terça-feira, 25 de novembro de 2014

Em defesa de um padrão monetário livre - parte II

Um modelo regulatório para um padrão-ouro livre



Publica-se aqui a segunda parte da série de artigos que Ken Griffith tem vindo a publicar no jornal do Gold Standard Institute.
A tradução e a edição dos artigos é da minha responsabilidade e foi autorizada pelo próprio autor.
A primeira parte pode ser lida aqui.

"Em defesa do padrão-ouro livre” – Ken Griffith, "The Gold Standard Institute Journal #43", Julho de 2014

A principal fragilidade que conduziu ao desaparecimento da primeira geração monetária do ouro digital foi a ausência de um modelo regulatório.
As primeiras empresas de ouro digital iniciaram a actividade como empresas regulares sem obterem as licenças necessárias para a prestação de serviços financeiros. Depois de terem crescido o suficiente para chamar a atenção das autoridades, foram impedidas de obter as respectivas licenças a maior parte delas enfrentou disputas legais e fechou.
Nos anos 90, os estados não tinham categorias regulatórias para sistemas digitais de pagamentos com reservas totais, por isso as empresas que fizeram os pedidos de licenciamento viram os seus pedidos negados.

O problema regulatório

De acordo com a visão apresentada na Parte I para o padrão-ouro livre, precisamos de um sistema de transacções de ouro digital, bem como plataformas eficientes de transacção do nosso ouro face às diferentes moedas envolvidas. A definição destas exigências, e os respectivos papéis, constitui-se como o trabalho de definição das instituições financeiras reguladas.
Em vez de pedir aos governos que criem novas regulamentações e enquadramentos legais para os sistemas de ouro digital, consideremos primeiro o contexto existente das instituições reguladas. A maioria dos países tem uma pirâmide de intituições financeiras com um banco central no topo, que se pode apresentar do seguinte modo:

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Radar

No final deste mês ocorrerá um referendo na Suíça acerca das suas reservas de ouro (repatriamento, reservas mínimas de 20% e proibição de vendas de ouro por parte do banco central suíço).
A Holanda procedeu, recentemente e em segredo, ao repatriamento das suas reservas de ouro que estavam em Nova Iorque.
A Holanda e a Alemanha tinham planos preparados para regressar a um padrão-ouro caso o euro caísse em 2012 (aqui e aqui). A preparação ocorria enquanto altos dirigentes diziam que a crise tinha passado... pois! Caso para dizer: cada um vai-se preparando e mantém essa preparação em segredo.
A novela continua. Acredita quem quiser.

Em defesa das sweatshops

Um dos mais persistentes mitos, que perdura até hoje no Ocidente, consiste na vilificação do sistema económico que possibilitou o crescimento sustentado per capita, fenómeno desconhecido na História até às revoluções agrícola e industrial (por comodidade, digamos, antes de 1800).  Mais do que a Marx ou a Dickens, estou convicto que é ao "progressista" complexo ideológico-educativo estatal que cabem as maiores responsabilidades na manutenção desta nefasta porque errada leitura histórica. Perspectiva que transpõem para as sweatshops do século XXI quando estas são, afinal, o passaporte para uma prosperidade que de outro modo seria impossível (como sucedeu na migração para as cidades - e para as fábricas - do século XIX fugindo da miséria e morte prematura). Pouco mais de 10 minutos que creio valerem mesmo a pena (vídeo legendado em português europeu).


quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A propósito

"Os fundamentos dos mercados acabam por estar comprometidos após tanta intervenção”


Aproveitando o mote da Conferência promovida pelo Instituto Ludwig von Mises Portugal e a disponibilidade de algumas das pessoas que estiveram presentes, foi possível levar a cabo a entrevista que a seguir se apresenta. Procurou-se, não só marcar o momento importante da chamada pela Liberdade, mas também registar algumas reacções às ideias e argumentos explorados ao longo da Conferência.
Agradeço, em nome da equipa do Espectador Interessado, a disponibilidade de André Campos para partilhar aqui as suas impressões e a ideia de que é intenção do ILvM promover, num futuro próximo, mais iniciativas como esta.

LV – Quais foram os objectivos da conferência organizada pelo Instituto Ludwig von Mises Portugal no passado dia 1 de Novembro?
André Campos (AC): No fundo, o Instituto Ludwig von Mises Portugal (ILvM) já existe, de forma oficiosa, há cerca de três anos. Contudo, nesse molde, estávamos limitados a pequenas iniciativas esporádicas. Recentemente surgiu um interesse por parte de algumas pessoas, nomeadamente o Guilherme Marques da Fonseca e o Alexandre Mota, além de mim próprio e outros que se juntaram a nós, em oficializar o ILvM e traçar metas mais ambiciosas. Queríamos dar expressão aos ideais do Liberalismo Clássico e da Escola Austríaca da melhor maneira e esta II Conferência do Liberalismo Clássico – Call for Liberty foi o pontapé de partida de um conjunto de iniciativas que o ILvM está a pleanear para 2014/2015.

LV – Do conjunto das intervenções e das ideias apresentadas quer destacar alguma?
AC: Achei que, de uma maneira geral, os temas eram muito interessantes e pertinentes considerando o momento actual. Apreciei todas as intervenções e creio que o importante foi a mensagem subjacente de liberdade, propriedade e paz. Hoje em dia existe uma tendência generalizada para a desresponsabilização pessoal, substituindo-se o papel do indivíduo pelo estado, ou seja, pelo colectivo. Olhamos para o estado como solução para quase tudo e nesse processo perde-se aquele que é, por definição, um dos direitos fundamentais, natural e inalienável, do ser humano: a liberdade. É essa a tendência que iremos tentar contrariar através do nosso trabalho no ILvM.
Posto isto, e para referir alguém em particular, confesso que fiquei muito agradado com a excelente intervenção do José Bento da Silva no painel acerca do Impacto das Finanças Públicas nas empresas. Não o conhecia bem antes desta conferência, ao contrário de todos os outros palestrantes, e achei que, juntamente com o André Azevedo Alves, tiveram intervenções muito interessantes.
Quanto às ideias apresentadas, creio que o desmascarar das falácias Keynesianas é sempre fulcral. Há tanta gente que ainda adere às vetustas ideias – precisamente os ensinamentos de Keynes - que contribuíram para o estado de sítio que se vive nas economias desenvolvidas e no sector financeiro actualmente. Por outro lado, foi também muito bom que se pudesse introduzir o tema da “Guerra contra as drogas” por parte do meu companheiro Guilherme Marques da Fonseca. É uma daquelas questões que remetem muito para a liberdade individual e uma discussão séria nesse sentido é sempre algo a que não podemos virar a cara.

LV – Daniel Lacalle traçou um cenário muito pormenorizado da realidade económica e financeira mundial, dada a sua experiência como gestor de fundos de risco. Acompanha a descrição feita quanto à subida nos mercados bolsistas e consequentes volatilidades nas paridades monetárias?
AC: Antes de mais devo adiantar que não sou analista financeiro ou gestor de fundos, sou apenas uma pessoa interessada na matéria e com ligações ao ramo através de outras funções. Dito isto, creio que os mercados bolsistas ainda têm espaço para subir no curto/médio prazo, mas estou bastante preocupado com o longo prazo.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Em defesa de um padrão monetário livre

O dinheiro num mercado livre



Inicia-se hoje a publicação de um conjunto que artigos que Ken Griffith tem vindo a publicar no jornal do Gold Standard Institute. Os diferentes artigos que iremos publicar são dedicados à análise das potencialidades, das dificuldades e soluções para a construção de um novo padrão monetário. A novidade central nesta reflexão, ancorada na experiência e no passado recentes, é a ideia de que esse padrão pode ser implementado pela iniciativa livre dos cidadãos, sem necessidade da sua imposição por parte do estado. Importa sublinhar, especialmente nesta primeira parte, que esta reflexão assenta num conhecimento das necessidades monetárias do mercado, bem como na análise de tentativas recentes para a implementação de um padrão monetário livre.
A tradução e a edição dos artigos é da minha responsabilidade e foi autorizada pelo próprio autor.


"Em defesa do padrão-ouro livre” – Ken Griffith, "The Gold Standard Institute Journal #42", Junho de 2014

Nasci em 1971, três meses depois de Richard Nixon ter emitido uma lei que obrigava ao abandono da ligação entre o dólar e o ouro. Durante toda a minha vida, ouvi defensores do ouro e economistas austríacos lamentarem-se do desaparecimento do padrão-ouro, bem como o clamor de um regresso a ele. O propósito deste artigo é indagar se um novo padrão-ouro pode ser constituído através da iniciativa e acção privadas. A esta meta darei o nome de “padrão-ouro livre”.

Após anos de estudo e reflexão acerca destas matérias, cheguei à conclusão de que o padrão-ouro imposto por um estado e gerido por um banco central não resolveria o problema que enfrentamos relativamente à moeda que usamos. Políticos e dinheiro honesto são como azeite e água – não se misturam. Os políticos e os governadores dos bancos centrais são exímios na desvalorização da moeda, caso os deixemos controlá-la. Não há nenhuma nação que, tendo monopolizado a produção de moeda, esteja a salvo dessa tentação.
Julgo que o único modo de o mundo voltar a ter um verdadeiro padrão-ouro será se ele for alcançado através do livre mercado, sem intervenção estatal.

A primeira tentativa – a era do ouro digital

O leitor talvez não saiba, mas existiu um breve período (1996 até 2008) em que existiu um sistema monetário fundado no ouro. Liderado pela empresa e-gold.com, a “economia do ouro” através da internet cresceu ao ponto de representar 80 toneladas de ouro/ano de transacções entre utilizadores. No seu ponto alto, existiam sete entidades digitais emissoras e uma rede internacional de agentes e dois milhões de titulares de contas. O ouro digital era a forma mais rápida e barata de mover dinheiro à volta do mundo. O ouro mudava de mãos – como meio de pagamento – numa razão de 78 transacções por utilizador/ano.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

No pasa nada! Que são vinte anos, afinal?


O Tribunal e Contas da UE (European Court of Auditors) recusou apor a sua assinatura no relatório da execução orçamental de 2013 apresentada pela burocracia de Bruxelas. Há vinte anos consecutivos(!) que tal sucede sem que nada de relevante aconteça para além de palavras pias e vagas promessas de introdução de mais e melhores controlos burocracia por parte da Comissão Europeia. Coisa que parece não incomodar as consciências profissionais dos profissionais da "Europa". Nada parece assim ter mudado de substantivo desde este apontamento sugerido pela leitura do livro de Marta Andreasen que, à semelhança do que antes dela tinham feito Bernard Connolly e Paul van Buitenen, demonstra à evidência que o que se passa sob as monstruosas construções burocráticas só é (levemente?) identificado pela acção dos whistleblowers, quase invariavelmente à custa de fortíssimas penalizações pessoais. A eles devemos o (pouco) que sabemos.

Radar

"Acumulam-se os relatos de investigações feitas aos maiores bancos do mundo. Das taxas interbancárias à negociação de futuros monetários, não deixando de parte as intervenções ilegais no mercado dos metais preciosos (aqui e aqui). Os verdadeiros negócios que estas "empresas" fazem devem ser de tal magnitude que permitem fazer face às multas como se de um simples custo de operação se tratasse.
Seguramente, desconhecemos muito do que se passa.
Fazer perguntas incómodas? Manter espírito crítico face à "realidade depurada"? "Isso é para amantes de teorias da conspiração".
Claro.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Citação do dia (177)

«No processo político há um "triângulo de ferro" formado pela interacção de três grupos de pessoas. Há os que perseguem interesses especiais, que procuram obter favores e privilégios por parte do estado à custa dos consumidores, concorrentes e contribuintes; há os políticos fornecedores de favores e privilégios atribuíveis pelo estado em troca de financiamentos às campanhas eleitorais e votos; e há os gestores burocráticos do sistema regulatório, intervencionista e redistributivo, que estão constantemente à procura de formas e meios de expandir a sua autoridade e aumentar os seus orçamentos como vias para a obtenção de mais poder e oportunidades de promoção e de salários mais elevados.»
Richard M. Ebeling

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Metafísica monetária e financeira

"Estar nos pináculos do jornalismo económico é estar ao nível do mar"

A conferência que a seguir se apresenta é constituída por duas partes. Ela começa pela apresentação da realidade quantificada, aquela que é medida e aquela que é possível projectar a curto-prazo.
A segunda parte (passados uns bons 20 minutos) é uma análise qualitativa, levada a cabo com frontalidade e ironia, da realidade que os "mandarins financeiros" forçam a existir. A análise inicia-se pela definição da substância das taxas de juro e o seu papel. Seja num sistema capitalista ou no verdadeiro "Truman Show" em que vivemos, no qual imperam o padrão-doutor e a distorcida visão metafísica de se poder ter algo a partir de nada.
A primeira parte da conferência é levada a cabo por Marc Seidner para a apresentação do que é. A segunda e substancial parte é conduzida por James Grant, na tentativa de identificar que consequências resultam da deturpação daquilo que é. Um profundo exercício de clarificação metafísica, desenvolvido com conhecimento, simplicidade, realismo e boa-disposição.

Votos de um excelente fim-de-semana.

Eleições 2014 nos EUA

Barack Obama tem sido alvo de muitos dos meus posts num registo invariavelmente muito crítico. Talvez se esperasse por isso que esta fosse uma oportunidade para saudar a grande derrota eleitoral que acaba de sofrer nas eleições intercalares. Não é assim. Na frente interna, à parte um ou outro sinal de "diferença" (como o pipeline Keystone), o mais provável é que o garrote da regulação se limite a abrandar o ritmo do seu crescimento e que um programa como o Obamacare seja rebaptizado após sofrer uma qualquer cosmética envolta numa tão vigorosa como vazia retórica. Na frente externa, há todas as razões para temer que o intervencionismo se agrave seriamente (com mais tropas colocadas no "terreno"). Parecem-me assim certeiros os tweets de Ron Paul. O grande Gordon Tullock, falecido na véspera do acto eleitoral, já havia sentenciado a sua opinião quanto à (in)utilidade das eleições neste vídeo de há seis anos atrás (num outro registo, um clip célebre de George Carlin). Sheldon Richman, vice-presidente da Foundation for Economic Freedom, também invoca Tullock no texto que escolhi hoje partilhar e onde expressa o seu pensamento sobre a arrogância dos políticos e a pretensão do conhecimento que lhes subjaz.

Por Sheldon Richman
6 de Novembro de 2014

Eleições 2014 nos EUA: Boas e Más Notícias

Das eleições intercalares de 2014 resultaram duas notícias: uma boa e uma má. A boa notícia é que os vencidos perderam. A má é que os vencedores ganharam.

Sheldon Richman
O jornalista Mike Barnicle diz que nunca assistiu a umas eleições em que as pessoas se sentissem tão distantes da governação. Eu gostava que o diagnóstico dele estivesse correcto, mas suspeito que não esteja. É verdade que a afluência às urnas não terá provavelmente estabelecido recordes para umas eleições intercalares. Mas isso, mais do que um sinal de alienação do processo eleitoral, é um indicador de repulsa para com o elenco particular de incumbentes. Quem não sentiria repulsa?

Apesar do que os eleitores possam pensar, isto não tem nada a ver com a personalidade e o carácter. Respeita antes aos limites da natureza humana. Ninguém está qualificado para nos governar, considerando o que se entende hoje por "governar". Os governos - federal, estadual e local - tentam administrar todos os aspectos das nossas vidas. De várias maneiras, propõem-se "pôr a economia em movimento" e a mantê-la a "trabalhar". Além disso, o governo federal mantém um império global ao serviço do qual o aparelho de segurança nacional tem a pretensão de gerir sociedades estrangeiras.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Radar

Pode um produto esgotar-se por excesso de procura e o seu preço descer?
Pode. Basta que seja um metal precioso, que possua uma história e propriedades únicas. E que seja objecto de interferências por parte das várias partes interessadas neste jogo de papel.
Aproveitar a oportunidade para comprar prata (ou ouro, tanto faz) pode revelar-se mais difícil. A U.S. Mint esgota inventário dada a procura desenfreada - ver aqui e aqui.
"Não há nada para ver aqui. Continue."
Pois...

Passos importantes

Novos ciclos, novas oportunidades

E se a oportunidade surgisse para poder receber o proveito do seu trabalho em metais preciosos? Em Singapura, isso é possível. Até a resposta às exigências fiscais são acomodadas.
O primeiro vídeo - um sinal de que é possível fazer investigação jornalística - concentra-se a mostrar como uma empresa paga os salários dos seus trabalhadores em metais preciosos. Nota: os trabalhadores podem recusar essa possibilidade.
Simples, não é?

O segundo vídeo - outra prova de que pode haver lugar para visões diversas no oficial nevoeiro mental - é uma entrevista a Koos Jansen. A sua investigação acerca do mercado do ouro (internacional, mas especialmente chinês) vingou. Ou seja, os números que, desde o início do ano, Koos tinha publicado acerca da procura chinesa de ouro foram confirmados. Não pelas instituições ocidentais (World Gold Council, LBMA), que simplesmente ignoraram a investigação de Koos, mas pelas autoridades chinesas.
Aquelas instituições apontavam números para a procura chinesa em 2013 a rondar as 1170 toneladas, contra as 2200 toneladas avançadas pelo investigador independente que escreve desde a sua casa na Holanda. Não esqueçamos que os chineses são adeptos da discrição quanto às suas movimentações estratégicas, pelo que este facto tem uma dimensão muito, muito importante.
Como evidência da qualidade da sua investigação, Koos acabou por ser recrutado por uma empresa de Singapura (BullionStar, a mesma que aparece referida no primeiro vídeo) como investigador para o mercado dos metais preciosos. Para além de ser também consultor da Gold Anti-Trust Association.



terça-feira, 4 de novembro de 2014

Compensa errar redondamente anos a fio (pelo menos € 125 milhões):

Assisti, observando uma recatada distância, aos vigorosos protestos das entidades domésticas "produtoras de ciência" que se sentiram injustamente excluídas da fatia do orçamento do estado a que julgavam ter "direito" alegando deficiências no processo de avaliação encomendada pela FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia. O meu propósito não é o de questionar a bondade (ou falta dela, de tal processo - não tenho competência para tal. Todavia, não consigo - é superior a mim mesmo - deixar de achar estranhíssima a escala de avaliação utilizada ainda que saiba que ela é internacionalmente utilizada: "Insuficiente", "Razoável", "Bom", "Muito Bom", "Excelente" e "Excepcional". Mas com uma tal escala é de estranhar, neste país de excelência, que mais de 55% das 322 instituições avaliadas ocupem os três últimos graus da escala, por sinal aqueles que conferiam o "direito" ao bolo orçamental relevante? E ainda há quem se admire com a inflação nas classificações dos alunos ("grade inflation") dos bancos da escola primária até à universidade? Enfim.

Vem este longo intróito a propósito da recente decisão tomada pelo governo britânico de dotar o Met Office (uma agência estatal do Reino Unido) de um novo supercomputador, com o custo de 125 milhões de euros, para melhorar a qualidade das previsões meteorológicas e da "evolução do clima" a 100 anos de distância (!). Isto, cinco anos depois de os contribuintes britânicos terem pago 40 milhões de euros por um outro supercomputador invocando os mesmíssimos motivos. Um breve fact-checking referente à qualidade das previsões "climáticas" do Met Office - um dos mais notáveis centros de difusão alarmista do aquecimento global - nos últimos 10 anos, permite legitimar sérias dúvidas da sua razoabilidade, embora saiba que, nos tempos que correm, é uma heresia passível de excomunhão irrevogável duvidar da bondade de todo e qualquer "investimento em ciência". Para o efeito, irei socorre-me da excelente memória de Christopher Booker:

Imagem daqui
«Em 2004, [o Met Office] previu que o mundo em 2014 aqueceria 0.8ºC e que em 4 dos 5 anos após 2009 seria batido o recorde alcançado em 1998, "o ano mais quente de sempre". Em 2007, o computador do Met Office previu que aquele seria "o ano mais quente de sempre", justamente antes de as temperaturas globais terem baixado 0.7ºC, o equivalente a todo o aumento verificado no século XX. O Verão iria ser "mais seco que a média", precisamente antes das piores cheias de sempre.

De 2008 a 2010, os modelos previram consistentemente "Invernos mais quentes que a média" e "Verões mais quentes e secos que a média": três anos em que a maior parte do hemisfério norte registou recordes de frio e neve; no Reino Unido, salientando-se o prometido Verão de "churrasco" de 2009, verificaram-se Verões mais chuvosos e frescos do que o habitual. Um triunfo particular foi alcançado, em Outubro de 2010, quando foi anunciado que o Inverno iria ser "2ºC mais quente que a média", justamente antes do mais frio mês de Dezembro verificado desde que se iniciaram os registos em 1659.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Radar

A campanha a favor do sim no refendo suíço para a repatriação e reconstituição das reservas de ouro do banco central suíço (Swiss Gold Initiative), ainda nem começou, mas os seus promotores já começaram a sentir as consequências da sua ousadia. Levadas a cabo do mesmo modo que as intervenções no mercado do ouro, as pressões e acções inusitadas já se podem identificar e fazer sentir. Neste caso, sobre uma empresa que está a recolher donativos e vai liderar a campanha nos meios de comunicação social a favor do sim. Leia-se - "Um caloroso agradecimento": A Paypal retirou a possibilidade de indivíduos poderem fazer donativos para a campanha, usando o seu sistema de transacções.
Atente-se nas razões apresentadas. A tensão cresce. Desespero?

domingo, 2 de novembro de 2014

A quarta derrota britânica no Afeganistão

Depois da extraordinária herança deixada no Iraque, os Estados Unidos e os seus aliados, obtido um novo "sucesso" politico-militar no Afeganistão, encetam mais uma retirada de tropas, concluída que está, supostamente, a "missão" que justificou o seu envio. Como em outras ocasiões, deixam por lá um contingente de "conselheiros" e "instrutores" para auxiliar a integral assumpção das responsabilidades de segurança pelo exército (?) local. Deixam também uma florescente indústria do ópio (e heroína), droga com presença assídua nas guerras asiáticas em que as potências imperiais ocidentais participaram desde o século XIX até aos dias de hoje. É este o tema do artigo de Eric Margolis que me propus partilhar traduzindo-o. Margolis usa o seu profundo conhecimento no "terreno" da região cruzando-o com o sempre instrutivo e necessário enquadramento da história contemporânea da região.
Por Eric Margolis
1 de Novembro de 2014

Ninguém ousa classificá-la como uma derrota

Eric Margolis
Os últimos soldados britânicos saíram do Afeganistão na semana passada por via aérea, assim marcando o triste fim da quarta invasão falhada do Afeganistão pela Grã-Bretanha. Foram acompanhados pelo último destacamento de fuzileiros navais dos EUA que estava sediado em Helmand.

Muito tem feito o Afeganistão por merecer o epíteto de "cemitério de impérios"!

Para ser mais rigoroso, esta honra pertence às tribos pashtuns das montanhas do Afeganistão, que não dobram os seus joelhos perante ninguém e se orgulham do seu espírito guerreiro.

No meu livro, "War at the Top of the World" ["Guerra no Topo do Mundo" - NT], escrevi que os pashtuns eram "os homens mais valentes ao cimo da Terra". Mais tarde, acrescentaria os ferozes tchetchenos àquela fraternidade ilustre.

Os velhos imperialistas desapareceram, mas a ocupação do Afeganistão continua. O novo regime de Cabul, recém-instalado por Washington para substituir o anterior aliado e pouco cooperante Hamid Karzai, apressou-se a assinar um "acordo" que permite aos Estados Unidos manter cerca de 10 mil militares no Afeganistão por mais uns anos. Os seus membros não terão de observar as leis afegãs.

Todavia, há muito mais coisas neste arranjo. As tropas de combate dos EUA, diplomaticamente rotuladas de "instrutores" ou de "forças anti-terroristas", não são suficientemente numerosas para controlar todo o Afeganistão. A sua missão é a de defender o governo fantoche de Cabul do seu próprio povo e a crucialmente importante base aérea americana de Bagram.

sábado, 1 de novembro de 2014

Inflação - estatísticas oficiais e o exemplo do desporto

Por que razão uma decisão de aumentar (ainda mais) a insana impressão de dinheiro digital parece conduzir directamente à acumulação de recordes sobre recordes nos índices bolsistas? Terá o leitor dado conta que, por exemplo, o NASDAQ regressou aos valores que tinha em Março de 2000 quanto rebentou a bolha dotcom? Por que razão assistimos em paralelo ao estabelecimento de novos recordes no mercado da arte? No imobiliário e particularmente na altura dos arranha-céus? E nos mercados desportivos, objecto do artigo de Simon Black que hoje me propus partilhar? Porquê esta inflação direccionada mas galopante dos preços quando, em simultâneo, ouvimos incessantes avisos contra o iminente perigo da deflação?

Por Simon Black
31 de Outubro de 2014

Como as remunerações e passes dos atletas revelam a verdadeira taxa de inflação
(No inflation Friday: How sport salaries reveal the true rate of inflation)

A nova temporada da NBA [principal liga americana de basquetebol profissional - NT] começou esta semana. E com ela uma nova massa salarial para 2014-15. Corresponde a um aumento de 7,5% e atinge agora um nível recorde de 63 milhões de dólares.

Mais um "recorde de todos os tempos" num mundo onde tudo parece estar a chegar à Lua.

A massa salarial na NBA aumentou apenas marginalmente nos sete anos anteriores. Passou de 55,6 milhões de dólares por equipa na temporada 2007-08, para 58,7 milhões em 2013-14, um aumento de 5,6%.

Foto daqui
O aumento agora verificado superou em muito este último. Acréscimos semelhantes têm vindo a verificar-se nos diferentes desportos. Tomemos o desporto mais popular em todo o mundo - o futebol - como um exemplo credível.

Instrutivo

A propósito de uma solicitação de um leitor surgida na caixa de comentários do post anterior e da velha ladainha segundo a qual, não sendo possível extrair "rendimento" da posse de ouro físico, a constituição de poupanças materializadas em metal amarelo constituiria uma aplicação sempre especulativa. 


Gráfico da Gold-Eagle, via EPJ