quarta-feira, 30 de julho de 2014

Citação do dia (169)

"Sem brincadeiras...

O mundo depois de 1970 foi tornado possível por vários desenvolvimentos. O mais importante dos quais foi o declínio das taxas de juro. Isto permitiu a expansão da dívida de um modo muito relevante. O mercado do crédito (total) dos EUA passou dos 170% do PIB no início dos anos 80 para mais de 350% em 2007. Em termos nominais, o total de dívida dos EUA passou de 5 triliões de dólares para mais de 50 triliões em 2007. Isto teve os seguintes efeitos:

- O crédito mascarou os efeitos do abrandamento da economia real. Os salários, na sua maior parte, estagnaram. Mas os consumidores continuaram a gastar mais dinheiro. Os gastos, que excederam a capacidade real da economia, mudaram o foco desta da produção para o consumo e para a finança. A indústria financeira, em particular, registou enormes lucros... e usou essa riqueza para controlar as políticas governamentais.

- Os governos também aumentaram os gastos. As receitas fiscais cresceram com o consumo alimentado a crédito e com as engenharias financeiras que proliferaram. As receitas fiscais em 1990 eram apenas de 1 trilião de dólares. Agora são de 2,5 triliões. Em cima disto, os governos aproveitaram a vantagem das taxas de juro baixas para se endividarem mais ainda.

Isto torceu e distorceu a economia ainda mais; sejam os fundos provenientes do crédito ou dos impostos, os governos transferem essa riqueza das partes produtivas da economia para aquelas que não o são... ou até para as que são, manifestamente, anti-produtivas.”

Torcendo e distorcendo” – Bill Bonner

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Pat Buchanan: Será Putin pior que Estaline?

O trágico derrube do avião civil no leste da Ucrânia no passado dia 17 desencadeou, nesse mesmo dia, o cortejo habitual de acusações indignadas e o brandir de novas ameaças de sanções por parte dos EUA/NATO para com a Rússia de Putin. O que volta a impressiona nos relatos dos media de "referência" é a sua absoluta disponibilidade para veicular o discurso da potência dominante (uma notável excepção aqui) sem que sequer tentem responder à pergunta essencial aquando de qualquer incidente que, sem muita dificuldade, pode desencadear tragédias subsequentes numa escala muitíssimo maior: Cui bono? Quem beneficia com o derrube do avião?

Talvez muitos já se tenham esquecido de umas certas "armas de destruição maciça" cuja existência constituía uma ameaça tão intolerável que "justificava" uma mortífera guerra no Iraque de que não se vê o fim, 11 anos decorridos. Havia provas, diziam, insofismáveis. Era mentira. Como mentira se revelou o cruzamento de uma certa "linha vermelha" pelo regime de Assad - as "provas" voltaram a ser insofismáveis - da utilização de gás sarin por parte do regime sírio. Novamente, cui bono?

É preciso parar de brincar com o fogo, actividade a que o transversal Partido da Guerra se dedica com afinco desmedido. E volta a ser da denúncia do Partido da Guerra, cuja sede principal se situa nos EUA, que trata este novo artigo de Pat Buchanan que pensei ser interessante partilhar com os leitores. A tradução é da minha responsabilidade bem como a adição de fotos, links e notas.
25 de Julho de 2014
Por Patrick J. Buchanan
Será Putin pior que Estaline?

Patrick J. Buchanan
Em 1933, o Holodomor decorria na Ucrânia.

Após os "kulaks", os agricultores independentes, terem sido liquidados na colectivização forçada da agricultura soviética, foi imposta à Ucrânia uma fome genocida através do confisco da sua produção de alimentos.

As estimativas dos mortos situam-se entre dois a nove milhões de almas.

Walter Duranty, do New York Times, que apelidou os relatos da fome de "propaganda maligna", ganhou um Pulitzer pela sua mendacidade.

Em Novembro de 1933, durante o Holodomor, o maior liberal [1] de sempre, FDR [o presidente Franklin Delano Roosevelt (1933-1945) - NT], convidou o ministro dos Negócios Estrangeiros Maxim Litvinov para receber o reconhecimento oficial dos EUA do regime assassino do seu senhor Estaline [2].

O genocida José Estaline
No dia 1 de Agosto de 1991, apenas quatro meses antes da própria Ucrânia ter declarado a sua independência, George H. W. Bush advertiu o poder legislativo em Kiev:
"Os americanos não apoiarão aqueles que buscam a independência com o propósito de substituir uma tirania distante por um despotismo local. Eles não irão ajudar aqueles que promovem um nacionalismo suicida baseado num ódio étnico."
Em suma, a independência da Ucrânia nunca fez parte da agenda da América. De 1933 a 1991, nunca constituiu um interesse vital dos EUA. Bush I opunha-se a essa independência.

sábado, 26 de julho de 2014

E se a democracia for uma fraude?

O título do post, que roubei de um artigo do juiz Andrew Napolitano recentemente publicado no Washington Times, dispensa uma apresentação elaborada. Trata-se de um convite à reflexão relativamente ao "endeusamento democrático" em que vivemos, ainda que ilustrado com a realidade e história americanas. A tradução que se segue desse artigo, da minha responsabilidade, é um substituto possível para aqueles que, como vivamente se aconselha, não o puderem ler no original.
23 de Julho de 2014
Por Andrew P. Napolitano
E se a democracia for uma fraude?

E se se desse o caso de ser permitido votar apenas porque isso não faz diferença? E se, independentemente de como se votar, as elites conseguirem sempre os seus intentos? E se o conceito de "uma pessoa, um voto" fosse apenas uma ficção criada pelo estado para induzir a complacência?
Andrew P. Napolitano

E se a democracia, sob a forma que veio a adquirir hoje na América, for perigosa para a liberdade pessoal? E se se der o caso de a nossa alegada democracia corroer o entendimento por parte do povo dos direitos naturais e das razões de ser da existência do governo e, em vez disso, transformar as campanhas políticas em concursos de beleza? E se a democracia americana permitir ao governo fazer o que bem entender, enquanto houver mais pessoas a preocupar-se em aparecer na cabina de voto para apoiar o governo do que a surgir a dizer não?

E se o propósito da democracia contemporânea for o de convencer as pessoas de que poderiam prosperar não por via da criação voluntária de riqueza mas do roubo de outros? E se a única forma moral de adquirir riqueza for através da actividade económica voluntária? E se o estado tiver persuadido as pessoas que poderiam adquirir riqueza através da actividade política? E se a actividade económica incluir todas as coisas que são produtivas e pacíficas que fazemos de forma voluntária? E se a actividade política incluir todas as coisas parasitas e destrutivas que o estado faz? E se o estado nunca tiver criado riqueza? E se tudo o que o que o estado detém tiver sido roubado?

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Cavalos Furtivos

Moldar percepções e expectativas

Gaston Phoebus, "Livre de Chasse" (1387)


O artigo que a seguir se publica foi traduzido e editado por mim a partir do original (mais longo e rico), cuja leitura se recomenda vivamente.
O Cavalo Furtivo”, Ben Hunt - 21 de Julho de 2014

Na guerra, a verdade é a primeira vítima” – Ésquilo

O cavalo furtivo é uma técnica de caça muito antiga onde o caçador consegue uma vantagem importante ao esconder-se atrás de um cavalo (ou da sua representação), levando a presa a considerar familiar ou natural o que está a ver. E a presa não sabe quantos pés tem o cavalo.
Os mercados de hoje estão atafulhados com cavalos furtivos, não para proceder a triviais aquisições hostis, mas para estabelecer objectivos macroeconómicos que são motivados politicamente. Seja o uso das palavras para criar representações furtivas ou o investimento num determinado activo para montar o mesmo cavalo furtivo, os governos são, hoje em dia, muito mais manipuladores do que em qualquer outra altura desde os anos 30. Muito pouco é o que parece nos mercados de hoje.
E sim, nós somos as presas. Somos nós os veados.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Bolhas e oportunidades

A verdade de muitas mentiras

A entrevista que a seguir se propõe é-me muito querida. Em primeiro lugar, pela sabedoria que dela se pode tirar. Há uma naturalidade, uma disponibilidade em traduzir, de modo simples e elegante, os desafios e obstáculos que enfrentamos na economia global, poluída por governos, bancos centrais e demais interesses especiais a eles associados.
Em segundo lugar, pela coragem (terá alcance moral) de defender, não só aquilo em que se acredita, mas aquilo que é racionalmente justificado, numa adequação entre princípios, meios e fins. Assistir a este exercício de desmontagem dos mitos e da dissimulação que povoam o discurso político (económico e financeiro, igualmente) com tamanha elegância e humor é invulgar. Exemplos? Que tal a frase: "Macroeconomia é política mascarada de álgebra". Ou ainda: "Ser bom investidor é ter toda a gente a concordar comigo. No futuro".
O entrevistado é Jim Grant que, para além da inteligência e do laço que exibe, se faz também acompanhar de uma pequena porção de "trabalho condensado".
A entrevista contempla vários temas, dos quais se destacam:

Ao cuidado do novo Presidente da Comissão Europeia

quarta-feira, 16 de julho de 2014

17 anos e 10 meses depois, continua a narrativa marialva do CO2

Facto: as temperaturas registadas na baixa troposfera, medidas por recurso a satélite (série RSS), registam uma tendência ZERO no aumento da temperatura nos últimos 17 anos e 10 meses.

Retirado daqui
É à teimosa persistência desta realidade inconveniente que se deve o abandono do já quase esquecido "aquecimento global" que seria maioritariamente imputável à acção humana pela utilização da energia de origem fóssil (pelo aumento das concentrações de dióxido de carbono na atmosfera). Daí que houvesse que recauchutá-lo em alterações climáticas de que os "fenómenos extremos" - de furacões a calmarias, secas a inundações, desassoreamentos a assoreamentos, desertificação ou verdificação, calor ou frio, gelo ou degelo, enfim, o que quer que seja, constituiriam manifestações - seriam já tão evidentes que impunham a tomada de medidas "imediatas e severas" para evitar a anunciada catástrofe global.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Para lá do horizonte




Outras vias

Terá início esta semana mais uma reunião do grupo de países apelidado de BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Um dos tópicos desta reunião será a criação de um banco que possa servir, especificamente, as necessidades destes países. A discussão acerca deste assunto já tem algum tempo, mas tornou-se uma necessidade premente uma vez que não foram implementadas as reformas necessárias no seio das estruturas existentes (FMI, Banco Mundial - que estão pendentes desde 2010) para acomodar a nova realidade económica e financeira mundial.
Demoremos algum tempo a considerar este facto. Os BRICS estão a querer tomar a iniciativa de criar uma infra-estrutura que se torne alternativa ao FMI e BM na defesa dos seus interesses.
A discussão, para além da composição relativa aos fundos e à participação de cada um dos países, já se centra na localização da sua sede. E aqui vão testar-se as vontades conciliatórias no contexto de tensões históricas.
Parece óbvio que estes países já reconheceram os limites da arquitectura e das práticas financeiras do Ocidente, em particular o propósito dessa arquitectura na projecção do interesse americano através do dólar.
Não vejo estas outras vias como negativas. Antes mostram que é possível diversificar as estruturas de poder económico e financeiro para corresponderem às necessidades de cada um dos seus agentes. Não será, seguramente, uma simples coincidência que estes impulsos transformadores se tornem evidentes ao mesmo tempo que o edifício do todo poderoso dólar mostra as suas deficiências estruturais.
Ou acreditamos que coincidências possam marcar os actos desta peça?

No interesse da pura especulação, pergunto-me: o que farão a Indonésia, o México, as Filipinas, a Turquia, a Coreia do Sul e o Vietname, depois de ser criada a nova rede financeira estruturante dos BRICS?

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Acção na periferia da periferia

No início de uma semana importante - e seguramente intensa nos bastidores - traduz-se o último artigo de Doug Noland. Nele se articulam alguns dos mais recentes episódios em Portugal relativamente ao sistema bancário e potenciais relações com problemas de carácter mais sistémico, de âmbito nacional ou europeu. Naquilo que parece ser uma revisitação da Grande Crise Financeira de 2007 (para usar a terminologia do BIS). A tradução e a edição do artigo que aqui se apresenta deve ser vista como um convite à leitura integral do mesmo (assim como o artigo de Ben Stein).
Parece tornar-se claro que, a manter-se a actual conjuntura, bastarão incidentes (aparentemente) mais pequenos e insignificantes para a deflagração de uma nova Crise. Que faria, segundo muitos, a de 2007 parecer apenas uma pequena réplica que antecipa fenómenos tectónicos mais abrangentes e intensos.
Doug Noland, "2014 vs. 2007" - 11 de Julho de 2014

"Não pude deixar de relembrar o artigo de Ben Stein no Verão de 2007, enquanto os especialistas estiveram, na última semana, a desvalorizar o facto de Portugal poder ter algum impacto na gigantesca economia dos EUA e nos inflacionados mercados financeiros.(...) Na periferia, as coisas pareciam estar boas.

sábado, 12 de julho de 2014

(In)Tranquilidade


As nuvens já vêm de longe, mas estão a avolumar-se rapidamente. Por cá, para além das manobras de tranquilização (sedação) a que se prestam os meios de comunicação social convencional, nada mais do que a apresentação da composição accionista do grupo Espírito Santo parece interessar. Pergunto-me que utilidade isso terá para o cidadão comum.
Não sei se não será apenas uma forma de desviar as atenções, concentrando-as apenas no BES (ou GES), evitando assim que se analise o contexto em que o problema ocorre.

São satisfatórias as declarações do regulador? O que fez o Banco de Portugal para antecipar a tempestade que parece formar-se?
São satisfatórias as declarações dos responsáveis políticos?
Como está - na substância, na qualidade e não na aparência - o sector bancário nacional ou europeu?

Tomando as palavras de Maximilian Zimmerer (CIO Allianz) acerca da zona euro e do seu sistema bancário e financeiro, "os problemas fundamentais não estão resolvidos e toda a gente sabe disso".
Recentemente tornaram-se visíveis casos problemáticos na banca búlgara (neste caso há um banco que vai mesmo cair), austríaca e holandesa.

À luz destes acontecimentos, repito, são satisfatórias as escassas (e ambíguas) declarações do responsável do Banco de Portugal? Se não há, em sua opinião, razões para alarme e considera tudo ter feito para que não houvesse turbulência no sistema, a missão parece ter falhado. Certo?
É que até as "vozes de dentro" parecem assobiar algo de diferente.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

História - a nossa e a deles

Não sabia que o caso ainda agitava águas por cá. E tenho de agradecer a Jay Taylor a referência. Talvez mais uma evidência de que a história de ambos, EUA e Portugal, esteja mais próxima do que parece.
Resta-me desejar que a investigação do Frederico Carvalho prossiga e alcance bom porto.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Citação do dia (168)

"A ameaça externa à estabilidade política chinesa vem do propósito explícito das recentes políticas monetárias: disfarçar o crescimento real anémico através da inflação dos activos financeiros. É uma solução brilhante para o problema político do baixo crescimento aqui no Ocidente, porque a nossa estabilidade política não depende de um crescimento económico robusto. Enquanto pudermos evitar um claro crescimento negativo (e isso até se aceita enquanto puder ser explicado pela metereologia) e pudermos inflacionar os preços dos activos financeiros que suportam o nosso desequilibrado sistema, talvez possamos crescer alguma coisa ou pagar a dívida pela via da inflação. Ou não.
A dívida pode estacionar por aí... essencialmente para sempre... desde que não haja um choque exógeno. Um sistema financeiro moribundo, onde o crédito é tratado como um bem que o governo deve assegurar, é um desfecho aceitável no Ocidente porque as nossas eleições e poderes políticos não estão comprometidos com um forte crescimento económico. Estes poderes centram-se em questões sociais e noções de identidade. Focam-se na preservação da riqueza, dos benefícios e dos direitos. São tudo coisas importantes no contexto político do Ocidente.
Para a China? Nem por isso."

O tipo que aceita” – Ben Hunt

terça-feira, 8 de julho de 2014

Inevitabilidades

Já por aqui nos tínhamos questionado acerca do que apenas alguns parecem saber. Hoje, graças a Carlos Guimarães Pinto (O Insurgente), ficamos a saber que há mais quem saiba o que se passa. Pelos vistos, não sabe é o que fazer perante os problemas. Mas, não tenhamos dúvidas, levará adiante o delírio. Apresentado com um discurso carregado de palavras como: "justiça", "solidariedade", "igualdade" ou "futuro promissor". Que serão os pilares da oposição à "especulação", ao "capitalismo selvagem", às "diferenças" ou ao "roubo".
Em Espanha, para além da busca, já implementam soluções para os mesmos problemas. Diferentes, mas igualmente preocupantes.
Serão inevitáveis estes delírios?

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Todo um novo compasso

Renovar o esforço da orientação económica ou a necessidade de novos princípios

O Bank of International Setlements (BIS), conhecido como o banco central dos bancos centrais, publicou o seu relatório anual (cf. ligação abaixo) no final do mês passado. Alguns dos reflexos desse relatório podem ser lidos aqui e aqui e, em ambos os casos, sublinham-se os riscos que subjazem ao verniz da verdade oficializada. O BIS não é uma entidade qualquer. É uma peça-chave da arquitectura institucional financeira, monetária e política mundial e os seus avisos são um apropriado antídoto face à intenção sedante do discurso público acerca da situação da economia, mundial ou portuguesa.
Do primeiro capítulo traduziram-se e editaram-se as passagens que a seguir se apresentam, pela clareza e distinção com que apresentam a situação que temos, incontornavelmente, pela frente.
BIS ,"In search of a new compass", 29 de Junho de 2014

"A economia global mostrou sinais encorajadores no último ano, mas o desconforto persiste. O legado da Grande Crise Financeira (em maiúsculas no original – nt) e as forças que a criaram permanecem por resolver. (...) Restaurar o crescimento sustentável vai requerer políticas específicas em todas as maiores economias, tenham ou não sido atingidas pela crise. Os países que foram mais afectados precisam de completar o processo de reparar os seus balanços e implementar reformas estruturais.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

A Grande Guerra 1914-1918 – A actualidade das suas consequências

No ano do seu centenário, temos vindo a apresentar aos leitores do Espectador Interessado, um conjunto de perspectivas de índole revisionista sobre a importância determinante da I Guerra Mundial não tanto visando o relato dos inomináveis horrores que nela ocorreram mas, e sobretudo, das suas consequências que perduram até hoje como do verdadeiro "ponto de viragem" que ela constituiu ainda que pelas piores razões. Até à data, dedicámos-lhe os seguintes posts:


Retomo agora o tema com a publicação de um artigo recente do colunista Doug Bandow (Forbes) que proporciona uma narrativa incomum também entre nós. Por exemplo, lê a génese de conflitos da actualidade (no Iraque, na Síria e na Ucrânia) à luz das circunstâncias e dos termos em que a Grande Guerra viria a terminar. Não pelos tons proclamatórios mais ou menos inflamados, mas pelos interesses das potências vencedoras e das suas conquistas e esferas de influência territorial que a novel Liga das Nações consagraria. Os diferentes protagonistas são sujeitos a um escrutínio severo, concluindo o autor pela partilha de responsabilidades na eclosão do conflito e pela dessacralização de figuras públicas que a ortodoxia historiográfica dos vencedores pretendeu (e continua a pretender) fixar. A tradução do texto é da minha responsabilidade, bem como dos links como das fotos inseridas. Como sempre, os comentários serão bem-vindos.
30 de Junho de 2014
Por Doug Bandow

Do Iraque À Ucrânia, Da Síria À Jugoslávia: Os Terroristas Que Destruíram O Mundo Moderno Há Um Século Atrás Estão Hoje A Criar Mais Guerras


O conflito no Iraque, tal como a guerra civil na Síria, começou há um século. Em bom rigor, há cem anos atrás feitos no sábado que passou. Juntamente com o desmembramento da Ucrânia por parte da Rússia; o colapso sangrento da Jugoslávia; a terrível experiência soviética; e a luta persistente entre israelitas e palestinianos.

Todos estes conflitos, e muitos mais, nasceram da I Guerra Mundial.

Doug Bandow
Na viragem para o século XX, os europeus tinham a expectativa de viver na boa vida a que chamaram belle époque. Os países estavam a industrializar-se, as economias a expandir-se, o comércio crescia, os impérios davam sinais de abertura.

Depois, o terrorista sérvio Gavrilo Princip disparou dois tiros e acendeu o rastilho para uma conflagração mundial que deixaria um rasto de morte, de destruição, de pobreza, de miséria e tirania. Continuamos a pagar o preço pelo que foi, talvez, o acto mais eficaz de terrorismo de estado na história da humanidade. Porém, no centésimo aniversário deste horrível momento, os sérvios bósnios erigiram estátuas, descerraram placas, e organizaram banquetes em homenagem ao homem que destruiu grande parte do mundo moderno.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Energia - um prémio histórico

Nos meios de comunicação convencionais, os conflitos de que vamos tendo conhecimento são compreendidos, grosso modo, através do sublinhado dos aspectos culturais ou religiosos (ou ambos) neles presentes. No entanto, importa ter presente que as sublevações e conflitos da Ucrânia ao Iraque e à Síria, passando pelo Egipto e a Líbia, não podem ser completamente compreendidos sem ter em conta as suas raízes na tentativa de garantir acesso à energia, garantindo a sua produção, valorização e transporte. Julgo que ganharíamos muito na análise do tempo presente incluindo as variáveis correctas, neste caso a energia, especialmente, o petróleo (mesmo se outras fontes, presentemente, são variáveis relevantes do GNL ao atómico). Com realismo e enquadramento histórico estabelecido.
A série produzida pela PBS que aqui se recomenda conta com a presença de muitos dos grandes agentes que escreveram a história e a diplomacia energética do século XX e estão, também, a escrever a de hoje. São oito os episódios desta série que se baseia no livro de Daniel Yergin "The Prize". Seleccionaram-se os episódios três e cinco, mas toda a série é muito rica em informação acerca da história mundial do petróleo e da energia. Bem como das consequências - igualmente mundiais - da diplomacia levada a cabo em seu nome.
Do conhecimento da história pessoal de Gulbenkian, de Teagle, das suas diligências no mundo do petróleo, da criação de uma "ponte aérea" (Aramco) para o transporte de ouro em pagamento do petróleo exportado da Arábia Saudita, o papel da URSS, os irmãos Nobel.