quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Radar

Alan Greenspan, em entrevista no WSJ: "Nunca experimentámos nada de semelhante a isto [a política monetária da Fed desde Bernanke e Yellen], pelo que não vou agora, sentado aqui, dizer qual irá ser o resultado" e, mais à frente, "[p]enso que a pressão efectiva irá ocorrer não por iniciativa da Reserva Federal mas pelos próprios mercados". Pelo meio vai aconselhando o ouro como um bom veículo de investimento nos tempos que correm. Sinais...

Do arrependimento


quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Citação do dia (176)

Israel M. Kirzner
«Essa foi a ocasião ... do meu primeiro encontro com Ludwig von Mises, e está profundamente gravada na minha memória ... A substância da sua frase inicial de abertura da sessão naquela noite [foi a seguinte]: "O mercado", começou Mises, é um processo". Vindo eu de uma licenciatura em Economia muito deficiente (e no essencial de recorte keynesiano) a afirmação de Mises, recordo-me, deixou-me completamente perplexo. Eu havia pensado o mercado enquanto um lugar, uma arena para concretizar trocas, uma ideia abstracta atinente às transacções relativas às trocas voluntárias. Eu não consegui perceber qual poderia ser o significado da observação de que o mercado era um processo". Hoje, em retrospectiva, considero que toda a minha formação posterior e investigação na teoria económica, tanto antes como depois de obter o meu doutoramento sob a orientação de Mises, consistiu em aprender a apreciar o que Mises quis dizer com aquela afirmação.»
Israel Kirzner
Via Richard Eberling (minha tradução)

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Os tremendos custos não visíveis da regulação estatal

Ontem, referia-me aqui às consequências directas e mensuráveis - e por isso percepcionáveis - de recentes "medidas" governamentais. Foi o "perigo" dessa percepção que explica que o ministro "artesão", "batalhador" e "persistente" sentisse a necessidade de rapidamente vir a terreiro para tentar baralhar os incautos ao afirmar "[não haver] razões para assustar as pessoas com aumentos que não estão previstos, a partir da fiscalidade verde".

Sucede que, as mais das vezes, as "medidas" governamentais produzem impactos que não são nem imediatamente visíveis, nem facilmente mensuráveis e, por conseguinte, com efeitos dificilmente percepcionados pelo comum das pessoas. É este o caso de TODA a actividade regulatória estatal, provenha ela da administração pública ou de "autoridades" supostamente independentes, altruístas e omniscientes. Entre nós, a secular arrogância do estado centralista e a ausência de uma pressão da opinião pública efectiva vai permitindo que aquele não sinta necessidade de quantificar e divulgar publicamente os impactos financeiros das "medidas" que vai coleccionando a uma velocidade cada vez mais vertiginosa. Noutras longitudes não é assim, ilustrando a imagem abaixo a enorme relevância dos custos da regulação estatal (no caso, referentes à actividade industrial nos EUA em 2012). Entretanto, por cá há quem recorra - julgo que com sucesso - ao colorido do vernáculo para tentar tornar visível aquilo que se esconde propositadamente do escrutínio público.



Actualização: ver aqui.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Uma mentira sustentada mas insustentável

Clicar para ampliar
Consumada a "reforma da fiscalidade verde", já se conhecem quais serão os seus impactos: mais 350 milhões de euros de impostos e regulamentações várias que irão onerar o custo da gasolina e do gasóleo em +6,5 e +5,1 cêntimos por litro, respectivamente. Enquanto ajuda à competitividade das empresas, não está nada mal, não senhor! De resto, Jorge de Vasconcelos, o mesmo que se demitiu de presidente da ERSE quando não obteve do governo de então o acréscimo nas tarifas eléctricas que defendia ser devido pelos consumidores, agora na pele de presidente da Comissão que reviu a "fiscalidade verde" acha que a coisa, na parcela "Fundo de Carbono", "é quase imperceptível" face às oscilações dos preços do petróleo nos mercados internacionais. Moreira da Silva - o "ministro do CO2" na feliz expressão de Mira Amaral - o verdadeiro mentor de tudo isto, nunca escondeu aliás ao que vinha e qual era o objectivo que tinha em mente: "alterar comportamentos" de modo a "conferir padrões de consumo e produção "mais sustentáveis". No fundo, no fundo - como à superfície... - apenas uma variante na busca de um "homem novo" que erige como valor absoluto o "respeito" pela Mãe Natureza e o combate ao aquecimento global às "alterações climáticas".

O estimável Público rejubila, como de resto a generalidade dos nossos media convencionais, tanto mais que o estadista "artesão" acaba de arrancar uma "vitória" em Bruxelas (cf. imagem de notícia do jornal de ontem) que resultou da sua indomável persistência: uma intenção declarada, não vinculativa, de aumentar as interligações da rede eléctrica pan-europeia (com a qual o estadista sonha para "escoar" o excesso de produção eólica de que padecemos e cujos efeitos - défice tarifário combinado com contínuos aumentos nas tarifas de electricidade-, ao contrário do propagandeado, continuam a aumentar).

Portanto, caros leitores, é fácil prever o que ocorrerá no próximo mês de Janeiro: 1) caso os preços do petróleo se mantenham nos níveis actuais por mais uns meses, os preços dos combustíveis irão, grosso modo, regressar aos valores que se observavam antes da recente e acentuada descida da cotação do crude ou, 2) logo que o preço do crude recupere para os nos patamares anteriores, podemos antever as manchetes da nossa imprensa: "os preços da gasolina e do gasóleo atingem valore recorde entre nós!". A culpa, está bem de ver, será do mercado e dos tenebrosos especuladores.

Adenda 1: o descaramento não tem mesmo limites.

Adenda 2: é verdade que cerca de 1/3 do aumento projectado nos combustíveis decorre de novo acréscimo na designada "Contribuição Rodoviária" cuja receita é consignada à Estradas de Portugal. Mas não o é menos, na "filosofia" do ministro do CO2, que seja um imposto "verde" já que naturalmente desencoraja a utilização de veículos nas estradas ao torná-la mais dispendiosa.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Citação do dia (175)

"Os novos valores que vão surgindo parecem justificar o abandono dos antigos valores e regras. A confiança em si mesmo, o auto-controlo e a independência, por exemplo, são substituídos pela equidade, segurança e cuidados de saúde universais. No entanto, são fáceis de identificar as clivagens entre os velhos valores e os novos.
Os novos valores reflectem uma profunda mudança nas atitudes. De assumir riscos a passar evitá-los de todo. Da produção de riqueza à preocupação exclusiva na sua preservação. Da ausência de interferências do estado (laissez-faire) ao controlo centralizado por parte do estado.
Mas estas diferenças são também expressas num conjunto diferenciado de direitos. Os antigos eram direitos a que cada um pudesse fazer algo por si mesmo. Os últimos são direitos a forçar alguém a fazer algo para mim. Os primeiros exigiam cooperação, estes últimos exigem apenas o medo e, de seguida, a violência."

Bill Bonner, "O refluxo da modernidade" - 22 de Outubro de 2014

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Economistas que nos envergonham embaraçam

A lei da procura é a mais fundamental das leis de todo o corpo da teoria económica: se tudo o resto se mantiver constante (a necessária condição ceteris paribus), um aumento que se verifique no preço de um bem ou serviço terá como consequência uma diminuição da sua quantidade procurada pelas pessoas. Recordo-me, ainda de joelhos esfolados, ouvir o meu avô materno, pequeno agricultor de sequeiro e desconhecedor do alfabeto, referir-se-lhe frequentemente, saber de experiência feito. Mas há quem teime, entre os que ominosamente se reclamam de economistas, que há um caso específico em que esta lei não se observa e, por conseguinte, a invalida, tese que o governo, pela voz do ministro Mota Soares, subscreve (apesar da troika). Walter Williams, no artigo que hoje seleccionei (minha tradução), volta a explicar por que razão essa alegada excepção é um rematado disparate gerador de desemprego entre os menos qualificados. Uma pergunta: já repararam no recente "mobiliário" com que muitas lojas da McDonald's foram recentemente dotadas? (Via LRC)
Por Walter Williams
20 de Outubro de 2014

Economistas que nos embaraçam
(Embarrassing Economists)

Com o objectivo de transmitir uma certa perspectiva, vou pedir ao leitor que faça algumas conjecturas quanto ao comportamento humano antes de explicar o meu embaraço perante alguns dos meus colegas economistas.

Walter E. Williams
Suponha o leitor que os preços das jóias de senhoras aumentaram 100%. O que preveria que iria acontecer às vendas? E se o aumento de preços fosse de 25% ou 50%? A minha suposição é que uma pessoa comum iria prever que as vendas cairiam.

Emitiria a mesma previsão acerca das vendas de automóveis se os seus preços aumentassem 100% ou 25% ou 50%? Suponha o leitor que é o presidente executivo da General Motors e o seu director de vendas lhe diz que a empresa poderia aumentar as vendas de automóveis através do anúncio de um aumento de preços de 100% ou 50%. Eu imagino que despediria o director de vendas invocando quer insanidade como incompetência.

Tentemos mais um exemplo. Qual seria a sua previsão, caro leitor, quanto às vendas de habitações se os seus preços subissem 50%? Supondo que iria prever uma queda nas vendas. Nesta altura, dirá: "Ok, Williams, já me está fazer perder a paciência com essas questões óbvias. Onde é que pretende chegar?"

terça-feira, 21 de outubro de 2014

O lado mau

Bytes

A leitura deste último artigo de Doug Noland, de que aqui se publicam algumas passagens, é muito recomendada. Pleno de realismo não deixa, porém, de causar inquietação. Isto porque ao discurso e à discussão pública falta considerar as consequências do que já se fez e se continua a fazer - política e economicamente. E esse raciocinar pela metade está a ter sucesso. O entorpecimento é generalizado. Mas, não tenhamos dúvidas, as "soluções mágicas" estão traçadas e serão apresentadas num brilhante (e trágico) encadeamento. O guião está escrito, aguarda apenas o momento da sua encenação.
O lado mau de “fazer tudo o que for preciso” - Doug Noland - 17 de Outubro de 2014

"Alguém que não esteja realmente preocupado não percebe o que se está a passar.

Considero todo o cenário surreal. E, quanto mais as pessoas agem como se nada se passasse, mais preocupado fico. Por estranho que pareça, estes dias lembram-me a minha perplexidade quando estudava o período que conduziu à crise bolsista de 1929. Como é que foi possível não ver o que estava para vir? Como pôde toda a gente permanecer optimista – “num topo contínuo” – face àquilo que, posteriormente, era tão óbvio e perturbador: uma deterioração do mercado e das perspectivas da economia global.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Notícias do governo mais liberal de sempre

Não sei se arranjarei paciência para ir ler a proposta de orçamento de estado para 2015, mas é indubitável o que já "ganhámos" (notem o uso da 1ª pessoa do plural): Carga fiscal atingirá novo máximo histórico (37% do PIB em 2015). Conseguirá fazer melhor um governo nominal e assumidamente socialista? Sim, com certeza que sim. Podeis ficar descansados.

Foi também ontem conhecida a proposta da ERSE de evolução das tarifas de electricidade para 2015. No Jornal de Negócios a notícia surge: Tarifas de electricidade deverão subir 3,3% em Janeiro. Deo gratias! Só 3,3%! Reparem que poderia ser muito pior! Até porque "temos" que lutar contra a deflação que ameaça abater-se sobre as nossas cabeças. Como aliás acontece com o stock de défice tarifário: na senda do conseguimento prospectivo, ele só aumenta cerca de 400 milhões de euros, perspectivando-se que consiga alcançar a elegante soma de 5080 milhões de euros. Deo gratias!

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Em defesa do euro (na ausência do padrão-ouro)

No artigo que hoje proponho aos leitores, Gary North expõe o seu ponto de vista sobre a zona euro num mundo dominado pela moeda fiat. Num raciocínio próximo do de Jesús Huerta de Soto, na ausência do padrão-ouro internacional integral (isto é, o padrão moeda-ouro), é o euro, ou seja, o BCE, que constitui a única barreira, ainda que débil, ao desregramento orçamental dos estados membros. Nessa medida - e só nessa medida - o arranjo monetário da zona euro (um proxy do padrão-ouro como também lhe chamou JHS) é algo de bom e correcto, diz-nos North. Os que há 15 anos assinalam a "inconsistência" entre um planeamento central monetário supra-nacional e a diversidade fiscal dos diferentes estados da zona euro, e continuam clamando pela necessidade de aliar à união monetária (o euro) uma união fiscal (um orçamento supra-nacional), são os estrénuos defensores do centralismo e, por conseguinte, ferozes opositores à ideia da descentralização. Quem são estas pessoas? Os keynesianos, claro está. A doença é essa. Não há nenhuma inconsistência entre haver num dado espaço político-geográfico uma moeda única e diferentes políticas fiscais como frequentemente por aí se ouve (olhe-se para os Estados Unidos por exemplo). A tradução, como habitualmente, é da minha responsabilidade.
Gary North
11 de Outubro de 2014

O que está CORRECTO no Euro
(What's RIGHT With the Euro)

Eu penso como um economista. O economista pensa sempre em termos de alternativas. A mentalidade do economista foi expressa com clareza pelo falecido comediante, Henny Youngman. "Como está a sua mulher?" "Comparada com o quê?"

Gary North
Uma das acusações mais comuns contra o euro é a seguinte: "A zona euro é composta por uma moeda centralizada, mas por políticas fiscais nacionais descentralizadas." Eu nunca vi nenhum dos críticos que invocam este argumento propor a abolição do euro e do Banco Central Europeu. Este argumento é sempre invocado para defender a ideia de união fiscal. Por outras palavras, não há nenhum esforço para descentralizar as moedas na zona euro. Mas há uma forte pressão, ainda que até agora ineficaz, para unificar as políticas fiscais da eurozona.

Pense o leitor nas implicações disto. Consegue ver o que há de errado neste argumento?

terça-feira, 14 de outubro de 2014

De Pol Pot ao ISIS: "Tudo o que voe, contra tudo o que se mova"

Recordo-me com razoável nitidez dos tempos em que a RTP, anos a fio, "informava" diligentemente os seus telespectadores das sucessivas "vitórias" dos "exércitos" do Vietname do Sul e do Cambodja de Lon Nol e das impressionantes baixas consistentemente infligidas aos vietcongs. Com o desaparecimento da Indochina francesa - Vietname, Cambodja e Laos -, os EUA tentaram instalar em seu lugar uma pax americana. O resultado é conhecido e dele ressalta, pela dimensão do horror indizível, o regime genocida de Pol Pot (que, por uma das ironias da História, só viria a ser derrubado pelo Vietname comunista).

Hoje já não vejo televisão. Também talvez por isso creio ajustados os paralelos que o veterano jornalista John Pilge estabelece entre a "criação" de Pol Pot e a do que hoje conhecemos por Estado Islâmico, ISIS/ISIL, e do "exército" iraquiano sem concluir pela paternidade comum. As acções têm consequências e muitas das vezes - as mais das vezes? - produzem efeitos inesperados, indesejáveis e até mesmo contraproducentes para com os objectivos de quem as iniciou. No texto que procurei traduzir (onde inseri imagens e links da minha responsabilidade) são invocados vários testemunhos a que é impossível ficar indiferente. Como esquecer estas palavras de Madeleine Albright ao programa 60 Minutos quando tacitamente aceita atribuir ao bloqueio iraquiano a causa da morte de meio milhão de crianças e ter a temeridade de afirmar que "foi um custo que valeu a pena incorrer"? Como ignorar estas declarações de Roland Dumas (antigo ministro francês dos Negócios Estrangeiros sob François Mitterand), proferidas no ano passado na TV francesa, para entender a guerra terrível que dura há 3 anos e meio na Síria? Ou não merece isto, literalmente visível da janela da Turquia, a urgente retirada de conclusões?
Por John Pilge
8 de Outubro de 2014

De Pol Pot ao ISIS: "Tudo o que voe, contra tudo o que se mova"
(From Pol Pot to ISIS: “Anything that flies on everything that moves”)

Quando transmitiu as ordens do presidente Richard Nixon para o bombardeamento "maciço" do Cambodja em 1969, Henry Kissinger disse: "Tudo o que voe, contra tudo o que se mova".

Agora que Barack Obama desencadeou a sua sétima guerra contra o mundo muçulmano desde que foi agraciado com o Prémio Nobel da Paz, a histeria orquestrada e as mentiras quase nos fazem sentir uma nostalgia da honestidade assassina de Kissinger.

Enquanto testemunha das consequências humanas da selvajaria aérea - incluindo a decapitação das vítimas, cujos pedaços ornamentavam as árvores e os campos - não estou surpreendido pela desconsideração, uma vez mais, pela memória e pela história. Um exemplo revelador é o da ascensão ao poder de Pol Pot e dos seus Khmers Vermelhos, que tinham muito em comum com Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS) dos dias de hoje. Também eles foram implacáveis ​​medievalistas que começaram por ser uma pequena seita. Também eles foram o produto de um apocalipse de fabrico americano, no caso na Ásia.

Foto do The Guardian
De acordo com Pol Pot, o seu movimento consistia em "menos de 5.000 guerrilheiros mal armados, incertos quanto à estratégia, táctica, lealdade e líderes a seguir". Iniciados os bombardeamentos pelos B-52 de Nixon e Kissinger como parte integrante da "Operação Menu", o demónio supremo do Ocidente mal podia acreditar na sua sorte.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Valor

O teste do tempo


As últimas semanas foram ricas em acontecimentos relevantes do ponto de vista financeiro. Muito relevantes, acrescentaria. Por esse mundo fora, registou-se um aumento na volatilidade dos índices bolsistas - com tendência claramente negativa, mas pouco pronunciada. Ainda.

sábado, 11 de outubro de 2014

Por que é importante a privacidade

Glenn Greenwald estilhaça a usurpação do dito "quem não tem nada a esconder, não teme" para tentar justificar a tolerância, complacência e submissão perante o Estado de Vigilância e, em consequência, a aceitar o fim da privacidade de cada um de nós, o mesmo é dizer, da Liberdade. De caminho não poupa, como Julian Assange, estrelas do firmamento cibernético como Eric Schmidt (ex-CEO e actual Chairman da Google) ou Mark Zuckerberg (CEO da Facebook) de facto coniventes com a ilegal e maciça recolha cega de dados sem que para tal exista mandado judicial ou, sequer, "causa provável".


Um excelente fim-de-semana!

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Citação do dia (174)

"As ideias políticas que dominaram a opinião pública ao longo de décadas não podem ser refutadas pela via da argumentação racional. Elas terão que seguir o seu curso na vida e o seu colapso só poderá sobrevir na ocorrência de grandes catástrofes..."

Ludwig von Mises (escrevendo em 1919)

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A generosidade de roubar a Pedro para dar a Paulo

O título que escolhi para o post talvez não permita uma associação directa às actividades (incluindo as "filantrópicas") de um certo Bernie Madoff. Mas tem. Porque são muitas as semelhanças entre as actividades redistributivas do estado social e o modus operandi daquele. É o que mostra o artigo, de Brandon Dutcher, que me propus traduzir (no qual introduzi alguns links).
7 de Outubro de 2014
Por Brandon Dutcher

O que o governo central e Bernie Madoff têm em comum
(What the Feds and Bernie Madoff Have in Common)

Bernard Madoff
Ao longo dos anos, o condenado Bernard Madoff, responsável pelo esquema ponzi que defraudou os seus investidores, doou "generosamente" milhões de dólares a instituições de beneficência - investigação do cancro, hospitais, teatros, escolas, etc. Pelo menos uma dessas organizações de caridade fez investimentos junto de Madoff, onde os fundos se evaporaram.

Mas Madoff não é o único que dá dinheiro às pessoas após ele lhes ter sido subtraído em primeiro lugar. Os dirigentes políticos de hoje angariam votos e aplausos dando presentinhos ao Zezinho, mas não se dão ao incómodo de dizer que a totalidade da conta vai direitinha para o cartão de crédito do Zezinho.

O ano escolar recomeçou, e "milhares de estudantes mais poderiam estar a usufruir do almoço escolar completamente grátis", noticia Jake Grovum na Stateline, "graças a um programa federal que se iniciou há quatro anos que finalmente se está a expandir a todos os 50 estados". (Finalmente!)

terça-feira, 7 de outubro de 2014

A vacuidade do "nós" político

No Jornal de Negócios (edição em papel) de 24 de Setembro último, o título de "A Cor do Dinheiro", a coluna diária de Camilo Lourenço (CL), rezava: "Estamos a repetir os erros do passado". Em destaque, alertava-se: "Portugal vai voltar a apostar no modelo errado de crescimento: o PIB será puxado pelo consumo (o investimento estagnou) e não pelas exportações."

O recurso à utilização da 1ª pessoa do plural nos temas políticos e económicos tornou-se tão comum, que, frequentemente, não damos conta do abuso que essa prática encerra. Mas que raio de "erro do passado" estou eu, Eduardo Freitas, a tornar a cometer? Quem é CL - por quem eu, aliás, até nutro alguma simpatia - para me estar a acusar implicitamente de querer voltar "a viver acima das minhas possibilidades"? Mas quem é que lhe disse que isso alguma vez me sucedeu (como a tantas outras pessoas)? E que dizer desta personificação da entidade Portugal que lhe confere uma vontade, uma (ir)racionalidade e um comandado devir porque o "Estado somos todos nós"? Implicitamente, e talvez mesmo contrariando a perspectiva do próprio CL, está a conferir ao Estado - e só a ele - a "chave" do sucesso ou insucesso económico de todo o país, sendo que as famílias e as empresas mais não são que meros agentes reactivos ora à largueza estatal (sob a forma de subsídios, ajudas, aumentos salariais e ads transferências sociais, etc.) ora à sua terrível "austeridade" (os "cortes"). O Estado oscila, pois, entre o Salvador e o Vilão, entre o "crescimento" e o "empobrecimento".

O artigo de Pierre Lemieux, de onde roubei o título do post, endereça algumas destas questões. Seguem-se alguns excertos (tradução e inserção de imagens da minha responsabilidade) que creio inteligíveis por não iniciados (embora todo o artigo seja, a meu ver, interessante):
We, Yevgeny Zamyatin
É quase impossível ler um jornal ou ouvir um discurso de um político sem tropeçar no padronizado "nós, enquanto sociedade" ou numa das suas variantes. "Sabem, nós vamos ter de fazer escolhas enquanto sociedade", disse o presidente Barack Obama referindo-se à vigilância da NSA. Até mesmo alguns economistas, que tinham a obrigação de estar mais atentos, caem nesta armadilha. Jonathan Gruber, um economista do MIT e um dos arquitectos do Obamacare, declarou: "Nós decidimos, enquanto sociedade, que não queremos que as pessoas tenham apólices de seguros de saúde que as exponham ao risco de incorrer em despesas de mais de seis mil dólares a pagar do seu próprio bolso."

O mesmo problema existe em expressões como "do ponto de vista da sociedade" ou "a sociedade como um todo" como ainda na personificação de países, como em "a América pensa ou faz, isso ou aquilo". Quando um vice-ministro afegão para os Assuntos Sociais disse que "[o] Afeganistão é um país islâmico e nós queremos que os nossos filhos sejam criados segundo os costumes islâmicos", ele estava a fazer o mesmo tipo de afirmação genérica, só que envolto numa bandeira diferente.

A verdade é que este "nós" colectivo não tem significado científico.

O "nós" colectivo pode fazer sentido quando respeita a um grupo contratual ("Nós na Ford produzimos excelentes automóveis") ou a um grupo constituído ou imaginado com o qual alguém se pretenda identificar. Mas para uma sociedade composta de diferentes indivíduos com diferentes preferências, onde é suposto que todos os indivíduos tenham igual importância, o "nós" colectivo não faz sentido. […]

Excepto, talvez, ao nível muito abstracto de um contrato social, expressões como "nós, enquanto sociedade" não têm significado determinável, a não ser para ilustrar "as pessoas que, como eu, impõem as suas preferências e escolhas aos outros". […]

Pierre Lemieux, 6-10-2014

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Radar

Incapazes de um mínimo de bom senso, os suspeitos do costume iniciam mais uma dose de entorse perceptivo. E vamos assistir ao mesmo por cá. De ambos os lados da barricada eleitoral. Acompanhados, como não podia deixar de ser, pelos expeditos e concordantes comentadores económicos. Reforçando a inevitabilidade de mais intervencionismo.
Só título (tradução minha): "Por que razão o investimento público é mesmo um almoço grátis", demonstra a desfaçatez destes donos da verdade económica.

Um presente pleno de recorrências

Podemos apenas sonhar

Arrisco dizer que, mesmo quando possuíamos o escudo, nenhum parlamentar português expressou, de modo frontal e oficial, a verdadeira natureza do sistema monetário em que vivemos.
A Suíça fará um referendo no dia 30 de Novembro do corrente ano - "Swiss Gold Initiative". Aquilo que os cidadãos suíços são convidados a considerar, a discutir e a decidir é se o seu banco central deve ou não adoptar a política que abandonou há uma década e meia, isto é, se o banco deve ou não ter 20% do seu balanço garantido por reservas de ouro. Ainda assim, esta "Iniciativa do Ouro" peca por defeito, pois os suíços possuíam reservas de ouro de 40% até aos anos noventa, momento em que o Banco Central Suíço se juntou aos restantes bancos centrais nas políticas de deterioração orientada do mercado do ouro e do papel deste como "aliado na defesa dos direitos de propriedade".
Este breve vídeo é a apresentação dessa iniciativa às instâncias políticas suíças.
Presentemente imersos num obscuro, estratificado e centralizado bloco económico, os portugueses podem apenas sonhar que um tal discurso ocorresse. Como sinal de sanidade e verdadeiro respeito, entre outros, pelos valores da Liberdade e da Propriedade.
Não obstante, que por aí vou dando conta de repetidas referências aos benefícios de um disciplinador monetário, lá isso vou.

domingo, 5 de outubro de 2014

Manifestações em Hong Kong: um caso isolado ou algo de muito mais importante?

Uma leitura interpretativa dos acontecimentos que têm vindo a ocorrer em Hong Kong por parte de Eric Margolis, um jornalista e escritor ferozmente independente e cuja solidez das suas análises se funda numa longa experiência adquirida in situ conjugada com um sólido conhecimento da história dos povos. São estas as razões da frequente presença por aqui sempre que se abordam temas entre o meridiano ocidental do Médio Oriente e o mais a oriente na China. A tradução é, como habitualmente, da minha responsabilidade.
3 de Outubro de 2014
Por Eric Margolis

Hong Kong Está a Ferver – Mas, até Ver, Suavemente
Hong Kong Boiling – But Gently, So Far

Hong Kong vive sob uma fervura suave. No momento em que escrevo, dezenas de milhares de estudantes continuam a manifestar-se de forma polida, exigindo que o chefe do governo nomeado por Pequim, CY Leung, se demita e seja substituído por recurso a eleições livres.

Eric Margolis
A política poucas vezes faz deflectir a obsessão maníaca de Hong Kong com os negócios e a finança, mas a onda de descontentamento da juventude representa para a China um dos seus maiores desafios de origem popular desde a revolta de Tiananmen em 1989 - que a China insiste nunca ter acontecido.

Até agora, o Partido Comunista da China e o seu novo chefe, o “falcão” Xi Jinping, têm-se contido sem recorrer a medidas de repressão dura para travar as manifestações pacíficas. Agora, todavia, os líderes dos protestos ameaçam apoderar-se de edifícios governamentais, a menos que Pequim desista dos planos para escolher o novo governo de Hong Kong em 2017. Este é um desafio directo à autoridade nacional de Pequim.

Considerando que o regime de Pequim é impiedoso no esmagamento dos protestos dos uigures muçulmanos na estratégica província de Xinjiang, a mais a ocidente da China, as exigências de Hong Kong no sentido de conseguir uma verdadeira autonomia e auto-governo surgem num momento particularmente difícil para o Partido Comunista, que está a festejar o seu 65 º aniversário da tomada de poder.

sábado, 4 de outubro de 2014

Transversalidade

O Mal e a natureza do arranjo

A presente entrevista mostra, com detalhe, franqueza e humor por que razões, não obstante mudem as caras e as vozes dos personagens que exercem o poder, a narrativa se vai concretizando. Sem sobressaltos no centro da peça. Por muitos tumultos e distracções pelos quais a periferia e respectivos personagens secundários vá passando, o guião é para seguir.

É muito salutar que haja quem desvele, com esta simplicidade, os meandros das relações entre negócios (neste caso a banca) e o poder político. Quem dê a cara mostrando os contornos, nomeando as pessoas e os actos, e que leve ao fim as consequências desse seu conhecimento. Enfrentando, para além das reacções dos crentes e amigos, os solavancos de uma máquina de Justiça que mais parece uma debulhadora que encrava a cada grande passo.
Mais do que a agitação jornalística, oportunisticamente sincronizada com episódios de ascensão e queda de personagens políticos, a medida da maturidade da sociedade que somos pode fazer-se pelo exercício de cidadania que o entrevistado, aqui, evidencia.

Alguns dirão que essa conduta é, na sua essência, a verdadeira forma de estabelecer os controlos e os balanços da máquina e do sistema institucional e político. Pergunto se, ainda assim, esses esforços são suficientes?

E se o Mal, porque transversal, faz parte do arranjo?

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Não, a América não é comunista. Só é 70% comunista

Há uns meses atrás cheguei a esboçar um post cujo título seria "A vitória do marxismo é praticamente total". A ideia era ilustrar a tremenda proximidade, quando não mesmo decalque, entre a realidade que hoje vivemos e aquela que Marx e Engels, em 1848, pretendiam então conseguir a curto prazo como um primeiro passo em direcção à construção do paraíso na Terra.

A minha intenção acabou por não se concretizar mas Simon Black escreveu agora algo de parecido (obviamente muito melhor do que eu o faria) com o que eu pretendi.  É provável que muitos tomem o título que roubei ao artigo de Black como denotando um exagero a roçar a tontice. É esse texto, escorreito, despretensioso e to the point, que me propus traduzir e ao qual acrescentei algumas imagens, notas e links, todos da minha inteira responsabilidade. Quem continuar a sorrir com prazenteira bonomia após ter concluído a leitura do texto, ou quem já desistiu nesta altura de o ler de todo, vá até aqui e reflicta sobre algumas das razões por que a grande máquina de produção de riqueza, de liberdade e  de felicidade que é o capitalismo praticamente deixou de funcionar nos países ocidentais. 
29 de Setembro de 2014
Por Simon Black

Não, a América não é comunista. Só é 70% comunista.
(No, America isn’t Communist. It’s only 70% Communist.)

"Os proletários não têm outra coisa a perder que não as suas correntes. Têm um mundo a ganhar. Proletários de todos os países, uni-vos!"

A maioria das pessoas recorda-se das ideias e frases mais enérgicas de Karl Marx, como da montanha de cadáveres que os seus discípulos deixaram para trás, especialmente no século XX.

No entanto, a maior parte esqueceu-se ou nem sequer conhece as políticas específicas que Marx advogava.

No seu Manifesto Comunista[1] de 1848, Marx elencou uma lista[2] de dez exigências de curto prazo. Estas - pensou - seriam precursoras do ideal do fim do estado, a sociedade comunista sem classes.

Ironicamente, as medidas de Marx assemelham-se muito aos pontos de vista convencionais no mundo de hoje. Isso é assim porque praticamente cada um dos itens dessa lista já foi posto em prática, em diferentes graus, nos Estados Unidos.

Crê o leitor que tal não poderia acontecer na Terra dos Livres? Ora atente no que se segue.

No topo da lista de Marx está a abolição da propriedade privada.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Regra de Ouro

Alan Greenspan, "A Regra de Ouro - a razão pela qual a China está a comprar" - Foreign Affairs - 29 de Setembro de 2014

"A questão de fundo - o regresso a um qualquer padrão-ouro - não está no horizonte de ninguém. Essa ideia tem poucos apoiantes num mundo em que, virtualmente, todos aceitam papel-moeda e taxas de câmbio livres. No entanto, o ouro tem propriedades especiais que nenhuma moeda, com a excepção da prata, pode reivindicar. Durante mais de dois mil anos, o ouro gozava do estatuto de meio de pagamento inquestionável e não exigia garantias de crédito a terceiros. Não se levantavam questões quando, o ouro ou títulos directos sobre ouro, eram oferecidos em pagamento de uma obrigação.

Nos dias de hoje a aceitação de papel-moeda - moeda sem ligação a qualquer activo com valor intrínseco -, fundamenta-se na garantia de crédito das nações soberanas com poder efectivo de taxar. Mas essa garantia não consegue igualar o estatuto, que o ouro possui, de ter aceitação universal."
Surpreendente este artigo. Seja pelo momento em que é publicado, mas também por ser escrito por Alan Greenspan. Assistimos, neste momento, a uma correcção mais acentuada do que muitos previam nos metais preciosos, em especial depois de ocorrerem mudanças relevantes na estrutura e organização do próprio mercado.