemente devemos-lhes algo, simplesmente por nos podermos agraciar com a sua presença, mesmo que sintamos que poderíamos muito bem passar sem eles.

No outro extremo da escala dos rendimentos, é suposto que os ricos paguem a sua "justa parte" de impostos. Mas em nenhum dos extremos da escala dos rendimentos se define a "justa parte" como sendo um determinado número ou proporção, ou outra qualquer forma concreta. É apenas um sinónimo político para "mais", embrulhado numa sonoridade retórica moralista . Na realidade, "justo" significa apenas mais poder arbitrário para o governo.

Uma outra palavra que desactiva o pensamento é "acesso". Das pessoas que não conseguem satisfazer os padrões do que quer que seja, da admissão à universidade à concessão de um empréstimo hipotecário, frequentemente se diz que lhes foi negado o "acesso" ou a oportunidade.

Mas igualdade de acesso ou igualdade de oportunidades não é o mesmo que igual probabilidade de sucesso. Aos republicanos não lhes são negadas iguais oportunidades para votar na Califórnia, embora na realidade as hipóteses de um candidato republicano conseguir ser eleito na Califórnia sejam muito menores que as hipóteses de eleger um democrata.

Pela mesma razão, se a todos for permitido apresentar candidaturas à admissão na universidade, ou à concessão de um empréstimo hipotecário, e se as suas candidaturas forem todas avaliadas pelos mesmos padrões, então todos têm igualdade de oportunidades, mesmo se o idiota da aldeia tiver uma menor probabilidade de entrar na Ivy League [link] e alguém com um mau historial de crédito tiver menos probabilidade de que lhe emprestem dinheiro.

"Acessível" é uma outra popular palavra que serve como um substituto para pensamento. Dizer que todos têm direito à "habitação a preços acessíveis" é muito diferente de dizer que todos devem decidir que tipo de habitação ele ou ela consegue pagar.

Os programas governamentais de promoção de "habitação a preços acessíveis" são programas destinados a permitir a algumas pessoas que decidam que habitação pretendem e a forçar as outras pessoas - contribuintes, proprietários ou quem quer que seja - a absorver uma parte do custo de uma tomada de decisão onde estes não tiveram voz.

De modo mais geral, fazer com que diversas coisas sejam "acessíveis", de maneira alguma aumenta a quantidade de riqueza numa sociedade acima do que sucederia fossem os preços "proibitivamente caros". Pelo contrário, os controlos de preços reduzem os incentivos para produzir.

Nada disso constitui matéria transcendente. Mas se cada um não parar para pensar, não importa ser-se um génio ou um idiota. Palavras que impeçam as pessoas de pensar, reduzem até mesmo pessoas inteligentes ao patamar de idiotas.

Sem comentários: