sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A agenda verde regulatória e o talentoso John Beale

N’O Insurgente, Ricardo Campelo Magalhães já tinha chamado a atenção para a estória do Sr. John Beale, um alto e venerável funcionário da EPA - a poderosíssima “Agência (federal) de Protecção Ambiental” (criada por Nixon durante o seu primeiro mandato, em 1970) – durante 24 anos (após 2 anos como “consultor” externo da mesma) até à sua saída em 30 de Abril de 2013. Acusado, reconheceu um conjunto de crimes praticados pelos quais foi sentenciado em 32 meses de pena de prisão sendo ainda obrigado a restituir uma verba de perto de 1,4 milhões de dólares. As burlas foram múltiplas, assentes em mentiras de vária ordem. Entre outras, desde o incumprimento do dever de assiduidade pelo facto de, simultaneamente, estar “ao serviço da CIA” (uma mentira apenas verbalizada, que durou anos!) até ao petty theft dum lugar de estacionamento para deficientes no parque da EPA por, supostamente, ter contraído malária (de que nunca sofreu) quando “prestou” serviço militar no Vietname (onde nunca esteve nessa qualidade). Um perfeito burlão, pois. Dirá o leitor, bem, e o que tem esta estória de especial? Afinal, tal como os chapéus, burlões há muitos. (Atenção porém, caro leitor, a um sinal importante: este caso, "estranhamente", não foi alvo dos nossos media sempre tão atentos a escândalos.)

Imagem retirada daqui
É certo que sim mas não são propriamente aqueles os “feitos” que me levaram a escrever sobre este assunto. Considere-se agora o facto de o Sr. John Beale ter sido um dos mais proeminentes membros da EPA, um Senior Leader, tendo o seu nome associado, e nele reconhecido como respeitado perito, ao Clean Air Act, de 1990, e suas alterações subsequentes e, como decerto já terão adivinhado, às matérias das “alterações climáticas”, competências e afazeres que o levaram às quatro partidas do mundo e a frequentes visitas ao Capitólio e à Casa Branca, de forma ininterrupta desde a administração de George H. Bush até à de Barack Obama. O Sr. Beale, jurista de formação, sempre demonstrou uma especial aptidão para trabalhar “por projectos”, forma, segundo ele, de vencer as inércias motivadas pelos silos organizacionais da EPA e pelo afadigamento que sempre recaiu sobre a Agência e os seus extenuados funcionários. Daí que, a certa altura (2005), o Sr. John Beale tenha tido uma ideia que expôs aos seus sucessivos superiores hierárquicos e que recolheu sempre apoio e entusiasmo da sua parte (incluindo-se aqui também Gina McCarthy a qual, entretanto, ascendeu a presidente da Agência). Foi durante este tempo – 5 anos! – que ele “trabalhou (também) para a CIA”.

Federal Register - imagem daqui
Este foi um projecto particularmente interessante pelo facto de sempre ter sido apócrifo (!), para além de conduzido individual e exclusivamente pelo Sr. Beale ainda que com o beneplácito e, certamente, digo eu, sob a orientação das suas chefias que se foram sucedendo. Chegados aqui, nada como dar a palavra ao Sr. Beale para que ele, nas suas próprias palavras, durante o depoimento (entretanto tornado público como dei conta aqui) que prestou a um comité especial da Câmara dos Representantes (em 19 de Dezembro de 2013, logo após a leitura da sua sentença judicial), nos possa devidamente elucidar. Trata-se de uma peça absolutamente extraordinária que ilustra, como muito poucas o terão alguma vez feito, de que modo funciona, para que serve e que fins visa um organismo “regulador” em roda livre. Se alguma vez se perguntou qual a razão deste gigantesco absurdo (anteriormente abordado no blogue como, por exemplo, aqui e aqui e miniaturizado na imagem ao lado, de que vale a pena conhecer a fonte original lendo as letras miudinhas...) talvez esteja prestes a satisfazer a sua curiosidade perante a insaciedade deste monstro gargantuesco.

À pergunta de um membro do referido comité sobre se aquele projecto alguma vez produziu um resultado tangível, foi a seguinte a resposta do Sr. Beale (minha tradução do depoimento, na sua página 21), realce meu:
“Havia várias fases nesse projecto tal como o esboçámos. Há um enorme corpo bibliográfico sobre o tema. Por vezes referido de literatura da sustentabilidade, por vezes como economia verde. E, assim, a fase 1 do projecto consistia na minha profunda familiarização, de um modo transversal, com essa literatura. A fase 2 teria consistido na entrevista com especialistas, académicos e do mundo empresarial, com pessoas noutros países que estão a fazer coisas.
E depois chegaria a vez da fase 3 com a elaboração de propostas específicas que poderiam ser - que poderiam ter sido propostas em sede legislativa ou coisas que poderiam ter sido realizadas administrativamente com o propósito de, digamos, modificar o DNA do sistema capitalista..."
Capisce, caro leitor? E se por acaso pensar que apenas estamos perante mais uma manifestação das idiossincrasias norte-americanas, leia este texto de Pinho Cardão sobre algumas das coisas que por cá se passam...

1 comentário:

Lura do Grilo disse...

Há muita gente a comer e a beber destas idiotices do "verde"