sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Da inexistência de credibilidade das administrações americanas

Ontem, Peter Klein, escrevia a propósito da (falta de) credibilidade das alegações humanitárias (!?) da administração americana para justificar o bombardeamento, unilateral, na Síria (minha tradução):
"Os EUA têm que bombardear a Síria, dizem-nos, para manter a sua "credibilidade" no palco mundial. Eu não consigo entender isso. O governo dos EUA invadiu, ocupou e desestabilizou o Afeganistão e o Iraque. O Exército dos EUA usa bombas de fragmentação, de fósforo branco, e munições de urânio empobrecido, todos elas proibidas ou desencorajadas através de tratado ou convenção internacional. O Presidente apoia a execução extrajudicial, as extradições não judiciais e a tortura, todas elas proibidas pelas Convenções de Genebra. A NSA espia os seus próprios cidadãos, em violação da lei dos EUA, e nega esse facto até ser apanhada em flagrante. Que credibilidade é possível atribuir ao governo dos EUA?"
James Bovard, por seu lado, em "We can't trust White House Syria claims", e a propósito do celebérrimo massacre de oficiais polacos, perpetrado pelo exército vermelho, ocorrido durante a II GG na floresta de Katyn, em 1940, que só o ano passado, mais de 70 anos depois(!) e mais de 20 após o fim da Guerra Fria (!!), se soube oficialmente que os EUA tinham "abafado" a verdade, faz observar que, a nada acontecer que modifique o secretismo, aliás crescente, das administrações americanas, só em 2082 os EUA admitirão a verdade sobre o caso sírio.

Vejamos, então, recorrendo à história recente, e sem invocar inúmeros exemplos de operações de false flag, que viriam a "justificar" as pré-desejadas intervenções guerreiras pela administração imperial em exercício, "Dez ataques com armas químicas que Washington não que falemos". Segue-se uma tradução minha, parcial e adaptada, deste artigo de Wesley Messamore. As  imagens têm a mesma proveniência.

1 - As forças armadas dos EUA lançaram 75 milhões de litros de produtos químicos sobre o Vietname de 1962 a 1971


Durante a Guerra do Vietname, as forças armadas dos EUA pulverizaram as florestas e terras agrícolas do Vietname e países vizinhos com 75 milhões de litros de produtos químicos, incluindo o muito tóxico Agente Laranja, para deliberadamente destruir o abastecimento alimentar, arrasar a ecologia da floresta e devastar a vida de centenas de milhares de pessoas inocentes. O Vietname estima que em resultado de uma década de ataques químicos, 400 mil pessoas tenham sido mortas ou mutiladas, 500 mil bebés tenham nascido com problemas congénitos e 2 milhões tenham sido vítimas de cancro ou outras doenças. Em 2012, a Cruz Vermelha estimou que um milhão de pessoas no Vietname são deficientes ou têm problemas de saúde relacionados com o Agente Laranja. [E, todavia, como Patrick J. Buchanan, assinalava "Depois de 58 mil mortos, saímos do Vietname. Quantos americanos mataram os vietnamitas desde que partimos?".]

2 - Israel atacou civis palestinianos com fósforo branco em 2008-2009


O fósforo branco é uma horrível arma química incendiária que faz derreter a carne humana até aos ossos.

Em 2009, múltiplos grupos de direitos humanos, incluindo o Observatório dos Direitos Humanos, a Amnistia Internacional e a Cruz Vermelha Internacional informaram que o governo israelita estava a atacar civis no seu próprio país com armas químicas. Uma equipa da Amnistia Internacional afirmou ter encontrado "provas irrefutáveis de utilização generalizada de fósforo branco" enquanto arma em áreas civis densamente povoadas. O Exército israelita negou as acusações no início, mas acabaria por vir a admitir que elas eram verdadeiras.

Após a série de acusações destas ONG, os militares israelitas chegaram mesmo a atingir o quartel-general da ONU (!), em Gaza, com um ataque químico. Que havemos de pensar de todas estas provas quando as comparamos com as do caso contra a Síria? Por que não tentou Obama bombardear Israel?

3 - Washington atacou civis iraquianos com fósforo branco em 2004


Em 2004, jornalistas "embebidos" nas forças armadas dos EUA no Iraque começaram a relatar a utilização de fósforo branco em Fallujah contra insurgentes iraquianos. Inicialmente, os militares mentiram e disseram que só estavam a usar fósforo branco para criar cortinas de fumo ou para iluminar alvos. Depois, admitiram ter usado o volátil produto químico como arma incendiária. À época, a emissora de televisão italiana RAI exibiu um documentário intitulado "Fallujah, o massacre escondido", que incluiu imagens sombrias de vídeo e fotografias, bem como entrevistas a testemunhas oculares residentes em Fallujah e a militares dos EUA que revelavam como o governo dos EUA fez indiscriminadamente chover fogo químico branco sobre a cidade iraquiana derretendo mulheres e crianças até à morte.

4 - A CIA ajudou Saddam Hussein a massacrar iranianos e curdos com armas químicas em 1988


Os registos da CIA provam agora que Washington sabia que Saddam Hussein estava a usar armas químicas (incluindo gás de nervos sarin e gás mostarda) na Guerra Irão-Iraque, no entanto, continuou a fornecer informações secretas ao exército iraquiano, informando Hussein dos movimentos das tropas iranianas sabendo que ele usaria essas informações para lançar ataques químicos. Em certo ponto no início de 1988, Washington advertiu Hussein para um movimento de tropas iranianas, que teria terminado a guerra com uma derrota decisiva para o governo iraquiano. Em Março um encorajado Hussein com novos amigos em Washington atingiu uma aldeia curda ocupada por tropas iranianas com múltiplos agentes químicos, matando cerca de 5 mil pessoas e ferindo pelo menos 10 mil mais, a maioria deles civis. Milhares de pessoas morreram nos anos seguintes de complicações, doenças e malformações congénitas.

(...)
7 - O FBI atacou homens, mulheres e crianças com gás lacrimogéneo em Waco, em 1993



No infame cerco em Waco de uma pacífica comunidade de Adventistas do Sétimo Dia, o FBI bombeou gás lacrimogéneo para dentro de edifícios sabendo que mulheres, crianças e bebés os ocupavam. O gás lacrimogéneo era altamente inflamável e acabou por dar origem a um incêndio que envolveu os edifícios em chamas levando à morte de 49 homens e mulheres e 27 crianças, incluindo bebés e crianças. De lembrar, que atacar um soldado inimigo armado num campo de batalha com bombas de gás lacrimogéneo é um crime de guerra. Que tipo de crime constitui um ataque contra um bebé com gás lacrimogéneo?

Ler o resto do artigo aqui.

1 comentário:

Aprendiz disse...

Sobre Israel, é falsa a informação de que tenham usado bombas com fósforo branco. A única informação comprovada foi a utilização de sinalizadores com fósforo branco, o que é também proibido, mas evidentemente não é igual a um ataque químico.

Então, ambas as informações são sem comprovação, tanto a de que o exército israelense tenha feito ataques químicos como a de que o exército sírio o tenha feito. Mas em ambos os casos, a imprensam, por ter uma agenda, tratou acusação como se fosse prova.