sábado, 31 de agosto de 2013

A mentira, a plasticidade da "prova" e a política do bombardeamento

Ontem, a Casa Branca fez divulgar um documento de 4 páginas onde foram apresentadas "provas" de que foi o regime de Assad quem levou a cabo a autoria do ataque químico no passado dia 21 de Agosto na Síria,nos arredores de Damasco. Este é o excerto relevante (tradução minha):
"Identificámos cem vídeos relativos ao ataque, muitos dos quais mostram um grande número de corpos que apresentam sinais físicos consistentes, ainda que não exclusivamente, com a exposição a agente de gás de nervos. Segundo o relato de vítimas, os sintomas incluíam perda de consciência, emissão de espuma pelo nariz e pela boca, pupilas contraídas, taquicardia e dificuldade em respirar. Vários dos vídeos mostram o que parecem ser numerosas vítimas mortais sem ferimentos visíveis, o que é consistente com a morte provocada por armas químicas, e inconsistente com a morte provocada por armas ligeiras, por munições de alto poder explosivo ou por agentes vesicantes. Há pelo menos 12 localizações distintas nos vídeos publicamente disponíveis, e uma amostragem desses vídeos confirmou que alguns deles foram filmados nas horas e locais descritos nas imagens. Consideramos que a oposição síria não tem a capacidade para forjar todos estes vídeos, bem como os sintomas físicos verificados por pessoal médico, ONGs e outras informações associadas a este ataque químico."
Temos assim que, nas palavras da própria administração americana, os EUA e a França (antiga potência colonial na zona, uma coincidência curiosa com o Vietname) do petit homme, outorgando-se a si próprios o direito de representação de uma "comunidade internacional" ainda mais exígua com a saída forçada de Cameron do elenco, estão prestes a bombardear a Síria e, com isso, a escalar um conflito para dimensões impossíveis de prever. Para isso, julgam suficientes 100 vídeos do YouTube ("publicamente disponíveis") pois, segundo a administração americana, os rebeldes (quais deles?) não teriam condições (técnicas? logísticas) para os forjar!! Nestas circunstâncias, não é de admirar que Vladimir Putin esteja a surgir como um improvável paladino da promoção da liberdade!!

Portanto, o futuro do Médio Oriente e, não é de excluir, mesmo o de todo o mundo, joga-se no YouTube e na (in)capacidade de produção e realização de vídeos. Extraordinário! Mas, se assim é, e já sem falar daquele onde se pode observar o esquartejamento de cadáveres dos oponentes para lhes comer as vísceras, por que não considerar estes outros que sugerem exactamente o envolvimento dos rebeldes e aliados dos EUA nesta história das armas químicas (para além dos democratíssimos sauditas e qataris)? Aliás, não seria a primeira vez que tal aconteceria este ano...

A "recuperação" económica de Obama

(Clicar na imagem para ver melhor)
Por Gary Varvel

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Citação do dia (130)

"When the president does it, that means that it is not illegal."

Richard Nixon, entrevistado por David Frost

Pat Buchanan: "A única coisa que aprendemos da história é que não aprendemos com a história"

Nas vésperas de ainda mais outra aventura guerreira (a caminho do Irão?) sob um amplo beneplácito bipartidário, entusiasta ou complacente, Patrick J. Buchanan defende, convincentemente, que o Congresso deveria impedir o presidente Obama de iniciar a participação aberta dos EUA na guerra civil síria. Congress Should Veto Obama’s War é o título da sua mais recente peça que procurei traduzir (algo livremente).
"O Congresso não tem um conjunto muito significativo de responsabilidades fundamentais", disse Barack Obama na semana passada numa espantosa observação.

De facto, na Constituição, o Congresso aparece como o primeiro poder do estado federal. E entre os seus poderes, enumerados, estão: o poder de tributar, o de cunhar moeda, o de criar tribunais, o de promover a defesa comum, o de criar e financiar um exército, o de manter uma marinha e o de declarar a guerra.

Mas, ainda assim, talvez o menosprezo de Obama seja justificado.

Senão, considere-se o amplo assentimento do Congresso às notícias de que Obama decidiu atacar a Síria, um país que não nos atacou e contra o qual o Congresso nunca autorizou uma declaração de guerra.

Porque está Obama a fazer planos para lançar mísseis de cruzeiro sobre a Síria?

De acordo com um "alto funcionário da administração (...) que insistiu no anonimato", o presidente Bashar al-Assad usou armas químicas contra o seu próprio povo, na semana passada, em dois anos de guerra civil na Síria.

Mas quem delegou nos Estados Unidos a autoridade para andar pelas ruas do mundo a dar coronhadas em maus actores? De onde vem a autoridade para o nosso presidente imperial traçar "linhas vermelhas" e dar ordens a países para que não as cruzem?

Nem o Conselho de Segurança nem o Congresso nem a NATO nem a Liga Árabe autorizaram o lançamento de uma guerra contra a Síria.

Quem outorgou a Barack Obama o papel de Wyatt Earp da Aldeia Global?

Além do mais, onde está a prova de que foram usadas armas de destruição maciça e que só Assad pôde ter ordenado a sua utilização? Tal ataque não faz qualquer sentido.

7 países em 5 anos

Já tentei, por duas vezes, ajudar à propagação (e à memória) destas declarações de Wesley Clark, general americano, ex-comandante da NATO entre 1997 e 2000. Hoje, com a ajuda do ZH, volto a convocá-lo. Entretanto, estou a terminar de ler o livro de memórias de Daniel Ellsberg sobre a guerra do Vietname e os Papéis do Pentágono sobre o qual tenciono fazer um apontamento brevemente.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Progressistas e negros (ou o desastre da "acção afirmativa")

Conjuntamente com Thomas Sowell, Walter E. Williams, economista, académico e comentador, é uma personalidade vincadamente incómoda para o pensamento politicamente correcto nomeadamente por advogar o fim das políticas "positivas" de discriminação, nomeadamente no domínio racial, tema em que escreveu (e escreve) extensamente. Nascido, tal como Sowell, em meio bem pouco favorável (família pobre em ausência do pai), chegou a ser motorista de táxi (ver vídeo de entrevista a Williams legendado em português do Brasil).

Endereçando, sem rebuço, as questões raciais, e a sua radical oposição às políticas de "acção afirmativa" que, recorde-se, começaram com Richard Nixon, pareceu-me útil proporcionar a mais leitores o conteúdo do seu artigo, publicado ontem - Progressives and Blacks -, traduzindo-o.
Walter E.Williams
(...) Os progressistas lidam com os negros como se fossem vítimas que têm que ser tratadas com luvas de pelica e benefícios especiais, como quotas raciais e condições de preferência. Esta abordagem tem vindo a ser experimentada há décadas na educação e revelou-se um fracasso. Eu mantenho que é hora de explorar outras abordagens. Uma abordagem é a sugerida pelo desporto. Os negros distinguem-se - talvez dominem seja uma palavra melhor - em desportos como o basquetebol, o futebol [americano] e o boxe, a tal ponto que os negros constituem 80% dos jogadores profissionais de basquetebol, representam 66% dos jogadores profissionais de futebol e, há décadas, vêm dominando a maioria das categorias do boxe  profissional.

Estes resultados deveriam fazer surgir várias questões. No desporto, alguma vez se ouviu falar de um treinador que tenha explicado ou desculpado o mau desempenho de um jogador negro culpando o "legado da escravidão" ou o facto de o jogador ter sido criado numa família monoparental? Quando é que se ouviu falar de os padrões desportivos serem apelidados de racistas ou culturalmente enviesados? Eu ainda estou para ouvir um jogador, muito menos um treinador, dizer semelhante disparate. Na verdade, os padrões de desempenho no desporto são, justamente, dos mais implacáveis onde quer que seja. As desculpas não são toleradas. Pense-se nisto. O que acontece a um jogador, negro ou branco, que numa universidade não atinja os padrões dos treinadores de basquetebol ou futebol? Ele ficará fora da equipa. Os jogadores sabem disso, e fazem todos os esforços para se excederem. E tanto mais assim será quanto mais aspirações tiverem a tornar-se jogadores profissionais. A propósito, os negros também se destacam na indústria do entretenimento - um outro sector em que existe uma competição implacável em que vale tudo.

Observando como os negros demonstram uma capacidade para prosperar num ambiente de competição impiedosa e com exigentes desempenhos, talvez pudesse haver algo a ganhar com um ambiente escolar similar. Talvez devêssemos ter algumas escolas em que os jovens são assoberbados com trabalhos de casa, testes frequentes e exigentes, professores de alto nível. Em tais escolas, não haveria desculpas para nada. Os jovens atingem o que deles se espera, ou são expulsos e colocados numa outra escola. Eu aposto que um número significativo de jovens negros iria prosperar num tal ambiente, da mesma forma que prosperam nos desportos altamente competitivos e nos ambientes de entretenimento.


Citação do dia (129)

The harm done…was that they removed economics from reality. The task of economics, as many [successors] of the classical economists practiced it, was to deal not with events as they really happened, but only with forces that contributed in some not clearly defined manner to the emergence of what really happened.

Economics did not actually aim at explaining the formation of market prices, but at the description of something that together with other factors played a certain, not clearly described role in this process. Virtually it did not deal with real living beings, but with a phantom, "economic man", a creature essentially different from real man.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A ciência climática e o método científico

Um breve apontamento de Peter G. Klein, um economista de pendor austríaco especializado nas matérias do empreendedorismo e da empresa, a propósito de um artigo publicado no habitualmente eco-teócrata The Guardian, chamando a atenção para a insuportável jactância, vazia da saudável (e necessária) humildade científica, que tem caracterizado os últimos 25 anos da ortodoxia climática. A tradução, como habitualmente, é da minha responsabilidade.
Este artigo acerca dos cépticos da ciência climática está a fazer o seu caminho e a provocar as denúncias expectáveis nos sítios habituais. De facto, nele se fazem algumas afirmações razoáveis e bastante moderadas, nomeadamente que a ciência climática, como a astronomia ou a biologia evolutiva, pertence a um tipo diferente de "ciência" do da física, da química ou da geologia ou de outras ciências mundanas. Nos primeiros domínios, os pressupostos fundamentais e os principais mecanismos não são geralmente falsificáveis​​, os dados muitas vezes são mais imprecisos do que é habitual e há frequentemente recurso a muita "criatividade" para colmatar as lacunas.
Muitos cépticos têm dúvidas que a ciência climática possa ser classificada como científica uma vez que ela não é falsificável (segundo o critério de demarcação de Popper). Eles alegam que muito embora alguns elementos da ciência climática possam ser testados em laboratório, a complexidade das interacções e dos ciclos de feedback, bem como os níveis de incerteza nos modelos climáticos, são demasiado elevados para poderem constituir uma base útil para a definição de políticas públicas. A relação entre as observações  e estes modelos [ou seja, as suas previsões] constituem igualmente uma preocupação para os cépticos da ciência climática. Em particular, o papel da sensibilidade climática.

Para além das questões com a utilização dos modelos, a própria qualidade das observações tem sido alvo de críticas. Algumas das quais têm sido tentativas de sanar os problemas decorrentes da bagunça na recolha de dados no mundo real (por exemplo, as questões ligadas ao posicionamento das estações meteorológicas), enquanto outras se concentraram nas debilidades percebidas nos métodos indirectos [proxy] necessários para calcular dados históricos relativos a temperaturas tais como cortes nas placas de gelo polar ou aneis de árvores fossilizadas.

Tais alegações são de qualidade variável, mas o que as une é a convicção de que a qualidade dos dados em vários ramos da ciência climática está abaixo da que é exigível pela "verdadeira ciência".
O que mais me impressiona nestas "grandes" ciências é a linguagem e o tom tipicamente usados para comunicar os resultados ao público. Onde os cientistas nos domínios mundanos expressam as suas conclusões cautelosamente, enfatizando que os resultados e conclusões são tentativos e sempre sujeitos a contestação e a revisão, os cientistas climáticos parecem ver-se a si próprios como Bravos Cruzados pela Verdade derrubando os "Negacionistas" (que têm de ser financiados pela indústria do petróleo ou por algum outro pérfido grupo). Eles gritam que "sabemos" isto ou aquilo sobre as alterações climáticas, como estará o planeta daqui a 5000 anos, etc. Dificilmente ouvimos outros cientistas a falar assim, ou a agir como se os cépticos fossem necessariamente preconceituosos e irracionais.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Citação do dia (128)

"Emergencies" have always been the pretext on which the safeguards of individual liberty have been eroded."
Friedrich Hayek

Happy 78th Birthday, Mr. Ron Paul!

Despendendo um pouco mais de cinco minutos a visionar o vídeo abaixo, perceber-se-á melhor que, depois dos romances de Ayn Rand, é a Ron Paul que se deve, muito justamente, o enorme crescendo e popularidade do movimento libertário nos últimos anos e compreender que há pelo menos onze anos atrás era possível antecipar o que viria a acontecer, nos EUA e no mundo, em consequência dos caminhos escolhidos pelo establishment bipartidário americano.

Admirável Estado de Vigilância - II

Os impérios também se abatem (quase sempre pelas mesmas razões)

Uma carta muito apropriadamente enviada de Roma, da autoria de Simon Black (minha tradução):
19 de Agosto de 2013
Roma, Itália

Em 19 de Agosto de 43 a.C., há precisamente 2056 anos, um militar de 20 anos de idade, Gaius Octavius Thurinus, assumiu o controlo da mais poderosa civilização do planeta.

De pé, à frente de seu exército, que tinha acabado de marchar sobre Roma, Gaius forçou o Senado a "elegê-lo" para o mais alto cargo político do país à época.

E uma vez chegado ao poder, nunca mais de lá saiu.

De 19 de Agosto de 43 a.C. até à sua morte (que por coincidência ocorreu também a 19 de Agosto), em 14 d.C., Gaius aumentou habilmente a sua autoridade até conseguir exercer o controlo total sobre Roma.

É claro que Gaius veio a tornar-se conhecido como Augusto, o primeiro imperador do Império Romano. Assim, poder-se-á argumentar que este foi o dia em que a República morreu "oficialmente" e foi substituída por uma sucessão de megalomaníacos incompetentes.

Isto inclui um elenco infame de personagens, do Calígula moralmente depravado ao Nero comprovadamente insane, ao impositor de impostos Vespasiano, ao opressivo tirano Domiciano.

Esta tendência manteve-se por centenas de anos. Tirania. Opressão. Excesso de despesa pública. Hiperinflação. Guerra civil. Guerra externa. Impostos debilitantes. Regulamentos punitivos. E um declínio terminal na liberdade das pessoas e nos padrões de vida.

Esta é uma história muito familiar. Ao longo da história, os impérios sempre passaram por este ciclo de ascensão, auge, declínio e colapso. Roma. Egipto. O Império dos Habsburgos. O Império Otomano.

E os aspectos mais salientes são quase sempre os mesmos - despesa pública desgovernada, moeda em rápida desvalorização, dispendiosas campanhas militares no estrangeiro, regulamentações onerosas, etc.

Mais importante ainda, em quase todos os casos, sempre existiu uma pequena elite que acha que deve controlar todo o sistema.

Contudo, a história é muito clara: as sociedades que se organizam dessa maneira observam uma taxa de insucesso de 100%, sem excepção.

Curiosamente, esses mesmos erros são repetidos inúmeras vezes.

Há sempre uma nova elite que se arroga o direito a deter poderes ditatoriais - do controlo da massa monetária ao controlo dos militares.

Por exemplo, quatro homens controlam mais de 70% da massa monetária do mundo no nosso sistema bancário central moderno. Eles têm o poder de fazer surgir quantidades ilimitadas de moeda a partir do nada, no seu exclusivo critério.

Enquanto isso, os países "mais ricos" do mundo (EUA, Europa, Japão, etc.) estão tão profundamente endividados que têm que pedir dinheiro emprestado apenas para pagar os juros sobre o dinheiro que já pediram emprestado.

Durante o boom imobiliário há apenas alguns anos atrás, todos pensavam que os preços dos imóveis iriam subir sempre.

De repente, tudo caiu. E posteriormente, toda a gente disse: "Duh, não faz sentido emprestar milhões de dólares a pessoas mortas".

Também isto irá parecer óbvio em retrospectiva.

E mesmo os mais ferrenhos defensores do sistema (como Paul Krugman) irão olhar para trás e dizer: "É claro que eu sabia que isto iria acontecer. Obviamente não se pode gastar e imprimir todo esse dinheiro sem consequências".

Enquanto isso, a elite que detém o controlo continuará a cambalear em direcção ao seu destino histórico.

Isso porque o sistema de hoje partilha semelhanças fundamentais com praticamente todos os outros casos de império que vieram a caír. E é tolice pensar que desta vez irá ser diferente.

Simon Black
Senior Editor, SovereignMan.com

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A contracorrente

Por razões que não consigo explicar, que tivesse dado conta só nos últimos dias se tornou viral o excerto do discurso que Bono, o líder dos U2, fez a 12 de Novembro do ano transacto, na Universidade de Georgetown. Para um anteriormente ardente defensor da ajuda humanitária maciça para "resolver" os problemas da doença e da fome no mundo e, em particular, em África, não pode deixar de se sublinhar que agora reconheça perceba que "capitalism takes more people out of poverty than aid". Salve!


Até há um par de dias atrás, nunca tinha ouvido falar de um rapaz de nome Ashton Kuchner até ter lido que ele interpreta Steve Jobs no filme Jobs que estreará no próximo dia 22 (julgo que na mesma data também em Portugal). Escrevi com naturalidade rapaz, apesar de ele ter 35 anos, porque ganhou muito recentemente o prémio, o Ultimate Choice Award, uma espécie de prémio de carreira (!!) atribuído pelos... Teen Choice Awards! O curioso da coisa, como poderão ver no clip abaixo, está no discurso de aceitação do prémio cujo teor é, diria, quase bizarro por ser proferido por entre o histerismo costumeiro de hordas de adolescentes da plateia. Claro que não é atinge o patamar do celebérrimo discurso "connecting the dots" que o genial Steve Jobs proferiu na cerimónia de graduação na universidade de Stanford, em 2005. De qualquer modo, ouvir um ídolo de adolescentes dizer coisas como estas
  • "Opportunity looks a lot like hard work"
  • "Never quit your first job until you have your next job"
  • "The sexiest thing in the entire world is being really smart, thoughtful and generous"
é muito pouco frequente, pelo que também é de saudar. Salve!

Admirável Estado de Vigilância

A Lavabit, criada há nove anos, tinha por objecto de negócio prestar um serviço de correio electrónico, em modo seguro, por recurso a encriptação do tráfego que assegurava. À data do seu encerramento (anunciado aqui pelo seu proprietário e gerente executivo, Ladar Levison, no dia 8 de Agosto passado, por sua decisão), tinha mais de 400 mil utilizadores entre os quais, ao que parece, se encontrava Edward Snowden.

Sucede que, devido ao facto de a prestação do seu serviço inviabilizar a espionagem por parte da NSA, Levison foi pressionado a colaborar com aquela agência em termos que a lei americana não permite divulgar, como explica na comunicação que então endereçou aos seus utilizadores e que motivou a sua decisão de "suspender as operações" (cuja tradução, da minha responsabilidade, veiculo abaixo).

Sucede que, extraordinariamente (?), a decisão de encerrar as operações estará a ser tida por "ilegal" e "criminosa". George Orwell cruzou-se com Joseph Heller e o resultado é uma monstruosidade híbrida, real, de "1984" e "Catch 22". E se o leitor por acaso pensa que este é um problema essencialmente americano, tenha presente que Julian Assange, cidadão australiano, continua sitiado na embaixada do Equador em Londres. Acrescente-se a isso o facto de as autoridades policiais britânicas terem exercido o seu poder discricionário de deter uma pessoa (por "mero acaso" ligada a Glen Greenwald e, portanto, a Edward Snowden), durante nove horas, impedindo-a de contactar um advogado, por "suspeita" de ligações terroristas. E que, finda a sua detenção, não havendo lugar a qualquer tipo de acusação se arrogam o direito de arrestar os seus pertences (aqui).
Meus Caros Utilizadores

Fui forçado a tomar uma difícil decisão: tornar-me cúmplice de crimes contra o povo americano ou abandonar quase dez anos de trabalho árduo através do fecho da Lavabit. Após uma significativa introspecção, decidi suspender as operações. Gostaria de poder partilhar convosco, de forma legal, os acontecimentos que levaram à minha decisão. Mas não posso. Sinto que merecem conhecer o que está a acontecer - seria suposto que a primeira emenda me assegurasse a liberdade para falar em voz alta em situações como esta. Infelizmente, o Congresso aprovou leis que dizem o contrário. Na situação actual, não posso partilhar as minhas experiências ao longo das últimas seis semanas, apesar de eu ter, por duas vezes, formulado os pedidos apropriados.

O que vai acontecer agora? Nós já começámos a preparar a documentação necessária para continuar a lutar pela Constituição no Tribunal de Recursos do 4º Círculo. Uma decisão favorável permitir-me-ia ressuscitar a Lavabit como uma empresa americana.

Esta experiência ensinou-me uma lição muito importante: sem a intervenção do Congresso ou sem que ocorra um forte precedente judicial, gostaria de veementemente recomendar que ninguém confie os seus dados privados a uma empresa com ligações físicas aos Estados Unidos.

Melhores cumprimentos,

Ladar Levison
Proprietário e operador, Lavabit LLC

Defender a constituição é dispendioso! Ajude-nos fazendo uma doação ao Fundo de Defesa Legal da Lavabit aqui.

domingo, 18 de agosto de 2013

A situação no Egipto: da Primavera ao Inverno Árabe

Eric Margolis, jornalista, comentador e também autor de vários livros sobre o Islão, o Médio Oriente ou o conflito Indo-Paquistanês sobre Caxemira,  assina o artigo Storm on the Nile ("Tempestade no Nilo") que, a meu ver, enquadra e explica de forma sucinta mas correcta (bem diferente da "narrativa" que os media de "referência" proporcionam) os trágicos acontecimentos que estão a ocorrer no Egipto, a responsabilidade das sucessivas administrações norte-americanas e, em particular, da actual e das suas tergiversações. Profetiza também o que me parece ser muito provável: o regresso ao mubarakismo onde o principal intérprete será agora o general al-Sissi.

A tradução do artigo de Eric Margolis é da minha responsabilidade. O título do post também foi roubado ao autor.

ACTUALIZAÇÃO: Advogado diz que Mubarak deve ser libertado esta semana
As Forças Armadas do Egipto, financiadas pelos EUA, entraram em guerra contra o povo do Egipto. A Primavera Árabe transformou-se no Inverno Árabe.

Até ao momento, o exército e a polícia de segurança conseguiram brilhantes vitórias no campo de batalha contra homens desarmados, mulheres e crianças, matando e ferindo milhares que exigiam um retorno ao governo democrático.

Os mais recentes protestos, levados a cabo no Cairo por apoiantes do governo eleito de Morsi, foram dispersados por tiros e enormes buldózeres blindados semelhantes aos veículos gigantes usados por Israel para esmagar as barricadas e os manifestantes palestinianos. Todos os egípcios que se opõem à ditadura de Sissi são agora, oficialmente, "terroristas".

Os generais do Egipto e os apoiantes da direita dura mubarakista já abandonaram qualquer pretensão de que existe um governo civil e dependem agora das baionetas e dos tanques. Os homens que detêm as armas fazem as regras.

Este é o terceiro governo árabe, resultante de eleições razoavelmente justas, a ser derrubado ou sitiado, como em Gaza, por regimes militares apoiados pelo Ocidente. Ao contrário do que sucedeu na Argélia, onde o primeiro governo eleito foi esmagado, os islamistas do Egipto não têm armas e é improvável que sejam capazes de organizar uma resistência interna séria para além de algumas alfinetadas no Alto Egipto e no Sinai.

A sangrenta contra-revolução mubarakista, financiada pela Arábia Saudita e por outras monarquias do Golfo, colocou os Estados Unidos, o patrono do Egipto, numa séria embrulhada. Washington foi forçada a denunciar o golpe e a repressão estatal em curso como "deplorável", nas palavras do Secretário de Estado dos EUA, John Kerry.

No entanto, semanas antes, o evidentemente confuso Kerry tinha elogiado o golpe que derrubou o primeiro governo democraticamente eleito do Egipto falando da "restauração da democracia". Ele recusou-se a classificar o putsch militar como um golpe de estado, pois isso significaria cortar os 1,3 mil milhões de dólares anuais em pagamentos dos Estados Unidos às forças armadas do Egipto, um importante aliado dos EUA. O presidente Obama limitou-se a evitar toda esta questão.

sábado, 17 de agosto de 2013

Um crime horrível ausente dos códigos penais

Enquanto se persiste em condenar criminosos sem que tenham provocado vítimas (de que este é um caso flagrante), há organizações que se têm dedicado a evitar que, anualmente, sejam salvas milhões de pessoas de uma morte evitável. Já foi assim com o DDT e Matt Ridley vem recordar-nos de uma situação similar que vem ocorrendo como resultado da oposição militante das organizações ambientalistas, particularmente da icónica Greenpeace, às culturas agrícolas geneticamente modificadas (GM) - GM crops don’t kill kids. Opposing them does. Eis pois um crime que não consta de nenhum código penal pelo que, tecnicamente, não há criminosos apesar de as vítimas mortais se contarem por milhões.

A tradução é, como habitualmente, da minha autoria.
Foram os patos-arlequim que nos ligaram. Dez anos atrás, numa reunião em Monterey, na Califórnia, para celebrar o 50º aniversário da descoberta da estrutura do DNA, cruzei-me com o biólogo alemão Ingo Potrykus a observar patos-arlequim no porto antes do pequeno-almoço. O entusiasmo comum pela observação de aves quebrou o gelo entre nós.

Eu sabia quem era, claro. Ele tinha sido capa da revista Time por, potencialmente, ter solucionado um dos grandes desafios humanitários do mundo. Quatro anos antes, com o seu colega Peter Beyer, tinha acrescentado três genes aos 30 mil existentes no arroz para ajudar a prevenir a carência de vitamina A, uma das principais causas evitáveis de morbilidade e mortalidade em países pobres, com dietas fortemente dependentes do arroz. Fizeram-no a troco de nada, persuadindo as empresas a renunciar às suas patentes, de modo a que pudessem dar as sementes de arroz gratuitamente. Tratou-se de um impulso puramente humanitário.

Soubéssemos, Ingo ou eu próprio, que dez anos mais tarde este arroz ainda não estaria disponível para os pobres, que uma campanha sistemática para o denegrir, levada a cabo pelos colossos do movimento ambientalista, especialmente o Greenpeace, iria consumir honorários de advogados enquanto talvez 20 milhões de crianças morriam devido à deficiência de vitamina A, naquela manhã ele e eu teríamos ficado doentes de horror.

No debate sobre os alimentos geneticamente modificados que borbulha desde que Owen Paterson (sim, ele é meu cunhado, lidem lá com isso) se tornou no primeiro ministro europeu da Agricultura a entusiasticamente apoiar as culturas geneticamente modificadas há algumas semanas atrás, nem um único jornalista britânico ou blogger, que eu saiba, se preocupou em investigar os factos relativos ao arroz dourado, o qual ocupou um espaço tão proeminente no seu discurso. Certamente, pensei eu, alguns repórteres iriam sair para as Filipinas, para a China e para a Suíça e descobrir o que está de facto a acontecer. Mas não. Tal como aconteceu com a fracturação hidráulica [fracking], é mais fácil relatar a controvérsia.

Bem, vou eu próprio contar a história. A Syngenta, uma empresa de negócios agrícolas, melhorou o "arroz dourado" do Professor Potrykus através da adição de dois genes em vez de três (um proveniente do milho, um de uma bactéria do solo comum) até obter boas produtividades e proporcionar 60% das necessidades diárias de vitamina A de uma criança com apenas 50 gramas de arroz. Assim, para todas aquelas pessoas pobres que não podiam pagar, e a quem nunca lhes seriam oferecidos suplementos [vitamínicos], que não tinham onde semear espinafres mas que viviam em grande parte do arroz, a simples substituição do arroz normal pelo arroz dourado iria permitir salvar vidas.

domingo, 11 de agosto de 2013

Citação do dia (127)

"É possível ignorar a realidade, mas não é possível ignorar as consequências de se ignorar a realidade."
Ayn Rand

sábado, 10 de agosto de 2013

Armas, crimes e acidentes nos EUA nos últimos 20 anos

Continua animada a caixa de comentários a propósito do post O controlo de armas, e não a sua posse, é a principal causa do crime. Na troca de argumentos, a certa altura, é manifestada a preocupação com os acidentes com armas de fogo como razão relevante para circunscrever a sua posse (legal) a quem, a par das forças das seguranças, tenha "razões plausíveis para as transportar".

Não sendo eu um empirista, não deixo de registar a extraordinária ausência por parte dos proibicionistas (no caso, de armas de fogo) do recurso a estudos empíricos para sustentar a sua posição. Em contrapartida, existe muito material investigativo, inclusive académico, que sustenta a tese que o título do post citado veiculava. Sucede que acaba de ser publicada uma infografia que também endereça precisamente a matéria dos acidentes. Apresento-a abaixo.

Fonte: http://www.nssfblog.com/infographic-gun-crimes-plummet-even-as-gun-sales-rise/

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Ou o eterno script de aplicação de dinheiros "públicos"


Por Gary Varvel

Citação do dia (126)

"Publicamente, dizemos uma coisa. Na realidade, fazemos outra."

O incidente do Golfo de Tonkin, as mentiras e o elogio ao whistleblower que as pôs a nu

Na 4ª feira desta semana, Barack Obama foi ao programa de Jay Leno (vídeo e transcrição da entrevista aqui). A certa altura, afirmou: "Nós não temos um programa de espionagem doméstica. O que temos são alguns mecanismos através dos quais podemos seguir o rasto de um número de telefone ou de um endereço de email que nós sabemos estar de algum modo ligado a alguma espécie de ameaça terrorista". Espantoso! Apenas algumas semanas após Edward Snowden (por exemplo, aqui)!

No texto que se segue, Ellberg's Lessons For Our Time, que procurei traduzir o melhor que soube, publicado em 1 de Maio de 2008, James Bovard, um colunista frequente da American Conservative recorda uma das reflexões de Daniel Ellsberg que, creio, pode ajudar à compreensão da lógica que preside a uma tal descarada declaração do presidente americano em exercício: "a concentração de poder no Executivo desde a II Guerra Mundial tinha focado praticamente toda a responsabilidade pelo "fracasso" político sobre um homem, o presidente. Em simultâneo, isso deu-lhe uma enorme capacidade para evitar ou adiar ou ocultar um fracasso pessoal através da força ou da fraude. Confrontado com uma resistência externa resoluta, como aconteceu no Vietname, esse poder não poderia deixar de corromper o homem que o detinha."

O meu objectivo é, porém, ajudar a melhor compreender o papel insubstituível (e heróico) dos whistleblowers o aproveitando o aniversário de uma das muitas operações de false-flag (o incidente do Golgo de Tonkin). A bem da verdade.
Daniel Ellsberg
Daniel Ellsberg é o tipo de americano que deveria receber uma Medalha da Liberdade. Só que as Medalhas da Liberdade são distribuídas por presidentes que rotineiramente as atribuem aos "idiotas úteis" e apologistas das suas guerras e tomadas de poder. Ela devia ser renomeada para Medalha pela Capacitação ou Aplauso de Crimes Oficiais em Nome da Liberdade.

Ellsberg, conscientemente, arriscou passar uma vida na prisão para levar a verdade sobre a Guerra do Vietname aos americanos. Ele tinha tido a esperança que a verdade libertaria os americanos do feitiço das mentiras oficiais. Mas a experiência no Iraque indica que os americanos pouco ou nada aprenderam com os logros da era do Vietname.

Flora Lewis, uma colunista do New York Times, escrevendo três semanas antes do 11 de Setembro, comentava numa recensão a um livro sobre as mentiras do governo dos EUA relativas à Guerra do Vietname, "Provavelmente nunca haverá um retorno à discrição, na verdade, conluio, com o qual os media costumavam lidar com os presidentes, e é melhor que assim seja". Mas, poucos meses após o seu comentário, os media provaram ser tão cobardes como sempre.

No ano seguinte, saía o livro de Ellsberg - "Secrets: A Memoir of Vietnam and the Pentagon Papers". Eu deveria ter lido este livro antes de escrever o capítulo "Lying and Legitimacy" de "Attention Deficit Democracy". As amargas experiências de Ellsberg teriam refreado o meu idealismo juvenil. O seu livro foi publicado numa época em que os americanos ainda tendiam a ver Bush através da santa névoa do 11 de Setembro. As suas mentiras sobre o Iraque só vieram a ser amplamente reconhecidas depois da queda de Baghdad e da não materialização das armas de destruição maciça.

Ellsberg conta a história de como ele, enquanto antigo tenente dos Marines com um doutoramento pela Universidade de Harvard, foi contratado por John McNaughton, assistente do Secretário da Defesa, e começou a trabalhar, em Agosto de 1964, no dia em que a crise do Golfo de Tonkin eclodiu. Ele relata a recepção dos despachos por telegrama emitidos pelo navio de guerra USS Maddox.

Poucas horas após o destroyer dos EUA ter informado que estava a ser atacado por lanchas torpedeiras norte-vietnamitas [PT boats, no original], o comandante do navio telegrafara para Washington que os relatos de um ataque contra o seu navio podiam ter sido muito exagerados: "Toda a acção deixa muitas dúvidas".

Imagem wikipedia
Mas isso não importava, porque este foi apenas o pretexto que Lyndon Johnson estava à procura. Johnson e o Secretário da Defesa, Robert McNamara, apressaram-se a anunciar que o ataque tinha sido não provocado. Mas, numa reunião do Conselho de Segurança Nacional na noite em que o primeiro relatório chegou, quando Johnson perguntou, "Será que eles querem a guerra ao atacar os nossos navios no meio do Golfo de Tonkin?" o chefe da CIA, John McCone, respondeu:
Não. Os norte-vietnamitas estão reagindo defensivamente ao nosso ataque às suas ilhas ao largo da costa. Eles estão respondendo por questões de orgulho e na base de considerações de defesa.
O facto era que os Estados Unidos tinham orquestrado um ataque de comandos sul-vietnamitas em território norte-vietnamita antes do alegado conflito ter começado. Mas Johnson mentiu e começou os bombardeamentos, e o Congresso apressou-se a apoiá-lo.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

"Swaps" e similares nos media mainstream - comentário pictográfico em jeito de conselho

Recolhido no fb

Pat Buchanan: Depois de 58 mil mortos, saímos do Vietname. Quantos americanos mataram os vietnamitas desde que partimos?

É com esta simples pergunta, que roubei para título do post, que termina mais um lúcido artigo de Patrick J. Buchanan - To Stop al-Qaeda, Stop Bombing & Occupying Muslim Lands. A tradução é minha.

ACTUALIZAÇÃO: afinal, parece que a ameaça global terrorista se circunscreve ao Iémen.
Aparentemente, a ameaça é séria e específica.

Os Estados Unidos ordenaram o fecho de 22 missões diplomáticas e emitiram um alerta mundial para os cidadãos norte-americanos em viagem.

A ameaça vem da Al-Qaeda na Península Arábica (a AQPA), o ramo mais letal da organização terrorista.

"Depois de Benghazi", disse o senador Lindsey Graham (Republicano, da Carolina do Sul), "esses elementos da Al-Qaeda estão realmente 'sob esteróides' e pensam que nós estamos mais fracos e que eles estão mais fortes. (...)

"Eles querem expulsar o Ocidente do Médio Oriente e tomar o poder nesses países muçulmanos e criar uma entidade religiosa à imagem da Al-Qaeda (...) e, se nós alguma vez mordermos o isco e tentarmos voltar para casa e transformar a América numa fortaleza, haverá outros 11 de Setembro."

Na momento em que esta coluna for publicada, a América poderá já ter sido atingida. E no entanto, não será já tempo de colocar a Al-Qaeda em perspectiva e examinar se a nossa política no Médio Oriente está a criar mais terroristas do que aqueles que estamos a matar?

Em 2010, a América perdeu 15 cidadãos devido ao terrorismo. Treze deles morreram no Afeganistão. O pior ataque resultou no assassinato de seis americanos numa missão médica cristã na província de Badakhshan.

E no entanto, em 2010, nem uma morte aqui na América resultou de terrorismo.

Naquele ano, porém, 780 mil americanos morreram de doenças cardíacas, 575 mil de cancro, 138 mil de doenças respiratórias, 120 mil em acidentes (35 mil em acidentes de automóvel), 69 mil de diabetes, 40 mil induzidas por drogas, 38 mil por suicídio, 32 mil por doenças do fígado, 25 mil por mortes induzidas pelo álcool, 16 mil por homicídio e 8 mil pelo HIV/SIDA.

Será o terrorismo o assassino que mais devemos temer, nele investindo a parte de leão dos nossos recursos de combate?

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Alterações climáticas em 12 minutos: a posição dos cépticos

Via Pierre Gosselin, eis um vídeo que veicula o conteúdo de um artigo publicado no ano passado, da autoria de David M. W. Evans, matemático e engenheiro electrotécnico, especializado no estudo dos fenómenos de feedback em sistemas complexos. Nele se sistematiza, num registo acessível para um leitor leigo mas interessado, onde realmente reside a área de disputa entre os alarmistas climáticos e os cépticos, ainda que ambos os campos partilhem o reconhecimento pela física conhecida (não pela "física" dos modelos, particularmente quando a realidade se recusa a comportar-se de acordo com as "previsões" dos mesmos). Ora, como também se explicava num artigo assinado por Warren Meyer na Forbes (que na altura da sua a publicação aqui assinalei), é exactamente na quantificação dos efeitos de feedback que reside a disputa científica. Enquanto para os alarmistas estes efeitos multiplicariam por um factor de 3 o efeito directo na temperatura de maiores concentrações de CO2 na atmosfera, para os cépticos esse factor é, provavelmente, inferior a 1.

E aqui voltamos a assistir a  uma curiosa similitude entre a tentativa de modelização de fenómenos físicos complexos e não lineares com aquela que os keynesianos intervencionistas sustentam ao reclamar que no funcionamento de uma economia -  sistema igualmente não-linear e de uma complexidade ainda maior que o mundo físico já que cada pessoa age motivada pelos seus próprios interesses, ao contrário, por exemplo, das pedras - existiria um "efeito multiplicador" (maior do que 1, claro) de um delta adicional de despesa pública. Ora, há cada vez mais evidências empíricas (a juntar às lógicas de longa data) que o "multiplicador" é, na realidade, um divisor! 


A transcrição da narrativa usada no vídeo, bem como dos elementos gráficos nem sempre muito nítidos no vídeo, estão disponíveis aqui.
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P.S. - Um particular abraço caloroso de amizade para com o Maurício Porto, que voltou à actividade ao seu Terrorismo Climático depois de ultrapassado um período menos fácil. Um grande bem-haja!

O controlo de armas, e não a sua posse, é a principal causa do crime

Um virulento e assertivo artigo, assinado por Jon Christian Ryter, onde cheguei via Olavo de Carvalho (no facebook) que confirma, ainda que muito sinteticamente, por via empírica quanto aos EUA, a experiência histórica inglesa acolhida no livro que ocupa a vitrina "Guns and Violence" (indicação de Thomas Sowell). A tradução, é parcial e adaptada (os realces são do autor).
"Pense-se nisto. Os Estados Unidos da América têm a terceira maior taxa de homicídios do mundo. Mas, caso não se considerassem três das suas cidades -Chicago, Detroit e Washington DC -, os Estados Unidos ficariam com a quarta menor [itálico meu] taxa de homicídios do mundo. Aquelas três cidades, por sinal, têm as leis mais duras de controlo de armas dos Estados Unidos. Nenhuma delas, porém, é a capital dos assassinatos do país. Detroit é a número #2. A elevada taxa de criminalidade é devida à pobreza e à dependência das drogas. A sua vizinha, Flint, é a número #1. New Orleans é a número #3, St. Louis é a número #4 e Baltimore a número #5. A sexta é a Birmingham. Empatadas no sétimo lugar estão Newark e Oakland, Baton Rouge é a oitava. Cleveland é a nona e Memphis a décima. As doze cidades no topo da lista dos assassinatos (acima indicadas) têm uma coisa em comum. E não é a das violações dos progressistas sociais à 2 ª Emenda [Direito dos cidadãos à detenção de armas]. É a pobreza.

As cidades mais pobres do país têm as mais elevadas taxas de criminalidade. Detroit é a cidade mais pobre dos Estados Unidos. Cleveland é a 4ª mais pobre seguida por St. Louis, que é a 6ª e Newark como a 10ª cidade mais pobre. Entre as dez cidades mais perigosas dos Estados estão St. Louis (#1), Detroit (#2), Memphis (#3), Oakland (#4), Baltimore (#8), Cleveland (#9) e Baton Rogue (#10). Estas cidades estão entre as dez primeiras onde se tem a maior possibilidade de ser assaltado à mão armada - e morto. Quanto mais convictos estiverem os criminosos que as suas potenciais vítimas não estão armadas, mais provável será que aqueles cidadãos virão a ser atacados. O que significa isto quanto ao controlo de armas? O controlo de armas, e não a sua posse, é a principal causa do crime. Tornem-se os fortes fracos, através do seu desarmamento, e os fracos tornar-se-ão suficientemente fortes para os atacar. Isso não é uma declaração extravagante vinda do nada. Isto é um facto comprovado pelas estatísticas. Deste modo, sendo isto tão obviamente verdade, por que razão é que o governo federal - e os senhores da Nova Ordem Mundial - estão tão determinados nos seus esforços para proibir a posse privada de armas? Acreditem-me, não é para proteger os cidadãos da violência armada. Eles pretendem proibir a posse privada de armas de fogo não porque se esteja com medo de bandidos armados na rua, mas porque têm medo dos cidadãos honestos que detêm armas legais que já disseram ao governo dos Estados Unidos "já chega!" vezes demais.

Hoje, esses honestos cidadãos estão energicamente a recordar aqueles que o elegeram - o governo central - que ele deriva 100% do seu poder não dos príncipes da indústria e dos barões da banca que os subornam, mas do consentimento dos governados que, hoje, estão prontos a dissolver os laços políticos que unem os homens honestos aos políticos corruptos que desperdiçaram a riqueza da maior nação da Terra. Porque se "Nós, o Povo" não lidarmos com o governo politicamente mais corrupto na Terra - a Administração de Obama - os Estados Unidos da América deixarão de existir antes que "o poço de moeda fiduciária", que financia o nosso falido sistema de Segurança Social, venha a secar ou antes que a Avó vá a um hospital Obamacare para lancetar o furúnculo purulento na sua nádega e acabe por morrer na mesa de tratamento. Por outras palavras, quando o direito a possuir armas morrer, o mesmo acontecerá à nação."

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

7 coisas com que estou mais preocupado do que com um ataque terrorista

A propósito da "chuva" de notícias quanto à "iminência" de ataques terroristas (num timing muito conveniente para uma administração fortemente abalada por sucessivos escândalos, em particular o da revelação da extensão das actividades de espionagem interna sobre a generalidade dos seus próprios cidadãos), e com a permissão de Robert Wenzel (que há pouco mais de um ano atrás foi convidado a dar uma palestra na Reserva Federal de Nova Iorque), de seguida traduzo o seu post de hoje (ontem) - 7 Things I Am More Concerned About Than a Terrorist Attack:
"O que estou a fazer na sequência do novo alerta terrorista lançado pelo governo dos EUA? Absolutamente nada.

A probabilidade de vir a ser alvo de um ataque terrorista é inferior a 0,0000000001%. Todavia, há coisas com que estou realmente preocupado:
  1. Com o caminhar pelas ruas, noite dentro, com medo de ser assaltado por jovens praticamente iletrados saídos de uma escola pública, que são impedidos de dar os primeiros passos para conseguir um emprego, devido às leis do salário mínimo.
  2. Com o Obamacare que outra coisa não irá fazer que não seja introduzir o socialismo no sector médico e, em última análise, conduzir ao declínio da esperança de vida nos EUA.
  3. Com o crescimento do estado de vigilância. Edward Snowden tinha toda a razão ao salientar que aquilo que temos é um estado  que, de um momento para o outro, pode mudar a agulha da espionagem para a tirania. Essa mudança não ocorreu, ainda, de uma forma que impacte com a maioria de nós. Mas é uma mudança que pode acontecer a qualquer momento.
  4. Com os negócios crony capitalist/governo que sufocam o sistema de mercado livre e movimentam mais poder para as mãos dos crony capitalists, que se alimentam cada vez mais à conta do estado.
  5. Com o activismo das operações por parte do governo para silenciar os whistleblowers e outros desmascaradores de actividades governamentais ( Bradley Manning, Edward Snowden, Julian Assange), de modo a tornar mais difícil de compreender aquilo que o governo anda a fazer.
  6. Com a emissão de moeda por parte da Reserva Federal que pode levar à explosão de uma muito forte inflação a qualquer momento.
  7. Com a emissão de moeda por parte da Reserva Federal resultando numa economia manipulada que leva a economia a entrar em cíclicos estados maníaco-depressivos.
Estes são todos perigos reais criados pelo estado. Quando o estado nos adverte para um potencial ataque terrorista, tenham em mente o que o estado está a fazer-nos diariamente - coisas que têm um impacto muito real sobre as nossas vidas diárias. O estado representa uma ameaça muito maior para nós que uma probabilidade inferior a 0,0000000001% de sermos afectados directamente por um ataque terrorista.

Aqui fica o meu alerta: TEMAM O ESTADO, ELE ESTÁ-NOS ATACANDO AGORA."

domingo, 4 de agosto de 2013

Exercício de exegese


Como se irá alcançar tal milagre? Irá o défice orçamental reduzir-se no montante correspondente? Não. Muito simplesmente, o "Fundo de Estabilização da Segurança Social vai comprar quatro mil milhões de euros em títulos da dívida", desfazendo-se para o efeito de outros títulos em carteira (dívida soberana de outros países, acções de empresas, etc.), cumprindo o disposto na Portaria n.º 216-A/2013, de 2 de Julho, assinada por Vítor Gaspar e Mota Soares (e que vale a pena ler na íntegra).

Cumpre-se assim o processo de "tamponamento" e circunscrição dos títulos tóxicos (leia-se, da dívida pública portuguesa) aos actores nacionais.

João Luís Pinto já escreveu o que havia a comentar sobre este assunto. Com a devida vénia, transcrevo um seu excerto aquando da publicação da referida Portaria:
Depois do programa de coerção de bancos para a compra de dívida portuguesa processo de atulhamento das contas dos bancos de dívida portuguesa bail-out dos bancos portugueses com dinheiro da troika, eis que assistimos como presente de despedida do ministro das Finanças Vítor Gaspar a uma amostra do efectivo mandato que este se encontrava a cumprir com esmero: o atafulhar dos bancos portugueses e da Segurança Social de dívida pública portuguesa, prontinha a ser colocada no prato da balança (leia-se, no altar sacrificial) quando o inevitável haircut chegar, transferindo para dentro de portas o risco de incumprimento e entretanto protegendo e salvaguardando os interesses dos investidores estrangeiros em risco.

Um esforço sem dúvida patriótico, e digno de um fino representante do melhor povo do Mundo.

Obrigado, Rússia?

O título do post, roubado do belo artigo que Jeffrey Tucker publica hoje, endereça muitas das perplexidades que suscitaram a anuência pelas autoridades russas ao pedido de asilo de Edward Snowden. Mas, afinal, poder-se-ão comparar as credenciais de defesa da liberdade dos EUA perante as da Rússia? O  acolhimento pela plutocracia patrocinada por Putin (e pelo intermitente clone Medvedev) não constituirá "prova" da "culpa" de Snowden?

A resposta à sua própria interrogação leva Tucker a fazer uma rápida viagem pelos séculos XX e XXI, recorrendo também à original interpretação de Murray Rothbard quanto ao tempo real em que decorre o famosíssimo "1984" de Orwell que permite lançar uma luz diferente sobre ortodoxias tidas por definitivas. Em qualquer caso, fundamental se torna observar a volatilidade de quem são os "Bons" e os "Maus" nas potências imperiais. Sobretudo, não deixar passar por verdade o que se inculca nas fracas memórias.

Tucker não teme juntar-se ao pai de Edward nos agradecimentos às autoridades russas. Evidentemente que me associo a ele. A tradução do texto é, como habitualmente, minha.
"Lon Snowden, o pai do Edward Snowden, deu uma entrevista aos meios de comunicação esta semana. O local escolhido: Rossiya 24, uma estação de propriedade estatal [russa]. A sua era uma mensagem de gratidão para com a Rússia por ter contemplado o pedido de asilo do seu filho. Edward, como todos sabem, está em fuga por ter revelado ao povo americano que o seu governo está registando todas as comunicações armazenando-as para utilização posterior.

Por outras palavras, Edward está em apuros por ter revelado que o nosso governo está fazendo aos seus próprios cidadãos o que os EUA, em tempos, acusaram a Rússia de fazer aos seus cidadãos. No que é realmente uma reviravolta bizarra nos acontecimentos, a Rússia tornou-se num refúgio seguro para um whistleblower americano. Qualquer amigo da liberdade tem que se juntar a Lon Snowden, para expressar gratidão. Porque, como se vê, há apenas um punhado de países no mundo que o governo dos EUA não consegue intimidar a observar os seus desejos.

Estou tão contente quanto o homem comum, por "nós" termos vencido a Guerra Fria. Mas, por vezes, não é possível evitar a pergunta: qual foi o objectivo desses 45 anos de impasse nuclear? Durante todo esse tempo foi-nos dito que aquela era uma poderosa luta entre o individualismo e o colectivismo, entre a liberdade e a tirania, entre o capitalismo e o comunismo.

Mas, ao fim e ao cabo, depois de toda a poeira ter assentado, é a Rússia que está proporcionando santuário aos nossos melhores cidadãos.

Será isto uma espécie de um estranho romance distópico? Bem, sim, e tem um nome: 1984, de George Orwell. Murray Rothbard levou uma vez a cabo uma reconstrução do significado oculto desse romance. Ele demonstrou que Orwell estava escrevendo sobre a realidade do período da guerra e do período do pós-guerra. Um tempo em que o estatuto da Rússia, vista como o inimigo, se tornava em amigo e de novo em inimigo num piscar de olhos.

Na representação de Orwell, o mundo é dominado por três superpotências: Oceania, Eurásia e a Lestásia. As alianças são totalmente voláteis em função das prioridades políticas. "Nós sempre estivemos em guerra com a Lestásia", diz o slogan. Soa como algo que ouvíssemos hoje.

Na minha memória viva, os fundamentalistas islâmicos foram aliados dos EUA. Eles eram anunciados em 1980 como combatentes da liberdade que preservavam os valores tradicionais da família e que serviram como um poderoso baluarte contra o comunismo ateu. Após a Guerra Fria, os nossos amigos tornaram-se nossos inimigos. Agora, nos talk shows de direita fala-se diariamente de como nós sempre estivemos em guerra contra o Islão.

sábado, 3 de agosto de 2013

O consenso do silêncio explicado tintim por tintim

O consenso silencioso em torno do novo titular da pasta de Energia (a que aludia aqui), que esta semana já tinha sido desafiado por Henrique Gomes, é hoje posto a nu por Mira Amaral numa entrevista ao i: "Voltaram a abrir-se garrafas de champanhe na EDP". Mira Amaral vai directo à jugular para explicar a pastosidade consensual (realces meus):
"Nos anos 70 do século passado, Carlos Pimenta criou o Centro de Energia, Transportes e Ambiente, que passou a influenciar as decisões de três partidos: PS, PSD e CDS. No PS vimos o fundamentalismo ambiental e os exageros eólicos do governo anterior, de Manuel Pinho e Carlos Zorrinho, mas sob influência de Carlos Pimenta. No PSD temos Jorge Moreira da Silva e no CDS temos o seu irmão. Os três partidos são muito parecidos no disparate energético e no fundamentalismo ambiental. (...)

Tenho autoridade moral, técnica e política, porque fui eu que lancei esse movimento [da snovas renováveis] em Portugal. Outra coisa é, em nome das alterações climáticas, aproveitarem-se para fazer um fundamentalismo ambiental e, o que não é despiciendo, para ganharem à grande com rendas excessivas e criar um sério problema à economia."
É imprescindível a sua leitura integral.

Nada a esconder, nada a temer? Cuidado!

Para aqueles que subscrevem  a ideia que subjaz ao título do post - que também creio serem a larga maioria -, Simon Black, o editor do Sovereign Man, apela aqui a que se exerça a faculdade de pensar ao mesmo tempo que se veja o que se passa à nossa volta.

Porque me revejo na sua análise,  porque a liberdade não pode submeter-se à segurança, pois esta deriva daquela, procurei traduzir os excertos que se seguem, convidando ainda os leitores, mesmo que tecnologicamente mais avessos, a ler - e a seguir -, os conselhos que aqui se elencam para conseguir um melhor grau de protecção da sua privacidade na utilização de meios digitais (e que já em Perigo Público, num filme de 1998, se podia antever (ou seria já então realidade?)).
Em qualquer discussão sobre a privacidade, há invariavelmente alguém que diz: "Bem, se não se tem nada a esconder, nada se tem a temer."

Que treta pegada! Esta, que talvez seja uma das mais ignorantes declarações jamais proferidas, é, porém, aceite pela grande maioria das pessoas que ainda confia nos seus governos.

Ontem, o jornal britânico The Guardian publicou mais um exemplo da falácia total que constitui esta maneira de pensar .

Na quarta-feira desta semana, Michele Catalano e o seu marido, ambos residentes em Long Island, foram saudados por um bater à sua porta por uma brigada de luta anti-terrorista.

Aparentemente, as suas pesquisas no Google haviam despertado uma suspeita intensa. Ela estava pesquisando panelas de pressão. O seu marido estava à procura de mochilas.

Normalmente esses dois itens pareceriam completamente inofensivos. Mas, num mundo tão absurdo, dominado por uma consciência securitária, onde os corta-unhas são considerados armas mortíferas, uma panela de pressão e uma mochila são vistos como instrumentos vitais no kit de ferramentas de um terrorista... praticamente, Armas de Destruição Maciça.

E assim, uma equipa de seis agentes do governo Big Brother chegou à casa da família com armas no coldre e dispondo tacticamente os seus veículos para bloquear qualquer saída do local.

O marido foi interrogado e os agentes revistaram a casa à procura de quaisquer outras pistas terroristas.

No decorrer da troca de palavras, os agentes declamaram levar a cabo actividades como aquela "cerca de 100 vezes por semana".

Aparentemente, é isto que passa por ser uma sociedade livre nos dias de hoje, onde até mesmo as interacções online mais inofensivas acabam sendo escrutinadas por agentes armados.

E graças a um aparato interminável e crescente de vigilância online, os governos têm os meios para monitorizar... quase toda a gente.

É claro que eles querem que nós achemos que nada temos a temer desde que não tenhamos nada a esconder. Mas uma pessoa que exercite o pensamento e seja racional não pode neste momento ignorar os múltiplos sinais que estão diante de si sem compreender o quão fora de controlo se tornou o estado policial." (...)

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Do ruído à substância ou a miséria do jornalismo que temos

Tal como foram os políticos gregos que, coitados, que sucumbiram ao canto da sereia daqueles malvados (Goldman Sachs e quejandos) que lhes propuseram maquilhar as contas públicas para que o regabofe na despesa do estado pudesse continuar, também o governo anterior - particularmente, José Sócrates, Teixeira dos Santos e Costa Pina - parece terem sido hipnotizados pelos cantos das ninfas domésticas pelo que não vale sequer a pena mencionar a sua responsabilidade - que é toda - na matéria dos swaps contratados depois do grande crash de 2008, como ficou evidente aqui.

Isto, independentemente da veracidade de "notícias" como esta e das necessárias consequências a retirar caso correspondam à verdade.

Bradley Manning - a vergonha de condenar um culpado sem que haja vítimas

Das promessas que o presidente eleito Barack Obama formalizou, nos finais de 2008, e que foram compiladas no site change.gov, constava a seguinte:


Como nos informa Gary North, de lá foi retirada1 há uns dias (por volta de 25 de Julho) embora possa ser ainda acedida através do Archive.org a bem da verdade histórica e do combate cívico contra conhecidas práticas ignominiosas que, como se constata, Obama sanciona.

Vá-se lá saber o porquê desta coincidência com o final do julgamento (?) de Bradley Manning. Mas não me parece ser muito difícil de adivinhar por parte de quem - um ex-professor de direito constitucional e Nobel da Paz! - defende a espionagem maciça de toda uma nação (e dos contactos dos americanos com estrangeiros) porque existe um tribunal (secreto, evidentemente, e do qual não há contraditório, muito menos apelo) que assim o "atesta"; por parte de quem se arroga o poder de elaborar listas de morte (kill-lists) e ordenar o assassínio dos que lá constem - mesmo se cidadãos americanos - e, claro, de todos os demais cidadãos inocentes (os danos colaterais); por parte de quem arma, ou manda armar, aqueles que já foram (ainda são?) os inimigos que levaram à instauração da "guerra ao terrorismo". Etc, etc. 

Imagem retirada daqui
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1 Uma possível tradução (mantenho o termo whistleblower por não conhecer nenhuma palavra em português que tenha a necessária nobreza semântica para designar aqueles que, não querendo fazer parte de uma orquestra criminosa, põem a boca no trombone): 
Proteger os whistleblowers: com frequência, a melhor fonte de informação acerca do desperdício, da fraude e do abuso no governo está num funcionário do governo comprometido com a integridade pública que está disposto a falar. Tais actos de coragem e patriotismo, que às vezes podem salvar vidas e frequentemente poupar o dinheiro do contribuinte, devem ser incentivados e não sufocados. Necessitamos de capacitar os funcionários federais como guardiões contra as irregularidades e como parceiros no desempenho [da administração]. Barack Obama irá reforçar as leis de protecção aos whistleblowers para defender os trabalhadores federais que denunciem o desperdício, a fraude e o abuso de autoridade no governo. Obama irá assegurar que as agências federais agilizem o processo de revisão das alegações dos  whistleblowers e que os whistleblowers tenham pleno acesso aos tribunais e ao devido processo legal.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Para ver não basta olhar mas ajudaria havendo vontade

Pela n-ésima vez, surge algo como isto: Governo cria grupo para potenciar crescimento da economia. Andamos nisto há décadas ouvindo os sucessivos governos apontar as baterias à "burocratização" e a protestar as suas intenções de "facilitar", "potenciar" e "desbloquear" a vida aos empreendedores/investidores. Como se houvesse outra entidade, que não o Estado, que a outra coisa não se dedica que não seja exactamente a de burocratizar, dificultar, bloquear e, por conseguinte, a "despotenciar" sob o manto diáfano da "regulação" e da correcção das "falhas de mercado".

Não dei por ter havido eco na imprensa dos dados referentes ao Índice de Liberdade Económico de 2013, publicado pela Heritage Foundation. Sumariamente, são os seguintes os índices agregados considerados que, de há muito, apontam para a circunscrição das nossas maleitas crónicas, todas elas, evidentemente, sob a alçada do Estado - gigantesca despesa estatal e consequente rapacidade fiscal; rigidez do mercado de trabalho, corrupção e fraca protecção dos direitos de propriedade, fraco desempenho no licenciamento de actividades económicas. E se houvesse dúvidas sobre a real intenção do actual governo para "mexer" a sério neste quadro, coisas como esta ou esta deveriam desfazê-las ao observador medianamente atento,.


Ler mais acerca da Economia portuguesa.
Consultar o  índice de 2013.

Sector eléctrico - La grande bouffe

Henrique Gomes, num artigo corajoso, volta a denunciar a desbunda - a grande farra - existente no sector eléctrico que, no essencial, continua intocável (apesar da propaganda governamental de que Álvaro Santos Pereira, como responsável último pela pasta, não conseguiu separar-se). A ler na íntegra.

Imagem retirada daqui